Leitor,
Pare!
Leia!
Pondere!
Decida-se!

SE ACREDITA QUE A INTELIGÊNCIA

SE FIXOU TODINHA EM LISBOA

NAO ENTRE NESTE ESPAÇO...

Motivo: A "QUINTA LUSITANA "

ESTÁ SITUADA NA PROVÍNCIA...

QUEM TE AVISA, TEU AMIGO É...

e cordialmente se subscreve,
Brasilino Godinho

domingo, outubro 14, 2012


Ao compasso do tempo…

E DAS TREVAS DO PATRIARCADO EMERGE
A BAÇA LUZ REFLECTIDA NO GOVERNO…
Brasilino Godinho

01. Das trevas e da baça luz

Quem diria que dos reservados e não expostos ao sol, aposentos do Paço de Santana, sito em Lisboa, surgiria, de supetão, o intransparente fluxo radiante que dir-se-ia fadado para induzir brilho e colorido de vistosos e atraentes tons naquele campo onde se situa a actual, desconchavada, anómala, desconcertante, governação de Portugal?
Ontem, dia 12 de Outubro, por acaso véspera do 13 de Maio, das grandes celebrações da Cova de Iria, aconteceu o fenómeno - qual milagre, que não sendo de Fátima, nem do Entroncamento, foi do Patriarcado de Lisboa.
Tal pretensiosa luminosidade sendo, já de si, por sua natureza, frouxa e deficientemente modelada na sua textura molecular e, obviamente, dirigida para um espaço coberto de névoa, cinzento, demasiado sombrio, não trouxe ao debilitado executivo qualquer brilho à sua imagem; qualquer achega a uma recuperação orgânica; sequer, incentivo à melhoria funcional de tão inoperante, nefasta, estrutura da Administração Pública.
Tratou-se de um evento que resultou num fiasco completo: quer no plano formal e devaneio pessoal do protagonista; quer no hipotético alcance de aliviar a pressão sobre os governantes; de lhes dar alguma cobertura; e, também, de justificar as gravosas medidas de austeridade que têm sido impostas com excessiva dureza e uma enorme falta de sensibilidade pelo sofrimento dos cidadãos, tão barbaramente atingidos na dignidade e nos direitos inerentes à cidadania.
O fenómeno configurou-se nas declarações do Cardeal Patriarca de Lisboa prestadas aos jornalistas. Delas, decorreu uma generalizada observação: a personalidade declarante ficou muito mal na fotografia. E os governantes nem minimamente beneficiaram com opiniões tão desajustadas à realidade da dramática situação que os portugueses estão penosamente suportando. E disso vêm dando conta os meios de comunicação social e as apreciações de inúmeras entidades.

02. O que disse Sua Eminência

Tem sido feita uma larga difusão das palavras do Cardeal Patriarca de Lisboa e das reacções que elas suscitaram. O que nos dispensa de grandes transcrições, até para não alongar demasiado esta crónica. Portanto, far-se-ão breves registos:
01. Desde logo, anota-se que o cardeal patriarca de Lisboa não teceu críticas ao governo.
Um facto que sendo raro, tem algo de milagroso - visto que “todo o mundo” julga desfavoravelmente o executivo chefiado por Passos Coelho.
02. Para ele, cardeal, “O que está a acontecer é uma corrosão da harmonia democrática e do nosso sistema constitucional”.
Nossa curiosidade: O que entende Sua Eminência por harmonia democrática? E harmonia do sistema constitucional?
03.º Diz que “Não se resolve nada contestando, indo para manifestações”.
Interrogamos: E suportar agravos, calar injustiças, sofrer, passar fome, não aceder a cuidados de saúde, perder o emprego, resolve alguma coisa? Haverá o colectivo dos cidadãos simplesmente amochar?
04.º Acrescenta: “A reacção colectiva a este momento nacional dá a ideia de que a única coisa que se pretende é mudar o governo. Meus queridos amigos não sei se é esse o caminho, nem tenho opinião a esse respeito”.
Observamos: Uma vez que o governo tão mal governa, se revela incompetente e determinado a arrastar o país para o abismo onde cabe a miséria de milhões de pessoas, a destruição da classe média e a ruína da nação, é agora a inadiável altura de demitir o governo e conferir posse a um governo de salvação nacional.
Também assinalamos que o cardeal patriarca de Lisboa se está dirigindo aos amigos; incógnitas criaturas que nem sabemos se são os governantes ou as pessoas que lhe estão mais próximas por relações de amizade ou de natureza religiosa e ideológica; quando seria suposto que se dirigia a todos os seus paroquianos. No entanto, é uma expressão não usual em encontros com jornalistas.
Outrossim, importa destacar que Sua Eminência não sabendo qual é “esse caminho”, nem tendo “opinião a esse respeito”, não se absteve de emitir presunções e formular juízos condenatórios das várias manifestações de protesto e de indignação que têm acontecido por todo o território nacional. O que releva de contraditório e de inconsequente no teor das suas declarações e na forma de expressar as suas mui discutíveis opiniões.
05. Adverte: “Sejamos objectivos e tenhamos esperança, porque penso, e há sinais disso, que estes sacrifícios levarão a resultados positivos – não apenas para nós, mas para a Europa”.
Atemo-nos ao singular facto de o senhor cardeal pensar. Talvez seja esse o mal da pessoa cardinalícia. Então ser objectivo é ter esperança? Qual a garantia da objectividade assentar nela? E é porque o cardeal pensa que a objectividade vai assentar nas consciências de todos nós, associada à sujeição impositiva da esperança que, milagre proposto, “estes sacrifícios levarão a resultados positivos”? Com a suprema benesse: “Não apenas para nós, mas para a Europa”? Fértil imaginação. Prognóstico fascinante…
Só que Sua Eminência esquece que inúmeros economistas fazem previsões com sentido realista, coincidentes com todos os indicadores que vão em sentido contrário. Até o próprio FMI coincide na previsão da continuidade do descalabro. Mais, reconhecem o grande falhanço das medidas de austeridade.
06. Termina com mais uma preciosidade(…) de linguagem inconsistente: “ Nós os bispos temos de ser muito discretos. Não nos compete a nós pronunciar-nos sobre situações concretas”.
Os jornalistas insistem e perguntam se a situação não é demasiado grave para os bispos ficarem em silêncio. O cardeal patriarca incorrendo numa contradição com a frase anterior, respondeu:”Quem disse que vamos ficar em silêncio?” Ele! Sim, o próprio cardeal.
“Os bispos têm de ser muito discretos”. Esta afirmação tem piada. Caso para se colocar a questão: Sua Eminência, na circunstância em causa, terá sido discreto?
“Não nos compete pronunciar-nos sobre situações concretas”. Com esta frase o antístite lisboeta, embora de um modo enviesado, acertou: pois as suas declarações referem-se a um mundo virtual, sem correspondência com a realidade. De facto, nem se pronunciou sobre a situação concreta de Portugal. O que terá sido uma habilidade e uma fuga às responsabilidades inerentes à cidadania e às implicações morais da alta função eclesiástica.
Tal divagação no “discurso” da entidade cardinalícia é de imediato rejeitada quando, respondendo aos jornalistas, lança no ar a pergunta: “Quem disse que vamos ficar em silêncio?”. Esta interrogação subentende um propósito de intervenção pública a acontecer no futuro; a qual, se formula em manifesta contradição com a citada contestação aos pronunciamentos sobre as designadas “situações concretas”.
Conclusão a extrair: muito desastrada e confrangedora a intervenção pública do cardeal patriarca de Lisboa; qual, incrivelmente generosa, descabida, excessiva, inteiramente absurda, bênção do venerável D. José Policarpo, aqui comentada.
Afinal: esta, a bênção patriarcal que faltava para compor o tenebroso quadro da desgraça nacional…
(Crónica escrita a13 de Maio de 2012)