A BRASILIANA CRIATURA FACE AO
MAGNIFICENTE ETERNO FEMININO
(Continuação)
Parte V
Por Brasilino Godinho
(26 de Abril de 2020)
A minha ida para a cidade de
Ponta Delgada, Açores, para onde embarquei no dia 7 de Maio de 1954, a bordo do
paquete Carvalho Araújo, acostado à Doca de Alcântara, Lisboa, e a cujo porto cheguei
a 11 do mesmo mês, a fim de tomar posse do lugar de desenhador da Direcção de
Urbanização dos Açores, constituiu um inesquecível acontecimento pessoal com
extraordinárias consequências na minha vida.
Eureka!!! Logo, três dias depois
da chegada proporcionou-se-me o ensejo de conhecer a linda jovem micaelense
Luísa Maria Albernaz Tápia.
Perante mim, no Largo 16 de
Março, na cidade de Ponta Delgada, à varanda de uma janela do palacete/residência
do seu idoso padrinho Albernaz (que era o seu lar partilhado com a mãe, D.
Mariana Albernaz, visto que era órfã de pai, Luís Tápia, falecido quando ela
tinha um ano de idade) fronteiro lateral ao edifício de apreciável traça
arquitectónica, sede da Junta Geral do Distrito de Ponta Delgada, surgia Luísa
Tápia, a encarnação viva, brilhante, magnífica, deslumbrante, arrebatadora, do
ETERNO FEMININO.
Ocorreu um ver-te e amar-te
intensamente…
Na segunda-feira seguinte, na rua
de ligação ao Largo 16 de Março que cruza com a Rua de Lisboa e tem
continuidade pela via de acesso aos Arrifes, a poucos metros de distância da
sede do Diário dos Açores, encontro a jovem e… zás! Resolutamente, sem perdas
de tempo e oportunidade, dirijo-me a ela, identifico-me e lhe faço declaração
de muito apreço e do meu firme desejo de a namorar e muito a estimar. Respondeu-me
que iria pensar e ouvir a opinião da mãe. Talvez dois dias após veio a resposta
de que iriamos experimentar.
E a experiência ocorreu precedida
de uma condição colocada pelo Brasilino, com o seu quê de insólita para o meio
micaelense: jamais o namoro se faria com o tomar de “gargarejo”; isto é:
efectuado com ela à janela do 1´º andar e o Brasilino especado na rua, junto à
parede. O namoro iria decorrer passeando nas ruas ou sentados num jardim
público. Da parte da jovem nenhuma objecção.
Porém,,, houve atitudes de
estranheza e censura a que aludirei a seguir. Antes de isto anotar importa
explicar a minha razão determinante de o namoro não se processar nos termos
tradicionais: quer no Continente, quer nos Açores.
Explico: desde miúdo que achava
esquisita essa forma de namorismo. E a partir dos primeiros anos de
adolescência me impus como norma de procedimento em termos da arte de namorar
que nunca por nunca ser ou acontecer a praticaria de “gargarejo”. Dela dei
conhecimento à Luísa que compreendeu e a aceitou firmemente.
Entretanto, decorria o namoro há
um mês e picos, e um dia ela traz-me a agradável notícia de que a mãe e o
padrinho aceitavam que ela, Luísa, namorasse o Brasilino Godinho. Fiquei
agradavelmente surpreendido e muito satisfeito. Pergunto-lhe: “o que justifica
essa decisão?”
Estávamos chegando ao Jardim do Colégio,
junto ao monumento glorificando Antero de Quental e ela diz-me: é altura de nos
sentarmos – o que fizemos no banco situado junto ao monumento anteriano (anexo a
respectiva foto).
E de pronto, relata: O meu
padrinho Albernaz tomou a iniciativa de escrever uma carta ao Presidente da
Câmara Municipal de Tomar (major Fernando de Magalhães Abreu Marques e
Oliveira) a solicitar informações sobre ti. E as informações que chegaram, por
carta pessoal do senhor presidente, eram muito boas. Pelo que o meu padrinho,
aliviado, me chamou e disse que poderia continuar a namorar-te. E a minha mãe
concordou.
Importa informar que o Senhor
Albernaz tinha objectivas razões para tal iniciativa; visto que na condição de
padrinho de uma menina órfã de pai lhe competia zelar pela segurança e futura
da afilhada. Acrescia o facto de ainda à época prevalecer em S. Miguel, grande
desconfiança, amargura e repulsa, pelos comportamentos de bastantes soldados
expedicionários, radicados na ilha durante o período da guerra de 1939/45, que
traíram a hospitalidade que lhes era concedida por muitas famílias e abusaram
sexualmente das jovens que, ingenuamente, acreditavam nas promessas de
casamento e de folgada vivência “em Lisboa”.
Namorámos dois anos e celebrámos casamento no dia 8
de Junho na Basílica de Fátima.
(junto foto da cerimónia de assinatura da acta).
Durante o namoro apreciei
sobremaneira a beleza física, as qualidades de carácter e a forte personalidade
da que veio a ser a eleita do meu coração e companheira de 51 anos de vida
conjugal; confirmando no matrimónio todos predicados que percepcionara numa
fase que, segundo os hábitos micaelenses, correspondia a noivado. Pois que a
partir do início do namoro se ficava automaticamente noivos.
Tal tradição tinha a sua graça e
não me senti minimamente agastado ou apreensivo com esse entendimento, tido
usualmente no seio da sociedade açoriana. Aconteceu até que ambos nos
divertíamos com a situação e com o falatório que foi acontecendo sobre o nosso
namoro ou melhor dizendo: sobre a apressada classificação de noivado. É que
acontecia frequentemente que pessoas conhecidas ou amigas da mãe da Luísa
chegavam junto dela e diziam-lhe: Mariana, a tua filha anda a namorar pelas
ruas e jardins um continental que às tantas regressa a Lisboa (naquela época Portugal
continental era, em linguagem coloquial, citado como Lisboa) e ela fica aí
perdida para tia. Nenhum rapaz a vai querer. Que pena! E logo uma menina tão
bonita e muito prendada.
Claro que as amigas da onça e
mulheres do soalheiro terão ficado frustradas por não se terem concretizado os
seus amargos vaticínios.
Pela parte do casal Brasilino da
Costa Godinho e Luísa Maria Tápia Godinho deu-se doação mútua, profundamente
amorosa, e se geraram dois filhos que educados foram em termos de serem
cidadãos conscientes, prestáveis e compenetrados dos sãos princípios que regem
a harmonia da vida pessoal e da vivência colectiva; pois que neles será plena a
assumpção dos deveres da cidadania.
E não deve, neste relato,
Brasilino Godinho omitir o que sua adorada Luísinha, que tratava carinhosamente
por Ninnins Pequeninis, dizia muitas vezes: dou graças por te ter como marido
que, também, para além disso, tem sido o pai que não conheci, o afeiçoado companheiro,
o dedicado amigo, o atencioso amante, o inspirado conselheiro.
Assim, tão expansiva e revelando o
que retinha no seu imo, LUÍSA, ser único, criatura MULHER, na plenitude da sua
imensa GRAÇA, que em si própria, a cada instante, consagrava a sublime
configuração do ETERNO FEMININO, expressava de forma singela e muito eloquente aquela
lisonjeira apreciação que precede e que tão atenciosa, ternurenta e
reverentemente entendia dispensar ao Brasilino, seu terno companheiro de 51
anos e demonstrava a sua nobreza de
carácter – o que ainda hoje por ele é recordado como a mais reconfortante
dádiva que ela lhe poderia oferecer e que lhe está perenemente gravada na alma,
deveras agradecida.
(Continua na Parte VI)
ADENDA
Reitero: tenho grande respeito por mim mesmo. O que
é condição básica para respeitar o próximo e os leitores e que cumpro
escrupulosamente.
Por isso, não posso, aqui e agora, omitir o que me
acaba de acontecer.
Escrevia as duas últimas linhas do precedente texto
e de-repente fiquei emocionado. E as lágrimas começaram a rolar pelas faces.
A última vez que chorei o passamento da minha
mulher a 02 de Junho de 2008, foi no dia 30 de Setembro de 2008.
Provavelmente, haverá alguém que dirá: fraqueza do
Brasilino Godinho.
Se assim considerada esta minha reacção emotiva;
ASSUMO-A!
Não quero ser classificado de super-homem…
Apesar de ter sido marido de SUPER-MULHER!
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