Leitor,
Pare!
Leia!
Pondere!
Decida-se!

SE ACREDITA QUE A INTELIGÊNCIA

SE FIXOU TODINHA EM LISBOA

NAO ENTRE NESTE ESPAÇO...

Motivo: A "QUINTA LUSITANA "

ESTÁ SITUADA NA PROVÍNCIA...

QUEM TE AVISA, TEU AMIGO É...

e cordialmente se subscreve,
Brasilino Godinho

sábado, outubro 06, 2012


Estimadas senhoras,
Caros senhores,
Neste dia, 05 de Outubro de 2012, em que se celebra a proclamação da República e tendo presente que o governo extinguiu o respectivo feriado e que o Comandante Supremo das Forças Armadas, presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, hasteou a bandeira nacional na Câmara Municipal de Lisboa, em posição de “pernas para o ar”, assim informando o País de que o território nacional está ocupado pelo inimigo, segundo o que é preceituado pela instituição militar; algumas pias almas oportunistas, saudosas de um extinto regime perdido na voragem do tempo, apressaram-se a evocar a monarquia com a vaga esperança de em breve ela ser restaurada.
Perante este quadro de infortúnio que não é fictício mas verdadeiro, em que o povo sofre dolorosamente e está, indefeso, sob o jugo de inimigos internos e externos, faz algum sentido fazer-se uma reflexão que se afigure apropriada à gravidade da explosiva situação, com natural e inequívoca rejeição de soluções menos apropriadas e oportunistas que, certamente, se adoptadas, representariam um retrocesso sociopolítico de incalculáveis e danosas consequências para a grei portuguesa.
Daí, que a mencionada reflexão que me propunha desenvolver incida sobre a suscitada questão monárquica.
Se bem me lembro, passaram dez dias sobre a data em que D. Duarte Pio declarou que a Monarquia seria a única via para dar ao País eficaz rumo de reabilitação. Também se subentendia que ele, em pessoa e suprema majestade seria, naturalmente, o providencial guia, o destemido impulsionador e o premunitivo garante do êxito de tão necessário desígnio nacional.
Agora - e para não “chover sobre o molhado”, como diria qualquer simpática, bonita, espampanante, garota de Ipanema ou desinibido Zé sambista de Copacabana - ao decidir comentar as declarações da conhecida entidade monárquica, lembrei-me de uma crónica, que publiquei em 04 de Setembro de 2006, na qual a criatura emblemática da realeza de matriz portuguesa era focada com minúcia, objectividade e… alguma ironia.
Pelo que considerando que a aludida reflexão está, afinal, razoavelmente expressa na crónica atrás citada, hei por bem republicá-la, dada a sua plena actualidade. Aqui a apresento.
Brasilino Godinho

Segunda-feira, Setembro 04, 2006

Um texto sem tabus…
AI! SE O RIDÍCULO MATASSE…
LÁ IA À VIOLA UM DUQUE…
Brasilino Godinho
Sim! Sua Alteza corria enorme perigo… Nem Santa Quitéria, apesar de seus dons de benevolência e misericórdia, lhe valeria… Exactamente, por causa do Duque não meter a viola no saco…
O pio Duque que aspira a ser Rei de Portugal, dos Algarves e de Timor (sem descartar um hipotético título de Imperador num restaurado império do Brasil ou mesmo a remota possibilidade de ser num dia de São Nunca o embevecido sogro da futura Rainha de Espanha…) é pessoa com duas personalidades distintas. A primeira delas, configura-se num indivíduo aparentemente sem malícia a inquietar-lhe a alma, com estatura média, que teve o engenho e a arte de criar e manter emblemático bigode bem trabalhado e melhor delineado no seu geométrico formato, assente no plano inferior de um fácies inexpressivo onde sobressaem dois olhos de manso cordeiro pascal. Um distinto sujeito que no Inverno, qual abastado latifundiário, veste samarra alentejana e no verão traja fatiota a dar impressão de aristocrata inglês com grande influência na City de Londres e assento na Câmara de Lordes britânica. Possui refinadas qualidades de compenetrado patriota, expedito lavrador, exímio motorista de tractor agrícola, entusiasta empreendedor imobiliário numa rua (de apelido Cardoso) de tristíssima memória. Pela-se por aparecer retratado nas capas das revistas de frivolidades e deslumbra-se, com visível satisfação, sempre que é filmado pelas câmaras das televisões. Inegavelmente, um respeitável chefe de família, babado pai de criancinhas lindas, encantadoras, precocemente submetidas aos bafientos espartilhos dos formalismos e rituais que integram o convencionalismo régio. O seu trato é simples e afável. Sobretudo, estamos perante um ser melífluo. Tão melífluo que parece destilar mel e doçura através da voz, do sorriso tímido, do gesto comedido, da atitude estudada. Dir-se-ia uma personalidade programada ao computador até ao pormenor da mínima denotação comum à espécie, para se insinuar no espírito dos interlocutores ocasionais. A segunda personalidade depara-se aos indígenas transfigurada num ensimesmado cavalheiro que, em determinadas ocasiões, se convence ser dono e senhor de um imaginado Reino de Portugal. Um reino magnífico, de flores e bem-aventuranças dadas pelo régio, magnânimo, senhor, aberto a todas ilusões, concebido à medida do Duque, por obra e graça da Divina Providência: nele, o Duque, cativo da sua delirante imaginação, admite poder contemplar-se, porque escudando-se (reparem na presunção e na água benta…) no presumido assentimento da plebe. Esta, fatidicamente aturdida pelo malfadado sortilégio a que teria sido conduzida pelos cânticos das sedutoras sereias ungidas pelo putativo monarca. E aí, nessa pose atrevida e displicente, mais o famoso Duque se assemelha a um reizinho de opereta castelhana. A nobre criatura nem se apercebe dos tons e dos sons grotescos de alguns dos seus actos ou da vacuidade impressiva nas declarações inconsistentes e hilariantes que vai fazendo de quando em vez. A muita gente causa estranheza que os solícitos conselheiros não intervenham a tempo de evitar os deslizes da inconfundível figura. Embora seja certo que das escorregadelas do senhor Duque não vem mal ao mundo, nem agravo das condições de vida dos portugueses. Mas para a lavada e higiénica imagem de pretendente ao Trono de todas as suas fantasias monárquicas é prejudicial e desabona-o. Aliás, para a opinião pública, ele é um incansável contribuinte para as cenas do famigerado espaço televisivo “Contra-Informação” e um bem sucedido fornecedor de anedotas para o anedotário nacional. Com uma singular vantagem: os portugueses divertem-se bastante com as tiradas filosóficas de Sua Senhoria e os chistes com que, alegremente, desafia o sentido de humor dos leitores das suas jocosas prosas e dos ouvintes e espectadores das entrevistas televisivas em que marca presença e graça… Para o Zé-Povinho é um benefício nada desprezível. Porque, incontestavelmente, nestes tempos de vacas magras e de constantes tristezas, torna-se agradável desfrutar da natural tendência chistosa e reinadia inspiração do badalado representante do monarquismo luso. Monarquismo que Deus haja lá nos seus celestiais domínios expiando os grandes pecados cometidos pelas reais criaturas ocupantes do Trono Real, durante a sua longa existência na terra lusitana; desde sempre, realce-se, entrelaçada no obscurantismo.
Todas estas pertinentes considerações vieram a talho de foice por motivo de o senhor Duque ter anunciado que ia condecorar os jogadores e técnicos da selecção nacional de futebol que disputou o último Campeonato do Mundo da modalidade, realizado na Alemanha. Obviamente, podemos admitir que vai ser um espectáculo de atirar chapéus ao ar, de gritar olés e bater palmas, à semelhança do que acontece nas touradas reais e noutras tais dos marialvas ociosos e dissolutos. Está na cara, como dizem os nossos irmãos brasileiros, que o dono da casa bragançana se tomou de brios e de invejas do ex-presidente da República Jorge Sampaio; o qual, na fase de despedida do cargo, se mostrou possesso e obcecado das condecorações e as distribuiu às centenas pelos dilectos compadres, amigalhaços, confrades e irmãos da “recomendada”, fraterna irmandade dominante na capital lisbonense e na paisagem adjacente - que é a Província…
Um dos efeitos da notícia provinda da nobre personagem da extinta realeza foi o de muita gente, curiosa, se interrogar quanto à natureza das condecorações e acerca dos títulos nobiliárquicos de barão, conde, visconde, marquês, que caberá a cada um dos distinguidos. Igualmente, existe a grande dúvida sobre quem, dos contemplados com as especiais medalhas de cortiça ornadas com brasão real, sairá do paço do Duque enriquecido com uma parcela da quinta das lágrimas; as quais, por sinal, foram muito derramadas no desfecho do referido campeonato…
Também, as pessoas conjecturam se o Duque está convencido de ser o chefe do Estado e julga dispor da prerrogativa de outorgar distinções das várias ordens nacionais; deste modo - e imprudentemente - usurpando atribuições do actual presidente da República Portuguesa, Aníbal Cavaco Silva. Porventura, à maneira de ele, Duque, se tornar o fingidor-mor do reino da bicharada portuguesa.
Neste caso, o senhor Duque ainda pode ver-se envolvido em maus lençóis da Justiça – o que seria uma chatice, fora do contexto monárquico…
Os cidadãos quando souberam da ideia do senhor Duque acharam graça. Depois, reconsiderando a “grandeza” do propósito e os altos atributos de sua presumida realeza, ficaram preocupados face a uma representação mental que lhes passou pelas cabeças… O Duque de todas as animações monárquicas dos arraiais da parvónia, que se cuide… E os seus conselheiros que não se distraiam…
Também parece que não se cuidam os convidados para a pantomina das inconcebíveis condecorações e do patético teatro do faz-de-conta… Caso para anotar: a que pontos extremos de fantasia e de inglório alcance chega a deplorável insensatez e a bacoca vaidade de algumas pessoas que perdem a noção do ridículo a que se sujeitam…
E assim, em Portugal, se vai cultivando e aplaudindo o fingimento, a idiotice e o absurdo…