Estimadas senhoras,
Caros senhores,
Junto as SARAIVADAS da semana.
Desejo que façam leitura agradável.
Se em gozo de férias tenham vilegiatura a vosso contento.
Livres de aflições provocadas pelos maus encontros com a tristonha e multifacetada realidade do País…
Cordiais saudações.
Brasilino Godinho
SARAIVADAS…
Ou as confissões do Arq.º Saraiva…
Brasilino Godinho
http://quintalusitana.blogspot.com
Tema: Os equívocos embaraçosos
e as omissões oportunistas de Saraiva…
Poucas vezes me terá acontecido ao ler as crónicas do arquitecto-jornalista José António Saraiva o que nesta semana sucedeu com a leitura do texto titulado “Recuo civilizacional”. Ficou-me um travo. Senti alguma frustração. Explico porquê.
A crónica em causa aborda um tema da maior actualidade. O articulista tece considerações interessantes sobre uma deprimente situação cultural que nos deve preocupar a todos que têm consciência das implicações dela decorrentes no futuro deste país. Algumas das apreciações de Saraiva são bastante pertinentes. As citações de ocorrências, circunstâncias e reacções suscitadas face a estados de coisas, a situações e a factos, dão colorido e têm abrangência de elementos que contextualizam a narrativa e mais captam a atenção do leitor. A escrita está vertida naturalmente, com ritmo e agradável sequência. Também preenchida de observações acertadas quanto a aspectos negativos emblemáticos da regressão civilizacional que está evoluindo no nosso tempo. Ora era nesta valorização que me contemplava. E me dispunha a reproduzi-la, em letra de forma, neste apontamento semanal sobre as intervenções do conhecido periodicista no jornal (e revista anexa) que dirige.
Perguntará o leitor: então, por que aludiu ao travo e à frustração que terá sentido?
Respondo: Pela razão de naquele melhor pano ter caído uma nódoa. Ou, sendo mais preciso: Saraiva, não sendo pintor, teve o percalço de borrar a pintura. Chamemos-lhe nódoa ou borradura, uma coisa ou outra teve o condão de tornar ininteligível o trecho que transcrevemos: “Quando eu era criança havia uma colecção de cromos chamada Raças Humanas. Este nome hoje seria impossível porque a palavra raça foi banida do vocabulário”. Como, assim? A palavra “raça” hoje seria impossível? De quê? Não utilizável na designação da colecção dos cromos? De ser pronunciada? Escrita? “Foi banida do vocabulário”? Porquê? Quem a baniu? Na qualificação dos cromos não tinha a conotação antropológica? E, actualmente, perdeu o sentido identificador da espécie humana? Por outro insinuado ângulo de interpretação haverá lógica e objectividade em confundir ódio racial e xenofobia com a raça ao ponto do repúdio do termo que, basicamente, tem o alcance semântico indissociável da sua intrínseca natureza etimológica? Tal anotação está inteiramente desajustada ao contexto do escrito.
Este, o equívoco do articulista Saraiva que me deixou atordoado…
Na parte final da crónica o arquitecto José António Saraiva faz uma afirmação que suscita aplauso. Escreveu: “Há como que um regresso ao básico. Mesmo a arquitectura perdeu requinte – refugiando-se no mais elementar, no branco e nas linhas rectas, como que receosa de cometer erros”. Bato palmas!
Porém, refreio o entusiasmo e lamento as duas interrogações que, logo a seguir, Saraiva formula: “Que explicação haverá para isto?”. “Por que será que a um período de progresso técnico sem paralelo na História da Humanidade corresponde uma cultura urbana que deitou fora tudo o que aprendeu e se compraz na reprodução de modelos primitivos?”.
Eu não acredito que o arquitecto José António Saraiva não tenha explicação para os males e limitações que afectam a Arquitectura sucintamente apontados no trecho transcrito.
Também me recuso a admitir que o jornalista José António Saraiva não tenha resposta para a derradeira pergunta com que remata o texto.
Censuro ao intelectual José António Saraiva o facto de, persistentemente, se limitar a aflorar os assuntos pela rama ou pela superficialidade, mesmo pelas aparências, contemplando-se nas opções mais elementares e não entrar resolutamente pelo âmago das questões que coloca aos leitores das suas prestações literárias.
Quanto ao artigo “Um homem pouco português” há que assinalar a redutora abordagem que José António Saraiva faz da iniciativa de Francisco Van Zeller de apresentar estudo alternativo à Ota – o que nele, Saraiva, é rotina profissional. No entanto, registe-se que em contraposição com o excessivo panegírico do criador do facto político, Francisco Van Zeller. Talvez, por isso, o texto não é isento de alguns equívocos e imprecisões.
O autor, Saraiva, começa por enumerar uma série de defeitos que atribui à índole dos portugueses. Tem razão,
Depois, é muito voluntariosa aquela ideia de: “A partir de agora, os portugueses podem dormir descansados (…). Ninguém se convença disso.
Apreciando na globalidade a prosa de José António Saraiva, extremamente laudatória para Francisco Van Zeller, marido da jornalista Maria João Avilez, ambos com percursos de relacionamento amistoso partilhados com Saraiva, há que insistir na tecla de a “novela” do processo de Alcochete estar mal representada; quer pelos maus desempenhos dos artistas, quer por deficiências de concepção e textura do guião da peça teatral. Mais de destacar a injustificável omissão quanto às razões que teriam determinado a iniciativa do conhecido “patrão” da CIP.
Não se conjuga neste apontamento a oportunidade e o espaço de desenvolver apreciações nesse domínio. Mas considerando a actualidade e importância do assunto justificar-se-ia que José António Saraiva fosse mais incisivo e abrangente nas suas apreciações à iniciativa de Van Zeller. Até porque os cidadãos não esquecem o ditado que nos alerta para casos estranhos de generosidade fora do comum. Traduzindo: Quando a esmola é grande o pobre desconfia…
Aqui chegado e atendendo ao exposto, o leitor, neste momento, compreenderá os motivos porque no início desta crónica escrevi que ficara com uma sensação amargosa e alguma frustração após ler os escritos de Saraiva, acima referidos. E logo numa altura em que me sentia predisposto a ser crítico favorável e simpático…
O que não quer dizer que esteja a insinuar que me considero antipático…
Melhor explicitando: Quase me convencia que, desta vez e por consequência da presumida clareza do “discurso” de Saraiva, estaria “obrigado” a meter a viola no saco e a “cantar” a solo uma canção de bem-dizer em louvor do famoso arquitecto-jornalista… Paciência, ainda não foi desta.
Isto anotado porque a falar é que a gente se entende! Não há nada melhor que, tempestivamente, pôr os pontos nos ii…
Fim.
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