O
mistério do fotocopista Paulo Portas
Brasilino
Godinho
Imaginando
uma história afim da realidade
Para bem nos
situarmos na complexidade da mágica de prestidigitação que envolve
o intrigante mistério do fotocopista Paulo Portas e das milhares
fotocópias que tirou de documentos arquivados no ministério,
durante uma noite e madrugada não dormida, mas de presumível
azáfama operativa na véspera de cessar funções de ministro da
Defesa Nacional, comecemos por imaginar que:
- Hoje um jornal diário traz a notícia de que anteontem um modesto trabalhador do Ministério da Defesa Nacional na véspera de cessar as suas funções, em vez de sair no termo do seu horário de trabalho, às 17:30', deixa-se ficar nas instalações e já sem a presença dos restantes funcionários, inicia a exaustiva tarefa de fotocopiar milhares e milhares de documentos. Tarefa que se prolongou por toda a noite e madrugada. Ao que se supõe, o funcionário terá sido ajudado por alguns comparsas amigos.
- Anos depois (quando já o facto estiver esquecido pelo público), talvez que, por consequência, descobre-se que desapareceram alguns importantes documentos relacionados com a aquisição de submarinos a uma empresa da Alemanha.
Sobre o caso a
que alude o ponto 1 interrogamos o leitor:
a). Qual a
razão do funcionário, por seu livre arbítrio, extrair fotocópias
de documentos dum órgão tão importante do governo e,
possivelmente, com teores de grande confidencialidade e de extrema
relevância nacional? Que aplicação lhes dará? O que, o
prevaricador, numa acção preventiva, pretende encobrir e (ou)
justificar de expedientes e matérias ilícitas? Suas práticas
irregulares ou de terceiros que quer proteger?
b). O delito do
funcionário é muito grave. Transgride as normas da legalidade que
lhe são aplicáveis. É um abuso de confiança e de exorbitação de
poder. Ofende os preceitos da ética. Implica a necessidade de
investigação judicial porque está em jogo: quer a indevida
apropriação de património; quer o custo de materiais utilizados em
proveito pessoal; quer a própria segurança da República.
c). Pensemos:
Que vai acontecer ao modesto funcionário que cometeu o delito?
Certamente, que
será aberto um inquérito, haverá um processo disciplinar e feita
a averiguação da responsabilidade criminal. De pronto, é
constituído arguido; rapidamente, é julgado e condenado.
A
realidade afim da hsitória imaginada
A realidade que
vamos expor tem a ver com o denso mistério do fotocopista Paulo
Portas.
Ao tempo da
saída de Paulo Portas do Ministério da Defesa Nacional alguns
jornais noticiaram que o governante, na véspera do dia último de
exercício das funções de ministro da Defesa Nacional, tinha
passado a noite e a madrugada (entretido... será o termo
apropriado?) a extrair milhares de fotocópias.
Uma actuação
anómala, incompreensível e de contornos obscuros, porque não pode
ser dissociada da corrupção assinalada na compra dos submarinos e
de outros equipamentos militares. Anote-se que os corruptos alemães
envolvidos no fraudulento negócio já foram condenados pelos
tribunais germânicos, enquanto em Portugal decorrem há vários anos
investigações sem fim à vista; provavelmente, programadas para se
articularem com o regime das prescrições.
Ainda há
poucos dias um jornalista do diário
i deu informação de que, para além dos membros
da família Espírito Santo, havia alguém que teria recebido milhões
de luvas do negócio dos submarinos. Quem? Que diz a Justiça? Nada!
As autoridades
judiciais estavam distraídas e alhearam-se da extrema gravidade
delituosa que é de atribuir a tal actuação de Paulo Portas.
Anote-se que nem um simples inquérito ou processo disciplinar foi
realizado (a propósito: os ministros deviam estar sujeitos a
processos disciplinares sempre que indiciados em ilícitos). Os
jornalistas assobiaram para o lado. Os governantes e políticos de
todos os partidos não lhe dispensaram a devida ponderação.
Há tempos
apurou-se no Ministério da Defesa Nacional (repare-se: não é um
qualquer ministério de somenos importância) que desapareceram
documentos. Quais? Imagine-se: logo haviam de desaparecer os
documentos relativos às compras de equipamentos militares, incluindo
os famigerados submarinos.
Quer a actuação
delituosa de Paulo Portas, quer o desaparecimento de documentos do
ministério que chefiou, aconteceram impunemente sem ter havido séria
e competente investigação sobre as duas esquisitas situações.
De
registar que na semana transacta uma comissão da Assembleia da
República concluiu um apelidado
inquérito parlamentar que se limitou a isentar de responsabilidades
os políticos que, de algum modo, lidaram com os processos de
aquisição dos equipamentos militares. Aliás, uma conclusão
prevista desde que devidamente compatibilizada com os expedientes de
alijar responsabilidades, muito usuais na referida assembleia. Todos
sabemos que os inquéritos parlamentares se traduzem em dois
procedimentos: de condenar quantos investigados integrantes das
minorias; de ilibar os prevaricadores pertencentes aos partidos da
maioria.
Em vista disso
e, a título de excepção, com um pouco de indulgência, dizemos aos
deputados protagonistas dessas comédias dos inquéritos
parlamentares o seguinte: contemplem-se na desfaçatez e festejem-se
até ao exaustão, no gozo das vossas incoerentes, ilógicas e
falseadas decisões. Até a um dia... de higienização geral que
tarda em chegar.
Pela nossa
parte, caros e atentos leitores, deixemo-nos de tretas. Sejamos
objectivos: se milhares de documentos foram no Ministério da Defesa
Nacional abusivamente fotocopiados por Paulo Portas em violação de
todos os preceitos regulamentares, das normas legais, de elementares
regras da Ética e dos imperativos deveres concernentes à
Deontologia Governativa, então por que nem admitir que nessa mesma
madrugada tenham levado sumiço os tais documentos, porventura muito
comprometedores? E se assim terá sido, qual o motivo porque a Paulo
Portas não se atribuem todas as responsabilidades? E como não
investigar com rigor o aludido procedimento de Paulo Portas? Quem de
direito está à espera de quê? E porquê?
Uma última e
crucial interrogação: A explicação do que se passou com a
negociata dos submarinos e as contrapartidas previstas e nunca
devidamente concretizadas, não terá a haver com esta história
nunca bem contada das fotocópias do fotocopista Paulo Portas? Talvez
que nela esteja fixada a grande matriz do escândalo que vai
flutuando nas águas muito turvas e conspurcadas da política
nacional.
Deixo as
perguntas. Também declaro a minha convicção de que não virá a
público nenhuma resposta.
Pela simples
razão de Portugal ser um dos países onde:
- mais existe a
corrupção;
- subjaz o
compadrio e o clientelismo;
- bastante se
valoriza a mediocridade e a ignorância encartada;
- muito se
aplaude o oportunista e o vendedor de banha da cobra;
- está
instalado o medo,
- prolifera a
prática da perseguição e vingança por parte dos governantes;
- não há uma
justiça que puna exemplarmente os poderosos pelos actos ilícitos; -
- existe uma generalizada apatia face à gravíssima degradação
sociopolítica vigente.
Fim
Nota
marginal – Mais uma preciosidade do Prof. Doutor Marcelo Rebelo de
Sousa, apresentada há instantes na TVI.
A hipocrisia
consagrada como valor máximo a prosseguir a bem do triunfo da
coligação nas próximas eleições legislativas.
O professor
advoga que custe o que custar nunca Passos Coelho, Paulo Portas e os
dois partidos da coligação, devem transmitir aos portugueses a
impressão de que estão desavindos ou com problemas de
relacionamento e opiniões divergentes sobre as orientações
políticas.
Ou
seja: o professor Marcelo entende que é preciso disfarçar. Fingir
que estão unidos. Se a coligação quere ganhar as eleições têm
de proceder assim. O país nãp importa. Nem a deplorável situação
da maioria dos cidadãos portugueses lhe merece atenção. O que
interessa ao professor Marcelo, a Passos Coelho, Paulo Portas e aos
seus dois partidos é o domínio do Poder e as correlativas benesses
e mordomias – numa palavra: a efectiva exploração da QUINTA
LUSITANA, sem obstáculos ou impedimentos.
Fiquemos
com a certeza: valor importante para o professor Marcelo é o
exercício continuado da hipocrisia e do cinismo para muito enganar e
confundir os eleitores portugueses. Neste domínio da manipulação
das mentes o professor Marcelo sente-se como peixe na água da baía
de Cascais. Nesse mar costeiro tem longa prática de flutuação... É
consagrado Mestre com créditos firmados e amplamente reconhecidos.
Mais
uma grande lição(...) do Professor Marcelo, das muitas semelhantes
que tem leccionado ao longo dos muitos anos das suas charlas
televisivas.
Enfim,
algo bastante elucidativo do elevado magistério moral e superior
doutrinação política do famoso comentador televisivo...
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