NOTÍCIAS DA UNIVERSIDADE DE AVEIRO
Por Brasilino Godinho
01. Ontem, dia 20/11/2019,
realizou-se - pela primeira vez – uma sessão exclusivamente consagrada à
distribuição de prémios aos melhores alunos da Universidade de Aveiro.
A cerimónia ocorreu no auditório
Renato Araújo, da Reitoria da Universidade.
A partir daqui, cantinho onde nos
encontramos e em lugar cativo do grupo AUA - AMIGOS, UNIVERSIDADE, AVEIRO,
saudamos a meritória iniciativa da Reitoria e felicitamos os galardoados;
expressando-lhes os votos de que prossigam os estudos sem desfalecimentos e com
a continuação dos melhores aproveitamentos escolares.
02. Na mesma data, foi anunciado
que vão ser criados: “um prémio para Melhor Docente, Melhor Investigador,
Melhor Funcionário Técnico, Administrativo e de Gestão”.
Compreendemos a ideia de
estimulação que está subjacente à iniciativa ora prevista.
Mas seja-nos permitido que
manifestemos algumas reservas quanto ao alcance dela advindo, traduzido em
práticos efeitos benéficos para a quotidiana vivência da academia aveirense.
Manifestação que é tida em sede pessoal,
no pressuposto de que possa ser motivadora de reflexão sobre a sua pertinência
e validade.
03. Qualquer ser animal é por
natureza conflituoso. O homem tem nele arreigado esse instinto animalesco. E a
todo o tempo o evidencia nos seus comportamentos mais ou menos agressivos e nas
mais díspares circunstâncias: no seio da família, no emprego, nas relações
sociais.
E é, geralmente, no exercício da
actividade profissional onde a inata agressividade do indivíduo se expressa com
mais frequência e intensidade. Afinal, virulência nem sempre controlada nos
limites da decência e no respeito que nos devemos uns aos outros. Seja suscitada
pela intensa e absorvente competição entre iguais, seja por inveja, seja pelo
extravasar atitudes descontroladas, impulsivas e muitas vezes, também, por
actos reflexos de mau carácter da pessoa que, não raro, se torna antipática
para a sociedade em que está integrada.
E se numa família, por vezes, são
criadas imprevistas dificuldades de relacionamento; num emprego partilhado com
centenas de pessoas onde coabitam várias sensibilidades e múltiplos interesses,
sempre prevalecem situações de profunda desarmonia social que geram e dão
sustentabilidade a um penoso clima de mau relacionamento inter-pares.
04. Isto escrito para anotar que uma universidade
como a de Aveiro, pela sua dimensão e importância, está inevitavelmente na
contingência de nela se desenvolverem situações melindrosas de conflitos de
sensibilidades diferentemente condicionadas pela suas específicas tendências e
interesses pessoais ou de grupos ad hoc formados com determinados objectivos,
nem sempre claros ou recomendáveis.
Certamente que o mais desejável é
que na Universidade de Aveiro e em qualquer época exista um natural, regular,
harmonioso e eficaz funcionamento de toda a sua estrutura organizativa.
Porém, na nossa perspectiva,
admitimos que os prémios para melhores docentes e investigadores vai distraí-los
das suas absorventes e meritórias ocupações e incentivá-los no propósito de, a
qualquer preço ou jeito, alcançarem o aludido prémio.
Também e principalmente, será
introduzido um factor de perturbação num ambiente que se desejaria calmo,
produtivo e isento de estéreis e prejudiciais convulsões internas.
Outrossim, a nosso ver, um professor,
um investigador, exerce, trabalha, investiga, por ser a sua missão e não procede
com mira na vã glória de ser considerado o melhor entre os seus pares. E não
necessita de actuar motivado no propósito de alcançar tal destaque
profissional. O qual, é contingente, de difícil e complexo apuramento, e fautor
de controvérsias, despeitos, invejas, e divisionismos que, tudo leva a crer, seriam
muito lesivos da regular vida quotidiana da Universidade de Aveiro.
Mal iria prosseguindo o Ensino se
os professores e investigadores tivessem que se envolver em lutas fratricidas
para um ou outro ser premiado como o melhor na sua especialidade – sempre a
determinar sob critérios subjectivos ou quantitativos de pretensos resultados
maioritários de produções várias de hipotética clara objectividade.
De facto, uns e outros que se
deveriam considerar mutuamente como colegas e amigos leais, passariam a ser adversários
desconfiados que se vigiam, se invejam, se hostilizam e se tornam,
invariavelmente, calculistas, quiçá até intriguistas.
Resumindo: que estas minhas
considerações sejam credenciadas como singela contribuição à Universidade de
Aveiro, que muito estimo e com a qual estou profundamente relacionado.
Nota pessoal:
- Na qualidade de cronista que muito
porfiou - nos finais dos anos sessenta e princípios dos anos setenta - na
imprensa, pela criação da Universidade de Aveiro;
- na condição de projectista das
infra-estruturas da ampla zona localizada a sul da antiga praceta (junta ao
CIFOP), do Campus da Universidade de Aveiro;
- na agradável situação de ser um
ex-aluno da Universidade de Aveiro, que com mais elevada idade (77 anos) foi
seu caloiro, licenciado e doutorado, com boas classificações, no decurso de 8 anos
de frequências assíduas a todas as disciplinas dos currículos dos cursos de
Licenciatura e Doutoramento; e, sobretudo, por poder afirmar alto e bom som que
Brasilino Godinho é em Aveiro e Portugal o cidadão que tem mais prolongada,
abrangente e multifacetada ligação à Universidade de Aveiro (ligação à
universidade aveirense contada desde os seus primórdios);
- senti obrigação moral e
sujeição cívica em vir aqui expender as precedentes, breves, considerações
sobre a problemática dos prémios ora anunciados.
Termino com um apropriado parêntesis.
A afirmação de que sou “o cidadão que tem mais prolongada, abrangente e multifacetada
ligação à Universidade de Aveiro” é feita por ser verdadeira, para que
conste nos meios mal informados e, sobretudo, pelo prazer que sinto em chatear
(passe o termo) alguns amigos da onça e uns meus raros inimigos de estimação;
e, simultaneamente, como sou benevolente, lhes dar oportunidade para virem ufanos
à praça pública dizerem: Reparem como o Brasilino Godinho é vaidoso e imodesto…
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