Leitor,
Pare!
Leia!
Pondere!
Decida-se!

SE ACREDITA QUE A INTELIGÊNCIA

SE FIXOU TODINHA EM LISBOA

NAO ENTRE NESTE ESPAÇO...

Motivo: A "QUINTA LUSITANA "

ESTÁ SITUADA NA PROVÍNCIA...

QUEM TE AVISA, TEU AMIGO É...

e cordialmente se subscreve,
Brasilino Godinho

segunda-feira, março 12, 2007

Estimadas damas,
Caros senhores

Sem pretender abusar da vossa condescendência, apresento-vos a minha habitual crónica de fim-de-semana: "SARAIVADAS...". Tema: "A perspicácia surpreendente de Saraiva...".
O tema apoia-se em dois textos: "A importância das pessoas" e o "Ensaio sobre um crime" - peças literárias da autoria do invulgar candidato (por iniciativa própria) ao Prémio Nobel da Literatura e consagrado arquitecto-jornalista José António Saraiva, da "praça" lisboeta.
Saudações cordiais.
Brasilino Godinho

SARAIVADAS…

Ou as confissões do Arq.º Saraiva…

Brasilino Godinho

brasilino.godinho@gmail.com

http://quintalusitana.blogspot.com

Tema: A perspicácia surpreendente de Saraiva…

Nas suas intervenções desta semana José António Saraiva, conceituado jornalista alfacinha, escreveu sobre “A importância das pessoas” e publicou o “Ensaio sobre um crime”.

1 - “A importância das pessoas” - Neste trabalho, o Arq.º Saraiva faz uma advertência extraordinária que devemos assinalar. Ela, releva um invulgar sentido de observância só ao alcance de predestinados. Aqui a reproduzimos: “A SONAE tinha um rosto – e um só - facilmente reconhecível(…). Note-se que aquele “e um só” (sublinhado nosso) parecendo uma redundância é, afinal, a sublime anotação, de marca indelével, demonstrativa da apurada sensibilidade e agudeza de espírito do seu autor. Acima de tudo, tratou-se de acentuar que se a SONAE tinha um rosto havia a conveniência de esclarecer os leitores que, eventualmente, poderia ter outras caras; talvez escondidas ou em trânsitos de contrabando, sabe-se lá por onde… Assim, acrescentando a indicação de “e um só” desfizeram-se todas as dúvidas. Nem há margens para confusões. Daí a conclusão óbvia: a SONAE tinha e, provavelmente, continua a ter um rosto facilmente reconhecível (muita sorte da SONAE ter semblante de tão fácil reconhecimento). Porém, na célebre OPA à PT e segundo Saraiva, a SONAE apareceu com dois”: Belmiro Azevedo e Paulo Azevedo. E para quem não sabia, agora ficou a saber que ainda na opinião de Saraiva: “Isso não é a mesma coisa”.

Depois, Saraiva dando a entender que acompanhou passo a passo as andanças e contradanças da OPA, na vertente da estatística, informa-nos que “de manhã falava Belmiro e à tarde falava Paulo”.”De manhã opinava o pai e à tarde perorava o filho”.

Aqui, não nos contemos e exclamamos: Gaita! Nas passagens cruciais do “discurso” de José António Saraiva falta sempre uma qualquer coisinha ou detalhe que o complete e não deixe o leitor frustrado, com os travos amargos das interrogações. Nós, a partir desta tribuna, bem nos esforçamos para despertar no famoso arquitecto-jornalista, Saraiva, mais alguma concentração na matéria objecto da sua escrita. Mas é malhar em ferro frio. Não há maneira de ele atentar na falha ou acolher a nossa desinteressada colaboração… Esta referência é feita porque Saraiva afirma que Belmiro Azevedo e Paulo Azevedo falavam de manhã e de tarde e não dá, sequer, uma dica se sim ou não um e o outro falavam ou peroravam de noite e de madrugada. Alguém acredita que de noite os patrões da SONAE estiveram caladinhos ou, simplesmente, a dormirem? Ou mesmo, de madrugada, sempre exaustivamente empenhados no cumprimento dos deveres conjugais?

Todavia, onde Saraiva se encontrou consigo próprio, com os seus botões, quiçá, com as suas amizades, foi no panegírico de Henrique Granadeiro, o “homem” da Portugal Telecom. Aí, sim! Saraiva esteve nas suas sete quintas. Tão regalado que se envolveu distraidamente nas diferenças, nas alterações e nas intranquilidades do mercado. Também se embrulhou em peles confundidas com peixes fora de água. Outrossim, misturou e antagonizou comportamentos e díspares opiniões. Mas, perdido na explanação das superficiais fases do espectáculo, esqueceu-se da análise à essência e suprema importância do processo da OPA e suas eventuais vantagens nos domínios da economia e no normal funcionamento do mercado. E a esta óptica, Saraiva nem tugiu, nem mugiu. Esquecimento absoluto. Voluntário? Mera negligência?

O grande problema incidiu, precisamente, no facto do mercado não ter funcionado de forma transparente e livre de peias, de jogadas de bastidores e de expedientes pouco claros. Desde logo, a existência da “blindagem” dos estatutos da Portugal Telecom é uma aberração que impediu a avaliação das potencialidades quanto à proposta em si e relativamente à qualidade e eficiência da prestação do serviço público das telecomunicações. A comportar o aperfeiçoamento e a ampliação das redes, a maior diversidade dos meios e produtos proporcionados aos clientes e a redução das tarifas. E neste ponto importa destacar que a “blindagem” dos estatutos da PT impossibilitou o negócio. Quem se aproveita e vai tirar vantagens? Certamente, o Conselho de Administração da Portugal Telecom e todos quantos controlam a empresa.

Uma última nota: parece que ninguém reparou nas coberturas televisivas e de certos jornais dadas às intervenções de Henrique Granadeiro. Por exemplo: na noite de quinta-feira, véspera da reunião da assembleia geral da Portugal Telecom que decidiria a viabilidade da OPA ou a sua recusa, a RTP deu no telejornal das 20 horas larguíssimo tempo de antena em estúdio, às declarações do presidente do Conselho de Administração da PT, Henrique Granadeiro, frente ao embevecido José Alberto Carvalho. A seguir, às 22 horas, no serviço noticioso da TV2 ouviu-se Joe Berardo e, finalmente, antes da meia-noite, na RTP-N foi efectuado breve encontro com Paulo Azevedo. Ou seja: a RTP, numa altura importante e sem espaço nem tempo de antena para ser exercido o contraditório, fez larga promoção das posições da administração da Portugal Telecom em horários de grande audiência, sem hipóteses para a parte concorrente à OPA, expressar as suas posições. Desta forma, a RTP mais pareceu parte interessada no processo. Porquê este posicionamento da RTP mantido ao longo do ano? Compromissos com a PT? Com o Banco Espírito Santo? Com Joe Berardo, presença assídua nos programas da estação pública? E já agora, por que razão o Arq.º Saraiva se “esqueceu” destes pormenores”? Ele, que esteve atento às “falas” dos Azevedos. Ao ponto de estabelecer comparações e afirmar: “Nesta história – é forçoso dizê-lo – Henrique Granadeiro esteve muito melhor”. Nós lemos e… o nosso espírito sobressalta-se. Por que razão Saraiva entende que “é forçoso dizê-lo? Para ressalvar a honra de algum convento? Para agradar a alguma “capelinha”? Para retribuir, muito simpaticamente, uma ou outra , várias, atenções recebidas “in illo tempore”? Mais um enigma

2 - “Ensaio sobre um crime” – Com este ensaio, o jornalista Saraiva introduziu a gota que fez transbordar o copo: ele está mesmo determinado no objectivo que elegeu como meta da “corrida” de sua vida. Nada mais, nada menos, que ser contemplado com o Prémio Nobel da Literatura. Os cépticos podem render-se à evidência. O prémio da academia sueca espera por José António Saraiva. A Academia Real da Suécia que se cuide…Mais um jeitinho e são favas contadas… Desde que naquela célebre entrevista com a Maria João Avilez, na SIC, anunciou que estava orientado na direcção do Prémio Nobel, Saraiva vem trabalhando afincadamente nesse sentido. Dá a impressão que segue na esteira de Saramago e que lhe vai tirando espaço de manobra na produção literária. Se em tempos passados o festejado autor, “exilado” em Lanzarote, escreveu o “Ensaio sobre a Cegueira” e o “Ensaio sobre a Lucidez”, o Arq.º Saraiva, hoje, avança com o “Ensaio sobre um crime” de morte. Está lixado o Saramago. Resta-lhe escrever um ensaio sobre a vida. Ou sobre a morte, em abstracto Se, entretanto, Saraiva não se antecipar…

Que nos traz o Arq.º Saraiva no seu ensaio? A abordagem de um caso recente, conhecido, de uma lisboeta, Maria das Dores, alegada mandatária do assassínio do marido, Paulo Cruz. O jornalista Saraiva assevera: “A história apresentava-se tão linear como a adivinha” Qual é a coisa, qual é ela, que mal entra em casa se põe à janela’”. Interessante esta citação da adivinha e a certeza, nela implícita, de a Maria das Dores ter entrado na casa onde ocorreu o crime e não se ter posto à janela… porque, de imediato, terá sido encaminhada prò chilindró. Não obstante, mais adiante deparamos com a perplexidade, expressa no ditado: “Quando a esmola é grande o pobre desconfia”.

Claro que segundo o registo da escrita de Saraiva o ensaio desenvolve-se num estilo sui generis, caracterizado por uma teia de suposições, de impressões prévias, de apreciações sequenciais, postas em alternativas decorrentes de dúvidas e interpretações que se esboçam conforme vão sendo efabuladas, na imaginação do articulista, as hipotéticas determinantes do acto criminoso.

Destaque para o uso dos “ses”: “Se Maria das Dores fosse a mandante(…)”. “Se Maria das Dores pensou assim(…)”. “Se Maria das Dores mandou(…)”.

Nesta oportuna ocasião, esprememos o limão que temos presente. Qual o sumo que colhemos? Saraiva, percepcionando a falta do suco, fornece-nos uma aparente explicação: “Comecei por não ter dúvidas sobre a autoria do crime. Os indícios eram devastadores e irrefutáveis”. (Não percebemos… Os indícios eram, de sua natureza, devastadores? Eles eram e, posteriormente, deixaram de ser devastadores? Verdadeiramente, quais eram as suspeitas de Saraiva? Os indícios destruíam? Assolavam? Despovoavam? Destruíam o quê? Deitavam por terra árvores? Casas? E despovoavam que lugar? Bairro? Ou cidade? Também irrefutáveis? Claro! Sendo os indícios, uns terríveis devastadores, ipso facto, são irrefutáveis… Estranhos e perigosos os indícios devastadores…

Ah! A propósito, perguntamos ao Arq.º Saraiva: haverá indícios não devastadores? Nem violentos? Sãos? Bem intencionados? Sem maus instintos? Inofensivos? Por acaso, os indícios não serão, unicamente, os sinais ou os vestígios, elementos materiais de um crime?).

Saraiva acrescenta: “Mas logo a seguir, desconfiei da conclusão”. Caramba! Até ficamos estonteados. Impressiona a rapidez com que Saraiva passa de um extremo ao outro, que é o oposto. Quase à velocidade da luz o Arq.º Saraiva sai da certeza e entra na desconfiança. Um fenómeno… da Natureza!

Pondo termo às citações, diremos: se Saraiva desconfia das suas apressadas conclusões, a nós não nos resta alternativa senão, igualmente, desconfiarmos delas. Certamente que, por casualidade, sob este aspecto, estamos numa irrefutável companhia…

Resta-nos fazer reparo que o Arq.º José António Saraiva finaliza o ensaio remetendo a Maria das Dores para a reflexão sobre as dores da Maria, agora que está encarcerada numa prisão, algures em Lisboa.

Fim