Estimadas senhoras,
Caros senhores
Com vossas amáveis permissões trago-vos a crónica "SARAIVADAS" com que semanalmente estabeleço encontro convosco - que para mim é sempre agradável.
O tema principal de hoje anda à volta de um novo conceito de beleza feminina: o conceito saraivado.
Acho-o inconclusivo: não é carne, nem é peixe.
Demasiado impreciso para o meu gosto...
Cordiais saudações
Brasilino Godinho
SARAIVADAS…
Ou as confissões do Arq.º Saraiva…
Brasilino Godinho
Tema: Saraiviscos frescos sobre recordações serôdias…
O Arqº. Saraiva, esta semana, segundo os costumes, continuou a baralhar-nos. E não só. Persiste, sem dar-se conta, em convencer-nos que sofre da síndrome do “Expresso”. Saudades? Catarse? Mais uma vez volta a recordar ocorrências que protagonizou nos tempos em que foi director daquele semanário. Agora trouxe à colação um episódio relativo à publicidade engendrada para o lançamento de um Guia de Verão. Diz ele que um belo dia resolveu fazê-lo. Pelos vistos, ainda considera que foi um belo dia. Mas o desfecho do caso descrito pelo jornalista Saraiva faz sugerir a impressão contrária: terá sido um feio dia, perdido na contemplação e avaliação dos dotes físicos de uma beldade… cujos, não se apreendiam imediatamente. Se assim era, muito dilatado teria sido o tempo da aquisição do conhecimento… Depreende-se: também aprendizagem algo complicada para o examinador Saraiva. Percalços que acontecem…
E como o Arq.º Saraiva perseguia uma onda de formosura esbarrou com a beleza de uma fêmea que o levou a criar um novo conceito do belo feminino: o conceito saraivado. E deste, fornece-nos a demonstração quando, em referência ao modelo que se apresentou no seu gabinete, escreve: “Era bonita, mesmo muito bonita – embora de uma beleza que não se apreendia imediatamente – mas demasiada magra. E com pouco peito” Teria bigode?... E no andar seria elegante?... Moita-carrasco… Saraiva omite estes importantes pormenores…
Porém, como já referimos, outro valor mais alto se alevantou: o inovador conceito saraivado do belo sexo. Queremos realçar que para o Arq.º Saraiva a moça era tão extraordinariamente bonita mas – há sempre um mas, em certas coisas – tal unidade de beleza e encanto não era, de imediato, evidenciada. Digamos, transparente.
Pela inversa, coisa assim a modos de alimento que se vai digerindo lentamente. Suavemente, para não engasgar… ou atordoar… Preto no branco: dá para perceber este desencontro entre o objecto e a grandeza do seu esplendor, referido por Saraiva? Note-se: além do mais que foi ocultado, ela, modelo (de quê?), era demasiado magra e sem imponente altar. Pobre e desafortunada moça… Que conclusão a tirar daquela invulgar apreciação de Saraiva? Pela nossa parte, diremos: a concepção de José António Saraiva sobre a beleza é um tanto redutora, bastante esquisita, muito confusa e deveras inconclusiva. Uma saraivada de todo o tamanho… e de gosto inadequado à qualidade do material. Ou sim ou sopas…
O articulista Saraiva, incisivo, confiante, elucida-nos: “Para uma sessão de fotografia com um reduzido biquini tínhamos contratado uma modelo”(…) Lemos e ficámos com dúvidas. Então, contratara uma modelo para figurante de uma sessão de fotografia em parceria com um reduzido biquini? Ou contratara um reduzido biquini para uma sessão de fotografia com a modelo? Ou contratara a sessão de fotografia com a modelo e o biquini? Ou, atrevidote, contratara a modelo para ela, em biquini, fazer uma sessão de fotografia? Vá lá perceber-se…
Outra notícia que vem na sequência de uma série de passos que foram dados e de mãozinhas que foram estendidas em ajuda na realização em curso do filme do regresso de Paulo Portas à chefia do CDS-PP, é a do irrequieto político e devoto associado da Opus Dei gozar de tais intimas relações de amizade e de confiança do pessoal da casa que lhe é permitido passear-se, protegido do SOL, nas instalações do jornal dirigido por Saraiva, ligeiramente vestido “com uma berrante t-shirt amarela e em calções!”(azuis?). Talvez, calçando espampanantes sandálias… Com óculos escuros? Maleta a tiracolo? Pela certa “a dar a cara”? Todo sorrisos? Possuído do habitual nervoso miudinho? Derretido, extasiado e contemplando-se nos infindáveis salamaleques? Olhando embevecido para o próprio umbigo? Saraiva esqueceu-se destes pormenores que ajudam a compor a imagem de marca da frenética criatura.
Através do editorial do semanário, Saraiva informa-nos que o ministro da Saúde “tem carradas de razão em muitas das medidas que tomou para reduzir as despesas”. Supomos que se refere aos gastos do respectivo sector. Sem pretendermos fazer intriga…
Noutro trecho do mesmo editorial Saraiva apresenta-nos uma sua conclusão, de estarrecer. Ei-la: “Quando se constrói uma ponte sabe-se que há operários que vão morrer – e não é por isso que a ponte deixa de se fazer”. Sabe-se? Saraiva não previne o dono da obra? Nem avisa as autoridades? Ninguém acode? O Arq.º Saraiva consegue viver com o peso na consciência de não tomar iniciativas para evitar as fatídicas mortes?
Por acaso, este fraseado de Saraiva traz-nos à lembrança a saudação ao Imperador dos cristãos que, no Coliseu de Roma, iam ser lançados às feras: “Salve, César! Os que vão morrer te saúdam!”. Tal como César, Saraiva deixa transparecer a ideia de ser possuído de uma grande insensibilidade perante a morte de seres humanos.
Mas, alto lá com a ligeireza da “conversa”! Onde Saraiva foi recolher o conhecimento dessa fatalidade? Está tão certo dessa sua sabedoria? Tem acompanhado a construção de pontes?
Quanto aos avanços e recuos do ministro da Saúde nos encerramentos dos estabelecimentos hospitalares, comentados pelo Arq.º Saraiva, é certo que as pessoas não são números. Só que (acreditando no aval de Saraiva) o ministro porque tendo carradas de razão em muitas das medidas que tomou para reduzir as despesas, começa a sentir que elas lhe pesam muitíssimo e estão a deixá-lo exausto e, deste modo, estará predisposto a largar parte, embora ínfima, dessa carga.
Porém, ninguém se iluda. Os problemas de Correia de Campos são os números. Ele, provavelmente, rendeu-se à evidência de um limitado raciocínio: se “as pessoas não são números” também os números não são pessoas. Daí, que ele se dedique a tratar da saúde dos números enquanto deixa ao livre arbítrio dos técnicos de saúde, aos costumes hospitalares e às disposições de ânimo da Divina Providência, o tratamento médico das pessoas e as contingências das suas periclitantes vidas. O ministro segue o exemplo de Pilatos: lava as mãos… coisa lógica e recomendável para quem lida com números sonantes… Além disso, sendo as pessoas os elos mais débeis da cadeia em que se englobam os números… qual poderá ser a expectativa? Os indígenas que se lixem! Claro…
Enfim, o Arq.º Saraiva, que paira num outro mundo iluminado pelo SOL, parece estar alheio a esta problemática…
Fim
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