Ao
compasso do tempo…
O
registo, os factos e as perguntas…
Brasilino Godinho
Quase todos os dias os portugueses são confrontados
com notícias sobre insólitos factos, por demais escabrosos, relacionados com o
descalabro sociopolítico em curso.
Talvez fosse relevante, numa perspectiva histórica e sob
os pontos de vista cívico e do imprescindível funcionamento regular da
Democracia e da Governação, que uma entidade idónea fosse fazendo a estatística
e o inventário dos inúmeros disparates, das imensas transgressões às leis e aos
bons costumes, dos enormes desmandos e dos muitos excessivos e oportunistas aproveitamentos
pessoais (nos exercícios de funções oficiais), dos bens do Estado, praticados por
uns tantos agentes políticos e governamentais destituídos de pundonor e do
espírito de servir a comunidade.
Aqui e agora, faz-se o registo de três casos hoje
vindos ao conhecimento do público.
01.
O Registo dos factos
Primeiro caso: Grupo
parlamentar do P S gasta 210 mil euros em 4 automóveis topo de gama, pagos pelo
orçamento da Assembleia da República. (Rádio Renascença).
Segundo caso: O chefe do governo, Passos Coelho tem 11 secretárias
pessoais (Jornal Correio da Manhã).
Terceiro caso: Miguel Relvas ajudou empresa ligada a Passos Coelho a
ter monopólio de formação em aeródromos (Jornal Público).
02.
As perguntas:
Primeiro caso: Onde está acomodada a austeridade na Assembleia da
República?
E
em que espaço de boa higiene mental e estado de maturidade, se encontra o
sentido de acatamento, por parte dos deputados do PS, do impreterível dever
cívico e da imprescindível Política (com letra maiúscula, claro!) naturalmente
associados a uma boa gestão dos dinheiros dos contribuintes e, também, a uma
elementar contenção de despesas. Igualmente, deputados sujeitos à generalizada
obrigação de os responsáveis políticos e governamentais adoptarem procedimentos
concernentes às necessárias reduções do défice e da dívida estatais.
Segundo caso: Conseguirá Passos Coelho arranjar trabalho para
tantas (11) secretárias pessoais? Ou, pela inversa, que farão tantas
secretárias ao serviço de Passos Coelho? Aquele gabinete, com tantas
secretárias – e uma delas até praticou abuso de confiança – mais parece um
harém de sultão das Arábias.
Se
juntarmos as dezenas de assessores, especialistas, motoristas, automóveis, etc,
etc, mais reforçada fica a ideia de que temos a opulência do Médio Oriente
representada em Lisboa na sua máxima grandeza… Infelizmente, em deprimente
contraste com a miséria e a fome circundantes.
E,
sublinhe-se, ao arrepio da austeridade que é imposta ao povo, dos abusivos cortes
de rendimentos dos trabalhadores e dos incorrectos despedimentos na função
pública.
A
propósito: Os despedimentos na função pública em sede de Orçamento serão
extensivos aos numerosos grupos das secretárias de Passos Coelho e dos seus
ministros? Também contemplando os deputados? Por que não despedir os
imprestáveis ministros e os secretários de Estado e todos os que lhes estão
associados nos respectivos departamentos?...
Quão
grande não seria a recomendável diminuição da despesa do Estado se efectuados
que fossem os cortes em tais gorduras corporais… que se apresentam,
acintosamente e com escândalo, mui adiposas e desagradáveis à vista de toda a
gente.
Terceiro caso: No facto citado, sobressai o aspecto das ligações
perigosas que os políticos estabelecem entre si. Cria-se um grau de dependência
e de comunhão de interesses que, a dada altura, começa por os irmanar e que,
depois, os condicionam ou determinam no futuro. Actualmente, a dupla Coelho/Relvas
(será Coelho que, imprudente, come Relvas? Ou Relvas que, indigestas, envenenam
o Coelho?) compartilha funções de governabilidade e demonstra essa mesma total
paridade; ou seja: inequívoca sujeição mútua. O que, como parece evidente, se
sobrepõe ao propósito de boa governação e ao interesse nacional.
Fim
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