SARAIVADAS…
Ou as confissões do Arq.º Saraiva…
Brasilino Godinho
Tema: Saraiva fez três descobertas…
A primeira: Os intelectuais são estimulantes…
Ao seu peculiar jeito e descompensado ritmo de “viver para contar” se é que não se orienta pela asserção contrária de contar para viver, o Arqº. Saraiva, esta semana, brindou-nos com três descobertas. Duas delas inseridas numa dissertação, em tom académico, sobre a personalidade do Papa Bento XVI e acerca da “ideia de que a religião não é incompatível com a ciência mas é inconciliável com a violência”. Tema que daria pano para muitas mangas…
A juntar às três descobertas Saraiva agregou uma afirmação incendiária: Bento XVI “incendiou o mundo árabe”. Como? A crer na “conversa” de Saraiva, o Papa, numa data recente, fez isso com palavras ardentes embrulhadas num discurso posto em brasa do qual as faíscas se desprenderam e levadas pelo vento terão caído num indeterminado território de gente muçulmana. E aí provocaram o imenso fogo que alastrou a todo o mundo árabe. Sorte nossa na direcção do vento…
Aquele medonho fogo dá a ideia de ser um mau prenúncio de tendências agressivas do velho Ratzinger. Agora, vistas a nu pelo “olho de lince” do único arquitecto-jornalista que, em serviço activo, marca a agenda da intelectualidade nativa da região saloia de Lisboa.
Antes de mais avançarmos na apreciação dos artigos de José António Saraiva fixamo-nos na sua afirmação, num deles expressa, que transcrevemos: “muitos intelectuais, mesmo errando, são estimulantes – porque convidam a pensar”. Isto é… e não é aquilo que, normalmente, se passa com o Arq.º Saraiva. Explicamos: o jornalista José António Saraiva, através das suas prosas, tem o condão de nos estimular as faculdades de alma obrigando-nos a redobrados esforços de apreensão dos sentidos vários, interpretativos das diversas partes dos seus textos – muitos deles, indiciadores de uma fértil imaginação. Motivo de sobra para ficarmos reconhecidos por nos proporcionar oportunidades de enriquecimento intelectual e exercitarmos aturadas práticas de higiene mental. Já quanto a convidar-nos a pensar discordamos. Uma coisa é propiciar o objecto do pensamento e a ocasião, numa relação de causa e efeito e outra coisa bem diferente é o convite a pensar formulado pelos “muitos intelectuais” supostamente decorrente de estes serem ou não estimulantes (também faltaria comprovar a afirmativa ou a negativa do alcance do convite) e que nem sequer está implícito. Ilustramos a observação com as nossas intervenções sobre as matérias contempladas nas prestações jornalísticas de Saraiva. É claro que elas nos prendem a atenção e nos suscitam a análise e a crítica. Só que o fazemos por iniciativa própria. Sem pedir licença a ninguém. Qualquer acto, desde que exposto ao público, fica sujeito ao aplauso, à crítica ou à reprovação dos cidadãos. Ademais, não estamos a corresponder a nenhum convite explícito ou sequer sugerido pelo intelectual Saraiva. Nem se nos afigura plausível que ele, alguma vez, enderece convite a alguém para esse efeito - de todo, inapropriado.
Mas, voltando ao princípio e para nos interrogarmos: “muitos intelectuais são estimulantes”? Como? Porquê? Que têm eles de especial? E são estimulantes – porque convidam a pensar? Será que “convidam”? Se o Arq.º Saraiva nos dissesse que as produções dos intelectuais, mesmo que eivadas de erros, são estimulantes por darem ensejo a exercitar o pensamento do cidadão atento, ainda se entenderia, sem esforço. Assim, como foi escrito, resultou uma atrapalhação escusada e… que devemos recusar.
A segunda: O Papa Bento XVI tem pensamento acutilante… e olhar esquisito
Aliás Saraiva demonstra quanto pertinente é a nossa dupla condição de observador e crítico das suas crónicas quando escreve que Ratzinger é um intelectual “com um pensamento acutilante, aliás bem expresso no olhar. Mas isso não significa que chegue inevitavelmente a conclusões certas”. Ufa!
Confessamos: Quando fizemos a leitura deste trecho da prosa de Saraiva sentimos um calafrio e a estranha sensação que nos faltava o ar. A que se juntou o cansaço e a percepção de nossa ignorância quanto ao que poderia significar o “pensamento acutilante” . E que dizer sobre a aterradora imagem desse pensamento terrífico ser “bem expresso no olhar” do Papa? Talvez anotar duas palavras: Surpresa! Espanto!
Se bem conhecemos a Semântica acutilante corresponderá a efeito de acutilar. E acutilar significa dar cutiladas, golpear com arma branca, ferir cortando a carne. Por outro prisma quem acutila é acutilador ou seja: brigão e agressor.
Que pensar acerca do “pensamento acutilante” do actual Papa? Se nos ativermos ao termo acutilante julgaremos que o pensamento do Papa é algo tenebroso e ameaçador que cutila, golpeia e fere sem dó nem piedade, em flagrante contradição com o espírito evangélico que seria suposto encarnar no Sumo Pontífice. Mas se lembrando a observação de Saraiva de o “pensamento acutilante” estar bem expresso no olhar melhor será sempre que nos cruzarmos com Sua Santidade encomendarmos a alma ao Diabo, fugir a sete pés e… seja o que Deus quiser.
Observação pertinente do Arq.º Saraiva que releva algum trabalho de pesquisa ou, pelo contrário, uma grande ligeireza de julgamento, é aquela passagem sobre o “pensamento acutilante bem expresso no olhar” de Ratzinger “não significar que chegue inevitavelmente a conclusões certas”. Utilizando o termo inevitavelmente naquele contexto, José António Saraiva comete uma gravíssima heresia. Ousa negar um importantíssimo dogma da Igreja Católica: a infalibilidade do Papa.
Todavia, esta descoberta do “pensamento acutilante bem expresso no olhar” de Bento XVI feita pelo arguto jornalista Saraiva, pode revelar-se de extrema importância para a Humanidade; porquanto, chama a atenção para o facto e previne… Importante, porquê? Porque, implicitamente, estabelece arreliadoras coincidências entre Ratzinger e Hitler. Se tivermos presente aquilo de horrendo que Hitler protagonizou haverá que ficar de olho no pensamento e no olhar acutilantes de Bento XVI, não vá o Diabo tecê-las… Anote-se a realidade: ambos germânicos. Um, residente em Roma, vivo, chefe da Igreja Católica com o “pensamento acutilante”, ainda por cima estampado naquele temível olhar que, graças ao Altíssimo, nem passou despercebido a Saraiva. Subentende-se que dispondo daqueles dons acutilantes o supremo dirigente da Igreja reúne características de acutilador, de brigão e agressor. O outro, morto, remetido para os quintos do Inferno, Führer do III Reich, possuía um olhar terrível, embaraçante e hipnotizador e dele abusava para subjugar as mentes dos interlocutores mais do que propriamente pelos dotes de grande comunicador. Foi, um violento agressor que lançou a segunda guerra mundial (1939-1945). Vale a pena lembrar que Arthur Neville Chamberlain, chefe do governo inglês, tempos após a conferência de Munich, chegou a confessar que do encontro que tivera com Adolf Hitler conservava a desagradável impressão de, naquela altura, ter ficado um tanto atordoado ao fitá-lo; algo semelhante a um estado de hipnose face ao olhar magnético de Hitler. Felizmente, para a integridade física do estadista inglês, que o pensamento de ditador alemão não era acutilante… embora, mais tarde, extremamente acutilantes tenham sido as suas acções bélicas. Neste aspecto, o pensamento acutilante de Ratzinger pode ser resultante de uma individual desconformidade genética. O certo é que dadas as características semelhantes dos olhares dos dois alemães e os maus exemplos de Adolf Hitler devemos tomar cuidados e prevenções quanto aos actos do “incendiário” Bento XVI consequentes do seu “pensamento acutilante”… Aqui, cabe questionar se para nosso sossego não teria sido melhor que Saraiva não tivesse sido atrevido e lançado os “holofotes” sobre Ratzinger. Não haveria descoberta dos tais meios acutilantes. E penas que não se conhecem, não existem… Logo, nem se sentem…
Registemos a nota insólita: até agora desconhecia-se este modo de pensar, difícil de compreender, que Saraiva designou por “pensamento acutilante”.
Muito mais haveria que discorrer sobre a crónica de Saraiva em causa neste texto, mas para não o alongar demasiado e porque falta anotar a terceira descoberta assinalaremos, simplesmente, a conclusão do Arq.º Saraiva que transcrevemos: “É óbvio que o Papa estudou infinitamente mais do que nós os assuntos de que falou” na Universidade de Ratisbona. Somente um nosso comentário: Infinitamente? Porquê a redundância? E o óbvio? Não está Bento XVI ligado ao Infinito? Ao Absoluto? E o Arqº. Saraiva, mesmo que iluminado pelo SOL, admira-se que tenha estudado menos do que o Papa que – como afirma - estudou numa escala infinita? Curiosidade maior: que Saraiva tenha estudado, mesmo pela rama, os assuntos “de que falou” o Papa…
A terceira: Saraiva descobre chacais na Câmara Municipal de Lisboa…
No saboroso editorial sobre a política portuguesa, benevolamente considerada sem riso e escárnio, o Arq.º Saraiva faz uma descoberta que tem muito a ver com a segurança dos munícipes que frequentam os paços do concelho da autarquia lisbonense.
Já que vem a propósito, referimos que há muito tempo nos tínhamos apercebido de um peculiar hábito social de Saraiva: conhecer as pessoas nos bares dos hotéis – o que releva do seu requintado gosto. Pois, no referido editorial, o conhecido arquitecto-jornalista confirma isso, sem margem para dúvidas. E deixa-nos esta ideia: até será a melhor circunstância para Saraiva ficar com boa impressão da criatura que beneficiar dessa sua consideração. Foi o caso passado com Carmona Rodrigues, presidente da edilidade alfacinha. E logo ali, no bar do Hotel Ritz, numa palestra íntima, Carmona Rodrigues mostrou ao Arq.º Saraiva ser “tecnicamente consistente”. Diga-se em abono das conveniências e da exaltação das aparências e superficialidades que nada mau para a imagem e a robustez física de um engenheiro civil da estirpe de Carmona Rodrigues… Não obstante, a nós, com algum espírito de deformação profissional, esta apreciação sem mais qualquer coisa explícita deixa-nos um travo amargo de insatisfação, causada pelas perceptíveis imprecisão e inadequação associadas àquela qualificação de Carmona Rodrigues. Por conseguinte, gostaríamos de saber: o que é um indivíduo ser “tecnicamente consistente”? A consistência advém da estrutura? Qual a respectiva espécie? Por que lhe pareceu isso? Teria sido por, tal como sucedeu com Bento XVI, lhe ter visto o pensamento “tecnicamente consistente” assaz “bem expresso no olhar”? Mais intrigante e que nos deixou os neurónios em redemoinho, foi a seguinte e definitiva conclusão de Saraiva sobre Carmona Rodrigues: “Enfim, um verdadeiro engenheiro”.
Daqui, perguntamos ao Arqº. José António Saraiva: O que é “um verdadeiro engenheiro”? Existem em Portugal falsos engenheiros? Conhece algum? E Saraiva vai passar a emitir certificados de validade aos engenheiros? Que aproveitamento se deverá fazer dos falsos engenheiros que conseguir encontrar? Ou que destino a dar-lhes?
De regresso à terceira descoberta de Saraiva observamos que há muito tempo circula a informação que a Câmara de Lisboa é um espaço zoológico onde se instalaram grandes tubarões, alguns camaleões de finas linhagens, vários papagaios inconvenientes, seleccionadas catatuas palradoras, uns tantos camelos, certos burros de estimação e grande porte, diversos sapos que são rapidamente engolidos através de gargantas fundas e bastantes aves de díspares tamanhos e grandes plumagens como os lindos pavões e as reluzentes pavoas.
Agora, Saraiva descobriu que dentro do município também existem chacais. Portanto, está dado o aviso. Os munícipes que frequentem a sede do poder municipal tenham cuidado. É muita bicharada. Violenta. Agressiva. Que investe. Suja. Maltrata. Não domesticada. Perigosa…
Melhor seria que em vez de um engenheiro do agrado de Saraiva e por ele certificado com o selo de garantia pessoal, a senhora câmara de Lisboa recorresse a um proficiente veterinário, a um exímio domador de feras e a um desenrascado técnico de limpeza sanitária…
Ah! Tomem nota do aviso de Saraiva: “Assim é muito difícil de governar uma cidade”.
Quem diria!!!
Nós, ingenuamente, emendamos: Assim é fácil desgovernar a cidade de Lisboa.
E, crentes, acrescentamos: Quem disser o contrário, mente!...
Fim
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