SARAIVADAS…
Ou as confissões do Arq.º Saraiva…
Brasilino Godinho
http://quintalusitana.blogspot.com
Tema I: Saraiva acerta ao rejeitar o palavrão.
Esta semana o arquitecto Saraiva escreveu sobre os “Palavrões”. E no início do texto foi informando que não os usa. Mas dizendo que admite “seja por puritanismo, snobismo ou outro defeito qualquer”. Borrou a pintura. Mostra-se inseguro da sua personalidade, não identifica o “outro defeito qualquer” e, implicitamente, insinua que é snobe ou tem tendência para o snobismo. Não é feliz a ideia de considerar defeito, a exclusão dos palavrões nas falas correntes. Mais redutora a classificação de puritanismo e snobismo. Isto porque falar-se com decência releva simplesmente um nível de educação cívica que deveria ser de regular vivência; esta, assim exercida sem jactâncias e complexos. Por que razão haver um constrangedor sentimento de insuficiência ou de inconformidade relativamente à rejeição de rotinas tidas por insensatas ou de má educação? O indivíduo consciente e de personalidade forte será, sempre, coerente. Na coerência se contempla. Pouco ligando às modas, aos julgamentos sumários e às conclusões simplistas de gente tipo Maria que vai com as outras…
Diremos: se Saraiva não diz palavrões, não tenha vergonha. Está no seu direito. Faz muito bem! Presta válida participação no combate a travar contra a onda de grosserias que vai grassando por aí.
Escrito isto, damos realce ao singular facto narrado por Saraiva de “cada vez que ia dizer um palavrão, uma luz vermelha acendia-se na minha cabeça – e a boca fechava-se”. Tratava-se de um fenómeno extraordinário. Pena que fiquemos a remoer a curiosidade sobre a omissão de Saraiva de não nos dizer se a luz vermelha se acendia no interior ou no exterior da cabeça. Talvez nos ajudasse na congeminação do efeito luminoso ao redor de Saraiva sempre que se registava o fenómeno. Por outro lado, dar-nos-ia indicação se os efeitos terão obstado no sistema electrónico do cérebro de Saraiva, ao surgimento das causas. Por outras palavras: o constrangimento da visibilidade arrastando o pasmo das pessoas não terá sido motivo bastante para o colapso do sistema electrónico do cérebro de Saraiva? Esta, é uma questão interessante e, porque inédita, mereceu a nossa atenção.
Outro dado contido na prosa de Saraiva tem haver com a confirmação de nele estar radicada uma irresistível tendência para elaborar estatísticas sobre os mais variados objectos e factos e em diversas circunstâncias. Desta vez, revela-nos que fez uma interessantíssima contagem dos palavrões que ouviu num encontro de jornalistas na Cervejaria Trindade.
Depois, assinalada outra vez a infelicidade de Saraiva “descobrir” as coisas tarde e más horas. Referiu: “Descobri há tempos que o facto de se usarem os palavrões como muletas simplifica muito as frases – e isso é em parte responsável pela dificuldade de expressão que a maioria das pessoas revela, por exemplo, na televisão em que o uso do palavrão está naturalmente interdito”.
José António Saraiva termina com um juízo pertinente: “Concluo, portanto, que os palavrões não só me incomodam a mim. O seu uso generalizado, por homens e mulheres, empobrece a língua, torna-a menos subtil, mais primária. E isso, aliado às mensagens SMS, onde a linguagem se reduz ao básico, vai fazendo com que o ser humano seja cada vez menos rico naquilo que o distingue dos animais: a fala”.
Explícito e perfeito! Bato palmas!
Tema II – Saraiva desacerta no elogio a Santana…
Mesmo que por parte de José António Saraiva posta a título de absurda hipótese, classificar Santana Lopes como melhor candidato à presidência da Câmara Municipal de Lisboa e apesar de admitida a inerente provocação, releva enviesada visão do problema autárquico lisboeta e distorcida avaliação das determinantes funções de cidade como espaço de vivência colectiva da população residente e do conjunto de indivíduos que, a cada momento, englobam a população flutuante.
O arquitecto-jornalista, Saraiva, agarra-se aos conceitos do espectáculo e da festa. Convencido que “Lisboa tem de ser uma cidade com vida, capaz de atrair turistas de todo o mundo”, entende necessário que se devem fazer “obras emblemáticas, colocando verdadeiramente a cidade no mapa”. E para tal se conseguir ninguém melhor que Santana Lopes – o candidato que “falta hoje a Lisboa”.
Ora se há coisa que não faz falta a Lisboa são presidentes tipo Santana Lopes. Por provas dadas e razões sobejamente conhecidas e porque não vem ao caso “bater mais no ceguinho”…
Está por demonstrar que Lisboa tenha de ser acima de tudo cidade “capaz de atrair turistas de todo o mundo”. Estará Saraiva a pensar Lisboa como uma nova Las Vegas?
Executar “obras emblemáticas” na área de um município falido? No país da tanga, colocado em posição humilhante no espaço da União Europeia?
E antes ou correlativamente de ser um destino de correntes turísticas Lisboa não terá outras prioridades? De políticas, medidas, equipamentos e aplicações que dêem consistência e vigor ao tecido social? Que propiciem a introdução e o desenvolvimento da qualidade de vida das populações?
Nesta crónica, bem patente a tendência característica de Saraiva: sempre preocupado com o acessório, o superficial, o festivo, o espectáculo e o efémero. Fatalmente, descurando o essencial.
Aliás, o que será essa coisa de “colocar verdadeiramente a cidade no mapa”? E no mapa? Qual mapa? Dos países desacreditados? Dos estados presumidos novos-ricos? Dos países pior governados, emparceirando com os do terceiro-mundo?
Importa notar: Nestes mapas já estamos figurando… com muitos maus aspectos e piores repercussões. Inclusive, no turismo.
Decididamente, naquela peça escrita, o arquitecto-jornalista Saraiva meteu “o pé na poça”…
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