130. Apontamento
Brasilino Godinho
21/Abril/ 2018
Brasilino Godinho
21/Abril/ 2018
MAIS UMA OPORTUNIDADE PERDIDA
E MAIS UM FRUSTRAÇÃO NACIONAL
O Presidente da República esteve
esta semana em Madrid, capital da Monarquia de Espanha. Precedeu a visita
oficial com a bombástica declaração de que ela era muito importante.
Mas, afinal, Presidente regressou
de mãos vazias. Embora parecendo vir enriquecido de afectos pelo casal real
espanhol. E com tal riqueza pessoal lá foi à vela a importância da visita e
relegado para as calendas gregas o superior interesse nacional.
Para a Nação isso, do pretenso
tesouro dos afectos pelo monarca filipino, pior de que ser pouco, é nada.
A grande importância que poderia
advir da breve estadia do Presidente em Madrid teria sido que ele conseguisse da
real criatura, de filipinas, tristes, detestáveis, recordações da dramática
época de 1580/1640, a marcação da data de transferência da soberania de
Olivença para Portugal.
Sobre essa imperiosa obrigação da
monarquia espanhol cumprir o Tratado de Viena de 1815, há a impressão (senão
certeza) de que nem sequer ela terá sido abordada nas conversas informais
havidas entre presidente Marcelo e Filipe VI.
Todavia, uma verdade transcende
os discursos de pomposa circunstância tidos nas celebrações gastronómicas da
residência oficial da filipina criatura.
Enquanto Olivença não for
integrada no território português, ao abrigo do Direito Internacional e
cumprindo os termos do referido Tratado de Viena, de 1815, nomeadamente a
ratificação, em 1817, desse tratado por parte de Espanha, através da qual
reconhece a plena soberania de Portugal sobre Olivença e se compromete a
concretizar a respectiva devolução no mais curto prazo; as relações entre
Portugal e Espanha não serão amistosas, regulares, de leal cooperação, transparentes
e de interesse mútuo. O interesse, o proveito e o abuso da exploração, nos
tempos que correm, são factores que estão circunscritos à monarquia filipina
que deles faz uso e obtém pleno aproveitamento - sem objecções do governo
português.
Diga-se que filipina monarquia
espanhola de muito má e nefasta memória.
Portugal tem que assumir
vigorosamente a reivindicação do retorno de Olivença à mãe pátria. O tempo que
tem decorrido desde 1815/1817 até agora, de inteira e abjecta ausência desse
elementar e essencial procedimento, é um persistente escândalo nacional, que
desonra a nação portuguesa; sendo, outrossim, um configurado atestado da
cobardia dos governantes que não têm zelado os interesses nacionais e
dignificado a reputação de Portugal entre estados europeus, americanos e
asiáticos.
Portugal, precisamente, um País
que já foi grande e prestigiado entre os grandes e hoje nem sequer os seus
dirigentes se mostram capazes de fazerem jus ao bom nome de Portugal e ao
importante legado do seu glorioso passado.
Também se diga que os poderosos e
autocratas dirigentes espanhóis, na questão oliventina, nem procedem com
inteligência, se tivermos em linha de conta o problema da devolução de
Gibraltar à Espanha, por parte do Reino Unido. Enquanto a monarquia espanhola
não resolver o contencioso de Olivença, falta-lhe autoridade moral para
discutir a restituição de Gibraltar. Este um dado que, incrivelmente, não tem
sido usado pelo governantes portugueses.
Outro aspecto a destacar neste
domínio envolvente de Olivença e Gibraltar é que enquanto os dirigentes
espanhóis manifestam algum distanciamento nas relações com a Grã-Bretanha, os
governantes portugueses excedem-se nas mesuras e subserviências para com os
homónimos espanhóis, dando a ideia de que se consideram vassalos da majestade
filipina.
Ainda de mencionar quatro coisas:
- primeira, a que parece ser
medida consertada pelas duas partes (portuguesa e espanhola) de manterem as
populações dos dois países na ignorância da questão de Olivença;
- segunda, a política de Espanha,
prosseguida ao longo do tempo, de fazer uma intensa colonização de Olivença,
hoje ocupada por uma maioria de espanhóis;
- terceira, a dos governantes
portugueses nunca se referirem a Olivença; qual tabu, que lhes convirá
esquecer, até para não causar perturbação nas relações de amizade que têm com
os colegas da nação vizinha – o que é uma atitude de lesa-pátria.
- quarta, o relato diacrónico e
histórico de Portugal refere que o país esteve desde a data da sua fundação
envolvido em guerras e lutas de vária natureza com Castela e Espanha, por
motivos das sucessivas intervenções armadas de que ia sendo vítima. A designada
guerra das laranjas deu pretexto e
ocasião para Espanha ocupar Olivença e a subtrair da soberania portuguesa;
facto que desde 1817 até à actualidade tem sido negligenciado pelos governos
portugueses. Nos últimos tempos da era democrática tem-se acentuado o tom de
cordialidade e subserviência do Poder nacional face à Monarquia de Espanha. Um
pouco à semelhança do ditado: “Quanto mais me bates, mais gosto de ti”. Não
podíamos estar mais em desacordo. O repúdio por tal aviltante submissão dos
dirigentes nacionais tem de ser plenamente assumido pelo povo português.
Toda a problemática de Olivença
impõe uma inovadora norma de actuação específica; a qual, em termos de
aplicação imediata, se deve traduzir na apresentação no Tribunal Internacional
da Haia de uma acção judicial com base no Tratado de Viena de 1815, visando o
objectivo de esse órgão de Justiça impor à Espanha a transferência, sem
delongas, da soberania de Olivença, ilegitimamente mantida pela Monarquia de
Espanha, para a legítima soberania de Portugal; aliás, esta, consagrada no
Artigo 5.º, n.º 1, da Constituição da República Portuguesa, que estabelece: “Portugal
abrange o território historicamente definido no continente europeu e os
arquipélagos dos Açores e da Madeira.”
Olivença é parcela de Portugal:
“território historicamente definido no continente europeu.”
Entretanto, nos futuros encontros
com os dirigentes espanhóis os governantes portugueses levariam na carteira
dois papéis:
- um, com inclusão dos termos da
ratificação pela Espanha, em 1817, do Tratado de Viena de 1815, que logo no
início de conversa leriam em voz alta para os interlocutores bem ouvirem e
ficarem cientes de que se exigia que ali mesmo fosse tomada a decisão conforme
ao que os antecessores de 1817 tinham aprovado: devolução de Olivença a
Portugal. Isso recusado, determinaria a anulação da conferência.
- outro, contendo a estrofe dos
Lusíadas, de Luís de Camões (que a seguir se transcreve), para os delegados
portugueses terem bem presentes a prevenção nela inserida.
O RECADO QUE TRAZEM É
DE AMIGOS,
MAS DEBAIXO O VENENO
VEM COBERTO,
QUE OS PENSAMENTOS
ERAM DE INIMIGOS,
SEGUNDO FOI O ENGANO
DESCOBERTO.
OH! GRANDES E
GRAVÍSSIMOS PERIGOS,
OH! CAMINHO DE VIDA
NUNCA CERTO,
QUE ONDE A GENTE PÕE
SUA ESPERANÇA
TENHA A VIDA TÃO
POUCA SEGURANÇA!
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