A BRASILIANA CRIATURA FACE AO
MAGNIFICENTE ETERNO FEMININO
(Continuação)
Parte II
Por Brasilino Godinho
Dos “machos latinos” que se
mostram muito afeiçoados às pessoas do sexo feminino e afeitos a diversas
aventuras amorosas e dessas exibições e hábito fazem alarde grotesco e
presunçoso, é costume dizer-se que têm um “fraquinho
por mulheres”.
Sem partilhar a patética e
extravagante expressão da pretensa viril condição de latinidade e do
exibicionismo de tal espécie animalesca, devo informar que não tenho um
fraquinho por mulheres. Pela simples e determinante razão de ter, sim, um abrangente
fortíssimo por mulheres…
E com elas desde a infância fui
convivendo e apreendendo o potencial de capacidades múltiplas que lhes é
próprio e que tão valioso se demonstrou na formação da personalidade
brasiliana.
Logo nos tempos de meninice fui
beneficiando dos carinhos da mãe, das avós e tias e de mimos das senhoras que
me iam conhecendo ou cruzando-se comigo Também tendo agrado do companheirismo
das vizinhas parceiras de brincadeiras infantis, E logo nesses tempos em mim se
foi radicando paulatinamente um sentimento de afeição e de admiração, mesmo de
respeito, para com as meninas, das quais apercebía subtis diferenças comportamentais
e de sensibilidade relativamente aos meninos.
O ter partilhado convívio
fraterno durante a infância e a adolescência com a minha irmã Carmen (dois anos
mais velha) foi gratificante e enraizou os sentimentos latentes desde a
infância relativamente à pessoa feminina.
Desse relacionamento intrafamiliar,
só tenho uma razão de queixa; da qual, conservo residual lembrança reportada
aos desagradáveis acompanhamentos de minha irmã sempre que ela ia à
cabeleireira D. Júlia Faria, cujo salão se situava no 1.º andar de um edifício
onde no r/c existia a loja de fazendas Valério, na Rua Infantaria 15, da cidade
de Tomar.
Digo: sem culpa formada por
parte da minha irmã; porque ela não era tida, nem achada em tais
circunstâncias.
Os meus pais obrigavam-me a
acompanhá-la na ida e a buscá-la no regresso. Era uma grande estopada. Pois que
na altura do regresso acontecia ter de esperar largo tempo – chateado que nem
um peru, especado à porta de entrada - que ela descesse as escadas do salão,
visto que a “permanente” demorava sempre mais tempo a fazer do que tinha sido
previsto na ida.
Nos tempos da frequência da Escola
Industrial e Comercial Jácome Ratton, em Tomar, tive interessantes
relacionamentos com colegas e o privilégio de, na condição de aluno adolescente,
aí com dezassete anos de idade, dispensar culto de veneração a uma lindíssima
professora de Português, com quem tive um desaguisado decorrente de uma
redacção por ela indicada como trabalho de casa e tendo por tema a apreciação
do aluno sobre a personalidade da própria professora.
De que ela se havia de lembrar! E
não é que o Brasilino elabora uma redacção que, embora formulada em termos respeitosos,
exalta a corporal beleza física, os lindos olhos, emoldurando um belo rosto,
encimado por uma cabeça bem modelada onde resplandece uma farta cabeleira
loira, o fascinante altar-mor, o requebro do andar pausado e imponente, o tom
de voz suave e cativante, sem esquecer a capacidade de transmitir conhecimentos
e bem leccionar a matéria concernente à disciplina de Português.
Um texto atrevido, pleno de
ironia, qual ramalhete especial que, inequivocamente, retratava o esplendor da
pessoa e suscitava a admiração de quem (Brasilino Godinho) preza a Beleza em
toda a sua pujança, fortaleza e magnitude.
Porém, a professora não esperando
tal atrevimento do adolescente Brasilimo, não gostou do que leu e… “vingou-se”!
Chumbou o Brasilino! Ficou mal configurada na fotografia. Não fiquei
minimamente agastado, Tinha sido solicitado a escrever sobre ela. Limitei-me a
cumprir! Expondo em letra de forma as impressões que tinha recolhido sobre a
professora. Traduzi o que sentia, consciente de que a reacção da professora talvez
fosse aquela que veio a expressar.
Outrossim, assumindo a responsabilidade do
acto em consonância com a norma, já então por mim praticada no pessoal viver
quotidiano, de sempre ser igual a mim mesmo – jamais usando máscaras de
encobrimento e de fingimento.
Devo esclarecer que não se me ocorreram então – e
nos longos anos que conto de vida - quaisquer ressentimentos pela professoral
atitude e pela reprovação da disciplina.
Até por que me revejo, com
aprazimento, no teor e na significação da referida peça escrita que acabou por
ser a minha primeira exultante apologia manuscrita daquilo que designo por
eterno feminino.
Sem dúvida que tal redacção é um inesquecível marco histórico
na longa vida escolar/académica e no historial literário de Brasilino Godinho.
Legenda da foto:
Peru chateado que nem Brasilino Godinho... em 1947,
em Tomar, especado, nalgumas ocasiões.
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