BRASILINO
GODINHO
http://quintalusitana.blogspot-com
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Estimadas senhoras,
Caros senhores,
Neste dia, 05 de Outubro de 2012, em
que se celebra a proclamação da República e tendo presente que o governo
extinguiu o respectivo feriado e que o Comandante Supremo das Forças Armadas,
presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, hasteou a bandeira nacional na
Câmara Municipal de Lisboa, em posição de “pernas para o ar”, assim informando
o País de que o território nacional está ocupado pelo inimigo, segundo o que é preceituado pela
instituição militar; algumas pias almas oportunistas, saudosas de um extinto
regime perdido na voragem do tempo, apressaram-se a evocar a monarquia com a
vaga esperança de em breve ela ser restaurada.
Perante este quadro de infortúnio que
não é fictício mas verdadeiro, em que o povo sofre dolorosamente e está,
indefeso, sob o jugo de inimigos internos e externos, faz algum sentido
fazer-se uma reflexão que se afigure apropriada à gravidade da explosiva
situação, com natural e inequívoca rejeição de soluções menos apropriadas e
oportunistas que, certamente, se adoptadas, representariam um retrocesso
sociopolítico de incalculáveis e danosas consequências para a grei portuguesa.
Daí, que a mencionada reflexão que me propunha
desenvolver incida sobre a suscitada questão monárquica.
Se bem me lembro, passaram dez dias sobre a data em
que D. Duarte Pio declarou que a Monarquia seria a única via para dar ao País
eficaz rumo de reabilitação. Também se subentendia que ele, em pessoa e suprema
majestade seria, naturalmente, o providencial guia, o destemido impulsionador e
o premunitivo garante do êxito de tão necessário desígnio nacional.
Agora - e para não “chover sobre o molhado”,
como diria qualquer simpática, bonita, espampanante, garota de Ipanema ou
desinibido Zé sambista de Copacabana - ao decidir comentar as declarações da
conhecida entidade monárquica, lembrei-me de uma crónica, que publiquei em 04
de Setembro de 2006, na qual a criatura emblemática da realeza de matriz
portuguesa era focada com minúcia, objectividade e… alguma ironia.
Pelo que considerando que a aludida reflexão está,
afinal, razoavelmente expressa na crónica atrás citada, hei por bem
republicá-la, dada a sua plena actualidade. Aqui a apresento.
Brasilino
Godinho
Segunda-feira, Setembro 04, 2006
AI! SE O RIDÍCULO MATASSE…
LÁ IA À VIOLA UM DUQUE…
Brasilino
Godinho
Sim! Sua Alteza corria enorme perigo… Nem Santa
Quitéria, apesar de seus dons de benevolência e misericórdia, lhe valeria…
Exactamente, por causa do Duque não meter a viola no saco…
O pio Duque que aspira a ser Rei de Portugal, dos
Algarves e de Timor (sem descartar um hipotético título de Imperador num
restaurado império do Brasil ou mesmo a remota possibilidade de ser num dia de
São Nunca o embevecido sogro da futura Rainha de Espanha…) é pessoa com duas
personalidades distintas. A primeira delas, configura-se num indivíduo
aparentemente sem malícia a inquietar-lhe a alma, com estatura média, que teve
o engenho e a arte de criar e manter emblemático bigode bem trabalhado e melhor
delineado no seu geométrico formato, assente no plano inferior de um fácies
inexpressivo onde sobressaem dois olhos de manso cordeiro pascal. Um distinto
sujeito que no Inverno, qual abastado latifundiário, veste samarra alentejana e
no verão traja fatiota a dar impressão de aristocrata inglês com grande
influência na City de Londres e assento na Câmara de Lordes britânica. Possui
refinadas qualidades de compenetrado patriota, expedito lavrador, exímio
motorista de tractor agrícola, entusiasta empreendedor imobiliário numa rua (de
apelido Cardoso) de tristíssima memória. Pela-se por aparecer retratado nas
capas das revistas de frivolidades e deslumbra-se, com visível satisfação,
sempre que é filmado pelas câmaras das televisões. Inegavelmente, um
respeitável chefe de família, babado pai de criancinhas lindas, encantadoras,
precocemente submetidas aos bafientos espartilhos dos formalismos e rituais que
integram o convencionalismo régio. O seu trato é simples e afável. Sobretudo,
estamos perante um ser melífluo. Tão melífluo que parece destilar mel e doçura
através da voz, do sorriso tímido, do gesto comedido, da atitude estudada.
Dir-se-ia uma personalidade programada ao computador até ao pormenor da mínima
denotação comum à espécie, para se insinuar no espírito dos interlocutores
ocasionais. A segunda personalidade depara-se aos indígenas transfigurada num
ensimesmado cavalheiro que, em determinadas ocasiões, se convence ser dono e
senhor de um imaginado Reino de Portugal. Um reino magnífico, de flores e
bem-aventuranças dadas pelo régio, magnânimo, senhor, aberto a todas ilusões,
concebido à medida do Duque, por obra e graça da Divina Providência: nele, o
Duque, cativo da sua delirante imaginação, admite poder contemplar-se, porque
escudando-se (reparem na presunção e na água benta…) no presumido assentimento
da plebe. Esta, fatidicamente aturdida pelo malfadado sortilégio a que teria
sido conduzida pelos cânticos das sedutoras sereias ungidas pelo putativo
monarca. E aí, nessa pose atrevida e displicente, mais o famoso Duque se
assemelha a um reizinho de opereta castelhana. A nobre criatura nem se apercebe
dos tons e dos sons grotescos de alguns dos seus actos ou da vacuidade
impressiva nas declarações inconsistentes e hilariantes que vai fazendo de
quando em vez. A muita gente causa estranheza que os solícitos conselheiros não
intervenham a tempo de evitar os deslizes da inconfundível figura. Embora seja
certo que das escorregadelas do senhor Duque não vem mal ao mundo, nem agravo
das condições de vida dos portugueses. Mas para a lavada e higiénica imagem de
pretendente ao Trono de todas as suas fantasias monárquicas é prejudicial e
desabona-o. Aliás, para a opinião pública, ele é um incansável contribuinte
para as cenas do famigerado espaço televisivo “Contra-Informação” e um bem
sucedido fornecedor de anedotas para o anedotário nacional. Com uma singular
vantagem: os portugueses divertem-se bastante com as tiradas filosóficas de Sua
Senhoria e os chistes com que, alegremente, desafia o sentido de humor dos
leitores das suas jocosas prosas e dos ouvintes e espectadores das entrevistas
televisivas em que marca presença e graça… Para o Zé-Povinho é um benefício
nada desprezível. Porque, incontestavelmente, nestes tempos de vacas magras e
de constantes tristezas, torna-se agradável desfrutar da natural tendência
chistosa e reinadia inspiração do badalado representante do monarquismo luso.
Monarquismo que Deus haja lá nos seus celestiais domínios expiando os grandes
pecados cometidos pelas reais criaturas ocupantes do Trono Real, durante a sua
longa existência na terra lusitana; desde sempre, realce-se, entrelaçada no
obscurantismo.
Todas estas pertinentes considerações vieram a talho
de foice por motivo de o senhor Duque ter anunciado que ia condecorar os
jogadores e técnicos da selecção nacional de futebol que disputou o último
Campeonato do Mundo da modalidade, realizado na Alemanha. Obviamente, podemos
admitir que vai ser um espectáculo de atirar chapéus ao ar, de gritar olés e
bater palmas, à semelhança do que acontece nas touradas reais e noutras tais
dos marialvas ociosos e dissolutos. Está na cara, como dizem os nossos irmãos
brasileiros, que o dono da casa bragançana se tomou de brios e de invejas do
ex-presidente da República Jorge Sampaio; o qual, na fase de despedida do
cargo, se mostrou possesso e obcecado das condecorações e as distribuiu às centenas
pelos dilectos compadres, amigalhaços, confrades e irmãos da “recomendada”,
fraterna irmandade dominante na capital lisbonense e na paisagem adjacente -
que é a Província…
Um dos efeitos da notícia provinda da nobre personagem
da extinta realeza foi o de muita gente, curiosa, se interrogar quanto à
natureza das condecorações e acerca dos títulos nobiliárquicos de barão, conde,
visconde, marquês, que caberá a cada um dos distinguidos. Igualmente, existe a
grande dúvida sobre quem, dos contemplados com as especiais medalhas de cortiça
ornadas com brasão real, sairá do paço do Duque enriquecido com uma parcela da
quinta das lágrimas; as quais, por sinal, foram muito derramadas no desfecho do
referido campeonato…
Também, as pessoas conjecturam se o Duque está
convencido de ser o chefe do Estado e julga dispor da prerrogativa de outorgar
distinções das várias ordens nacionais; deste modo - e imprudentemente -
usurpando atribuições do actual presidente da República Portuguesa, Aníbal
Cavaco Silva. Porventura, à maneira de ele, Duque, se tornar o fingidor-mor do
reino da bicharada portuguesa.
Neste caso, o senhor Duque ainda pode ver-se envolvido
em maus lençóis da Justiça – o que seria uma chatice, fora do contexto
monárquico…
Os cidadãos quando souberam da ideia do senhor Duque
acharam graça. Depois, reconsiderando a “grandeza” do propósito e os altos
atributos de sua presumida realeza, ficaram preocupados face a uma
representação mental que lhes passou pelas cabeças… O Duque de todas as
animações monárquicas dos arraiais da parvónia, que se cuide… E os seus
conselheiros que não se distraiam…
Também parece que não se cuidam os convidados para a
pantomina das inconcebíveis condecorações e do patético teatro do faz-de-conta…
Caso para anotar: a que pontos extremos de fantasia e de inglório alcance chega
a deplorável insensatez e a bacoca vaidade de algumas pessoas que perdem a
noção do ridículo a que se sujeitam…
E assim, em Portugal, se vai cultivando e aplaudindo o
fingimento, a idiotice e o absurdo…
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