O
ATESTADO DE INDIGÊNCIA SOCIOPOLÍTICA
QUE
FALTAVA A UM INCRÍVEL COELHO PEDRO
DE
MUITOS, VÁRIOS, COMPROMETIDOS PASSOS
Breves notas de Brasilino Godinho
O 'Diário de Aveiro', na sua edição de hoje, traz
a seguinte notícia:
«O primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, já
enviou à Procuradoria-Geral da República uma carta pedindo
esclarecimentos sobre se cometeu ou não algum ilícito relativo às
suas obrigações legais e fiscais enquanto foi deputado».
Pelos vistos, Coelho
tem fraca visão... O Zé-Povinho, se não estiver distraído e com a
sua proverbial irreverência, comentará: «Não enxerga um
palmo à frente do nariz».
A acreditar no que veio publicado num jornal lisboeta
este expediente de Passos Coelho foi precedido de uma noite e
madrugada de extenuante actividade que ocupou o pessoal e o titular
da presidência do Conselho de Ministros. Segundo se supõe teria
sido improvisada na residência oficial do chefe do governo uma
oficina de pirotecnia, na qual se procedeu à produção do
fogo-de-artifício que já começa a ser exibido em Lisboa, ao redor
do corredor de ligação entre os Palácios de S. Bento e de Belém.
Por sua vez, o diário 'Público', de hoje, traz na
primeira página, em título de manchete, a informação de que:
«Documentos assinados por
Passos desmentem Parlamento»
e as fotos
de dois documentos comprometedores para Passos Coelho e para a
Assembleia da República. «Documentos
assinados por
Importa proclamar: Bonita vai a brincadeira! Obsceno
se mostra o espectáculo! Indecentes os desempenhos dos artistas!
Quem neste país, não for analfabeto primário,
analfabeto funcional, analfabeto cultural, mentecapto e (ou) não
estiver corrompido pelo clientelismo partidário, ao ler a peça do
'Público' extrai, de imediato, a conclusão de que até a Assembleia
da República entrou no jogo do compadrio e do encobrimento do grande
chefe Coelho.
Passos Coelho em vez
de esclarecer o caso em que está emvolvido, vai assobiando para o
lado e tem recorrido a expedientes dilatórios: primeiro, recorre à
Assembleia da República para lhe dar uma mãozinha de apoio; depois,
solicita à Procuradoria-Geral da República para investigar, -
sabendo, de antemão, através dos advogados compinchas, que não
haverá processo incriminatório porque os eventuais ilícitos já
prescreveram. Prescrições que foram propositadamente congeminadas
para protecção ad perpetuam
das pessoas influentes e poderosas deste país.
Para enegrecer mais o quadro e borrar excessivamente
a pintura, dá-se a invulgar circunstância de que Passos Coelho
sofre, nesta altura do seu campeonato de luta não livre, da
ocasional incidência de três tipos de amnésia: amnésia de fixação
(a sua conhecida incapacidade de se lembrar das promessas antigas e
recentes); de amnésia lacunar (que incide sobre ele nos períodos de
confusão, como está agora sucedendo); de amnésia sistemática
(devida a factos, cuja lembrança se torna muito dolorosa para o
paciente que é, actualmente, a coelhal figura).
Decerto que todos havemos de concordar que são
demasiadas amnésias acumuladas num tão frágil animal racional da
nomenclatura alaranjada.
Aliás, as amnésias estão na moda e convertidas em
epidemia que vai afectando as soberbas criaturas da nossa mais
vistosa sociedade da linha dos Estoris, certas rapaziadas das
avenidas novas de Lisboa e algumas expeditas e engenhosas
individualidades arrelvadas que abancam, alegremente e com grande
sofreguidão, à mesa do Orçamento.
Todavia e abstraindo da gravidade das amnésias que o
afligem, Passos Coelho, teve o mérito - certamente que involuntário
e para si indesejável, em contraposição do grande acolhimento que
tem para a opinião pública - de ter praticado o impensável: com a
carta do pedido de esclarecimento sobre as suas obrigações fiscais
e legais, endereçado à Procuradoria-Geral da República, passou a
si próprio um elucidativo e proficiente atestado de menoridade
cívica e de se encontrar numa confrangedora situação de indigência
sociopolítca e numa tristíssima condição de incompetência
profissional.
Este, o atestado que faltava e que o próprio nos
veio agora facultar conhecimento. Sobretudo importante porque
confirma a avaliação há muito feita pelo povo português.
Explicando a
terminologia do atestado:
A indigência sociopolítica é uma situação de
quem vive em condições de miséria moral, social e política, com
necessidades básicas de moralidade, de seriedade, de pudor, de
transparência cívica, de honestidade intelectual, de respeito por
si mesmo e pelos concidadãos.
A incompetência profissional de Passos Coelho,
voluntariamente assumida e, neste caso, demonstrada na falta de
conhecimento das leis e normas que regem a sociedade e o
funcionamento das instituições, especialmente no que concerne às
obrigações fiscais, é uma falha muito grave e, absolutamente, sem
remissão, condenável num chefe do governo.
Como se pode admitir
que Passos Coelho não saiba distinguir o que é lícito e ilícito?
Que se permita ignorar as
leis fiscais? Que seja incapaz de ajuizar do cumprimento ou
incumprimento dos seus deveres de contribuinte fiscal? E, ainda, que
desconheça as normas regulamentares da assembleia dos deputados que
integrou durante duas legislaturas?
Neste ponto há que
referir o axioma que Passos Coelho, igualmente, mostra desconhecer:
“O desconhecimento da lei não aproveita a ninguém”.
Por maioria de razões, o desconhecimento da lei não pode aproveitar
a um governante do topo da hierarquia do poder executivo do Estado.
Uma última anotação para transmitir uma coisa
muito simples aos deputados que na Assembleia da República disseram
acreditar na palavra do primeiro-ministro Passos Coelho: se há em
Portugal alguém profundamente desacreditado e em quem não se pode
acreditar é, precisamente, o cidadão Pedro Passos Coelho. Neste
particular aspecto, registe-se que bem acompanhado e melhor secundado
por outro grande artista malabarista do nosso circo político: o
«irrevogável» Paulo Portas.
E este é, sem dúvida, o sentir da esmagadora
maioria dos portugueses.
Também deixo uma recomendação final: os meus
leitores leiam o jornal Público, edição de hoje, 25 de Setembro de
2014. Para ficarem conhecendo melhor a capoeira de telhados de vidro
onde se acolhe a coelhal figura da desgovernação nacional.
0 Comentários:
Enviar um comentário
<< Página Principal