04. O obscuro caso
da licenciatura arrelvada
Configura um quadro de
abrangentes anormalidades mui lesivas das imagens do Ensino Particular e dos
respectivos docentes e discentes que, sobremodo, confrange e preocupa.
Considerações finais
Por: Brasilino Godinho
01. Licenciatura arrelvada. Esta, a
nódoa existente no pano de fundo do Ensino Superior.
E algures, (pasme-se!) esboçando-se em sede
governamental, a perspectiva de um redentor(?) branqueamento.
Actualmente, vão transparecendo indícios
que apontam no sentido de que, em Lisboa, se providencia a constituição de um
grupo de pressão conotado com o governo, com o objectivo de desencadear um
processo de branqueamento da nódoa do grande pecado a que chamamos a licenciatura arrelvada – a qual, foi atribuída ao
ministro dos Assuntos Parlamentares.
Permitimo-nos opinar que a estapafúrdica
tarefa da limpeza de uma mancha tão entranhada no tecido arrelvado, concernente
ao aludido processo, terá uma dimensão hercúlea - o que, à primeira vista,
parece ser, de todo, incompatível com quaisquer artes manipuladoras e
malabarismos usualmente utilizados em casos semelhantes pelos agentes
especializados que integram o específico mercado político que se dedica a tais aliciantes
actividades…
02. A
incontestável realidade
Mais acreditamos que, obviamente, essa peculiar
tarefa especializada, sobrevinda de um despudorado sonho, tido em manhã de
denso nevoeiro, pairando sobre a zona ribeirinha do Terreiro do Paço, da
alfacinha cidade, está irremediavelmente condenada ao insucesso. Uma nossa crença
que se baseia na incontroversa realidade; a qual - é de sublinhar - se
configura em cada uma das componentes do obscuro processo de atribuição da licenciatura arrelvada, a saber: a natureza da fraude, os termos das classificações das disciplinas e da
atribuição do grau, os inconcebíveis créditos, os vários ilícitos praticados, a
estranha anormalidade de todo o currículo, o escândalo da atribuição do diploma
e, finalmente, a indiscutível nulidade da referida licenciatura arrelvada
– que o é, por que convenientemente adornada e formatada de pedaços de relvas,
entrelaçados à medida das conveniências e das insuficiências académicas do
sujeito de compleição arrelvada que é, definitivamente, um licenciado falso. Se,
acaso, o leitor preferir… uma designação mais sonante, digamos: um falacioso
licenciado. Ou seja: um licenciado de coisa nenhuma. Os dados conhecidos são
expressão visível e convincente dessa realidade insofismável; a qual, está bem
à vista de toda a gente. Por certo, um caso único em Portugal; eventualmente,
sem análogo nos chamados países do terceiro mundo.
03. A falácia da
perseguição (dita pessoal) a Miguel Relvas
Num mundo português tão heterogéneo,
abrangente, subterrâneo, minado, confuso, poluído, corrupto, pantanoso, onde germinam
e se desenvolvem meios poderosos, múltiplos interesses, inúmeros tráficos de
influência, mil e uma manobras de subversão de valores e de princípios e, até
(veja-se ao ponto extremo a que chegámos) formas ignóbeis de destruição do
tecido social, é possível que - sendo o caso Relvas, ora posto em causa, um
exemplo de todo o quadro tenebroso já aqui, nos antecedentes textos, exposto na
sua crueza - também nele esteja incluída alguma perseguição pessoal. Lá diz o
ditado:”Quem anda à chuva, molha-se”,
apesar dos cuidados de protecção.
Mas, uma perseguição a Miguel Relvas
movida por interesses poderosos? Quais serão? E estes, serão mesmo mais fortes
do que aqueles que movem Relvas? Que sabemos nós de uns e de outros? Porém, a
hipotética perseguição a Relvas nada tem a ver com a essência da questão da licenciatura arrelvada.
Tal ideia maquiavélica, com acentuada marca intencional de dar a volta por cima, visará desviar a atenção para algo pessoal, abstracto,
marginal, absolutamente irrelevante na sociedade portuguesa. Outrossim e
sobretudo, tentando desvalorizar o aberrante tema da falcatrua académica; esta,
sem margem para dúvidas, uma anomalia que, inegavelmente, tem implicações de
extrema gravidade a diversos níveis e que, afinal, desqualifica, subverte e descredibiliza
o Ensino Superior.
04. Alguém
já sugeriu: “Retirem a licenciatura a
Relvas e acabe-se com a história”.
Interrogamos:
como assim?
De facto, seria a justa e apropriada
punição para quem se presta a tamanha indignidade. Porém vaticino que isso nem
se verificará, devido às protecções de que Relvas dispõe no governo e em meios
poderosos e influentes que lhe são adjacentes ou fraternais.
E ainda, assinale-se, porque os ditos
amparos estão implícitos na dupla premissa da lógica e manipuladora funcionalidade,
que inspirou (melhor dito, motivou) a criação de algumas universidades
particulares: a de proporcionar bastantes facilidades de branqueamento de
capitais e a de facultar aquisição expedita, rasteira, de diplomas
universitários, por parte dos meninos e meninas das jotas dos partidos do arco governamental. Pelo que hoje se sabe,
tem sido uma grande bagunça, associada a um invulgar regabofe. Com as previsíveis
e brilhantes(…) consequências que se vão conhecendo. De que são exemplos
emblemáticos os numerosos casos de “especialistas”
em várias áreas, com a provecta(…) idade de 25 anos (ou um poucochinho mais) que,
actualmente, enxameiam, decoram, animam e cobram balúrdios nos gabinetes
ministeriais.
Apesar dos aspectos negativos e
deploráveis deste patético e indecente quadro, festivamente e
irresponsavelmente criado e mantido ao correr do tempo, não se desvie a atenção
do grande problema suscitado pela licenciatura arrelvada do político Miguel Relvas: o
mau precedente e o péssimo exemplo de quem se dispensa do esforço e procura
meios equívocos e condenáveis pelo senso comum, para obter benesses de vária
ordem, inclusive graus académicos.
No caso Miguel Relvas, acresce o
descrédito da Universidade Lusófona e a descredibilização das graduações de tantos
estudantes genuínos que se aplicaram e trabalharam na aprendizagem, julgando
que as licenciaturas seriam factores de válido suporte às suas carreiras
profissionais. Mais: assim agressivamente expostos à colagem da vergonhosa
imagem a que ficarão sujeitos, concernente à marca ignominiosa da licenciatura arrelvada,
por certo que se sentirão deprimidos, envergonhados, traídos e, sobretudo,
frustrados nas suas legítimas aspirações e expectativas. E isto – não
esqueçamos – traduz-se em desastrosas consequências (materiais e psíquicas)
para as vidas de muitos jovens e dos seus familiares.
05. Todavia,
interpelamos:
Quem alimentará ilusões no que se refere
aos resultados da “investigação oficial”
sobre o caso Relvas? O mais provável é que no patamar decisório se engendre uma
jeitosa forma de assegurar ao
ministro Miguel Relvas a manutenção da imerecida, vergonhosa, licenciatura arrelvada – o que será mais um inequívoco reflexo do estado de
degradação moral, de menoridade cívica e de perversidade política, deste
desfigurado país.
Aliás, o despacho do ministro Nuno
Crato, ao estabelecer um prazo de 60 dias para a Lusófona reavaliar a
atribuição das licenciaturas nos moldes da de Relvas, já deixa antever qual
será o fim de tão estranho expediente. Ademais, o ministério do Ensino Superior
não teria outra maneira de actuar?
06. Ponderar,
é necessário!
Face às conclusões da Inspecção-Geral da
Educação e Ciência (IGEC), impunha-se agir de imediato, com severidade,
anulando o grau concedido a Miguel Relvas e sancionando a Universidade
Lusófona. Confiar à prevaricadora universidade o benefício da “mera advertência, a mais baixa que pode ser
feita” (expressão depreciativa do futuro alcance da decisão do ministro Nuno
Crato, que foi utilizada, com ênfase, pelo ministro Miguel Relvas) e, ainda, a
prerrogativa de a Lusófona, por mera casualidade, corrigir o procedimento, só
pode representar um perturbante expediente, assaz indiciador de contemporização
para com a situação fraudulenta criada e até agora persistente.
07. Anotamos:
O despacho ministerial, de imediato,
inculca a ideia de fingimento do rigor na resolução do problema. Com uma
insuportável correspondência: a de iludir os portugueses. Como se todos
fossemos uns patetas que, facilmente, se deixam intrujar. Isto (no que diz
respeito ao fingimento), a concretizar-se, é um abuso de confiança e de autoridade.
Imoral! Repulsivo! Intolerável!
08. A hipótese de
se estar preparando apetecido manjar para Relvas…
De modo que, tudo ponderado no seu
apropriado contexto, se pode admitir que os 60 dias concedidos pelo ministro
Crato darão tempo a algum gabinete de advogados, especializado na específica
culinária, confeccionar o apetecido manjar que será servido ao colega,
debilitado ministro Relvas… Então, este, pós repasto com final apropriadamente
assinalado com serviço de champanhe, e já num estado de euforia, poderá
proclamar: como sempre recomendei,
cumpriu-se a lei. Igualmente, segundo a lei das probabilidades, levado pelo
entusiasmo, até dirá: agora, posso dizer,
que estou em cima da lei!... Eventualmente, suscitar-se-ão muitos aplausos da
parte dos radiantes parceiros confraternais.
09. Dando
sequência à antecedente e desafiante interrogação “Como assim?”
Tem sentido a seguinte pergunta: Quem
acredita que o ministro Crato vai exarar um despacho a impor a anulação da licenciatura arrelvada do seu colega de governo, Relvas? E logo, sendo este
- para além de outros antecedentes relacionais de alguma relevância - um
ultra-protegido do chefe do governo.
10.
Pertinentes observações que nem são de implicância.
Porque me
revejo em valores e princípios que desde a infância me esforço por respeitar e
deles, por palavras, atitudes e actos, tenho dado testemunho público, sem
desvios e tergiversações, encontro-me frequentemente na primeira linha do
combate pelas grandes causas que dão consistência à vida do colectivo dos
cidadãos.
A série de
quatro textos sobre o caso da licenciatura arrelvada elaborados nos últimos dias,
cinge-se ao normal exercício dos deveres e direitos de cidadania que, nos
termos constitucionais, me são facultados. Igualmente, se enquadra no âmbito da
minha habitual actividade de cronista atento ao evoluir da sociedade
portuguesa.
Por isso,
estou à-vontade para aqui expressar as maiores reservas quanto à personalidade
de Miguel Relvas. Elas têm base de suporte no longo historial de trapalhadas em
que, ao longo dos anos, tem estado envolvido.
Nem sequer,
da minha parte, há qualquer animosidade pessoal com a pessoa Miguel Relvas, que
só conheço de nome e de figura profusamente exposta na montra pública dos
órgãos de comunicação social.
Aqui, abro o
seguinte parêntesis: quem é figura pública expõe-se e fica sujeito aos juízos
dos concidadãos. Terá, forçosamente, de conviver com essa contingência e
modelar a sua existência com redobrados cuidados no cumprimento dos deveres da
cidadania e das funções que desempenha e, ainda, na afirmação da sua impoluta
personalidade; prevalecendo-se, a todos os momentos, da valorização pessoal e
do correlativo, decorrente, benefício da grei.
11. A obrigação
cívica que se nos impõe
Por todas as
múltiplas razões que se poderiam evocar ou intuir no contexto desta nossa intervenção
cívica, uma obrigação se nos impõe: lutar em prol não só da instauração da
seriedade e da ética na Política e na Administração Pública; como, igualmente, em
favorecimento da imprescindível exigência da Nação acompanhar com rigor (ao
nível da tolerância zero) as actuações dos detentores do Poder.
Os agentes
que se envolvem na esfera de acção dessas estruturantes componentes da
sociedade portuguesa, têm de ser pessoas sérias, dignas, competentes, sem
sombras de pecados desonrosos e
ofensivos das obrigações cívicas e morais inerentes aos exercícios de funções
oficiais. Isto, entendido como uma norma impositiva que, direccionada à
consciência de qualquer cidadão, tem de prevalecer sobre tudo e sobre todos
quantos têm responsabilidades concretas ou fictícias na sociedade.
12. Um
combate que é imprescindível por uma razão básica:
O futuro de
Portugal está na EDUCAÇÃO autêntica
e no ENSINO
qualificado e credível.
Um futuro
que, insistimos, não se alicerça com gente que, sem estudar e frequentar as
aulas, obtém os diplomas académicos recorrendo a expedientes pouco abonatórios,
traficados por trás da cortina (localizada em recantos sombrios), inteiramente à
mercê ou por mercê de amigos, compadres e correligionários.
Concluindo
Tomemos
consciência de que a situação actual do país decorre, em grande medida, da clamorosa
impreparação dos governantes e das suas práticas oportunistas e malfazejas.
O estado de
decadência e de extrema miséria generalizada em que Portugal está mergulhado é prova
concludente da pouca valia da maior parte da classe política, que
desgraçadamente tem manipulado, a seu bel-prazer, o desgoverno de Portugal.
Fim
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