POR
ESCABROSO ABUSO DE POLÍTICOS E JORNALISTAS
UM
GRANDE ESTRAGO JÁ CHEGOU AO VOCABULÁRIO:
UM
SUBSTANTIVO E VERBO ORA TORNADOS MALDITOS.
Por
Brasilino Godinho
No
Portugal de hoje, mal configurado numa “Quinta Lusitana”
intensamente dominada e explorada por uma minoria de “senhores
cinzentos” de que falava o falecido Professor de Direito, Doutor
António de Sousa Franco e pior inserido no pântano antevisto pelo
famoso engenheiro electrotécnico António Oliveira Guterres de
nebulosa memória; pegou moda de governantes associados ao
grande-chefe Pedro Passos Coelho, de jornalistas tipo de gente
despachada e (quem diria?) até do actual governador do Banco de
Portugal, a utilização descabida e inapropriada do substantivo
'garantia'
e
do verbo ''garantir'
conjugado nas pessoas, nos tempos e nos modos das suas especiais
apetências de muito confundir e bastante iludir os cidadãos deste
país. E não só os portugueses. O conhecimento do requinte de
intrujar por parte de certa gente do mau Estado que temos, já
transpôs fronteiras. Ainda há dias entidades estrangeiras, como o
presidente do Crédit Agricole de France, se lamentaram na praça
pública internacional e com todas as letras proclamaram 'urbi et
orbi' que tinham sido enganados pelo banco BES e pelo regulador
bancário que seria suposto ser o Banco de Portugal.
Outrossim,
anteontem o conhecido, respeitado, economista belga, Professor Doutor
Paul De Grauwe, declarava - em tom de alta sonoridade - que o governo
português está a enganar os portugueses quando diz que os encargos
com o resgate do BES/NOVO BANCO não são nem serão suportados pelos
contribuintes portugueses.
Facto
incontestável: de algum modo e pela chamada porta do cavalo, isso
está sucedendo. Negar esta evidência que não escapa a observadores
atentos e bem intencionados é uma indecorosa falácia.
Pois
os governantes e seus (bem pagos) agentes publicitários actuantes
nos jornais e televisões, persistam nas tentativas de enganar os
portugueses mais propensos a aceitar a conversa da treta e a
acreditar nos efeitos curativos da banha de cobra. Mas em todos nós,
que não vamos em cantigas de “amigos da onça” e nos contos do
vigário, prevaleçam duas certezas, entretanto adquiridas: uma, a do
embuste em sede governamental que está sendo prosseguido a todo o
vapor; outra, a de que as excelências da equipa governamental não
iludem os mercados internacionais (sigam-se os desenvolvimentos das
cotações nas bolsas: de Lisboa e internacionais).
Desde
há três anos que, progressivamente, se vem acentuando o abuso, por
parte de governantes e de jornalistas, de se atribuirem às
declarações de Cavaco Silva, Passos Coelho, Paulo Portas, Victor
Gaspar, Maria Luís Albuqurque, ministros e secretários de Estado, o
selo da 'garantia
de coisa nenhuma'
como se vem constatando com o decorrer do tempo.
É
frequente ouvir-se ou ler-se: umas vezes, sua excelência 'deu
a garantia';
noutras ocasiões sua excelência 'garante'
- quer assim extrapolado das declarações dos próprios, quer por a
'garantia'
ser atribuída pelos jornalistas quando dão as notícias das mesmas
ou quando os comentadores avençados das televisões lançam os seus,
por vezes, delirantes ou desconexos palpites sobre os factos.
Inolvidáveis
artífices das 'garantias/promessas'
(falsas,
como tem sido demonstrado à medida que o tempo passa)
foram
e continuam sendo Passos Coelho, Miguel Relvas, Paulo Portas, Victor
Gaspar, Maria Luís Albuquerque e Cavaco Silva.
Convenhamos:
no que toca a governante 'dar
garantias'
trata-se de uma prática indecente e que já causa nauseas. Pior: tem
provocado enormes danos em vários sectores da sociedade portuguesa.
Por exemplo, atente-se nos últimos episódios relacionados com o
BES: as convulsões nos mercados bolsistas, a devastação financeira
e o correlativo descalabro na economia portuguesa, gerados com a
faléncia do BES – um banco que beneficiava de todas as 'garantias'
de Passos Coelho (grande presidente do Conselho de Ministros, de
Maria Luís Albuquerque (ministra de Estado e das Finanças), de
Carlos Costa (presidente do Conselho de Administração do Banco de
Portugal) e, ainda, do presidente da República, Cavaco Silva.
Ocorre
indagar: Que 'garantias'
- tantas e de altas proveniências - foram essas que, num ápice, se
evolaram como o fumo? Afinal, a existirem, ficou provada a total
vacuidade das mesmas. Mas, se não existentes, ficaram expostos o
engano aos contribuintes e a facilidade com que se recorre a
expedientes de todo condenáveis e lesivos da reputação da
Administração como entidade credível, séria e transparente no
relacionamento com os cidadãos.
O
que se tem passado nos últimos tempos com as 'garantias'
atribuídas
às declarações de Cavaco Silva, Passos Coelho, Paulo Portas,
Vicor Gaspar, Maria Luís Albuquerque, ministros e de outras
entidades ditas responsáveis, ultrapassa todos as limites, demasiado
condescendentes da indecência e da insensatez. De um imenso rol de
'garantias'
sugeridas à opinião pública, não se aproveitou nenhuma - falharam
todas! Excepto, uma. Só a garantia de Passos Coelho, referente à
pobreza generalizada que prometeu, após ter tomado posse do cargo
que exerce, foi cumprida com obscena persistência, grande desaforo e
enorme agressividade. Este deplorável sucesso é a verdadeira coroa
de Pedro Passos Coelho, traduzível numa bacoca, deslustrante e
efémera glória.
O
que tudo isto induz é que a deprimente trindade de floridas espécies
alaranjadas de emblemática produção da “Quinta Lusitana”: um
presidente da República (venerando chefe de Estado, Cavaco Silva),
um governo (sob o comando do grande-chefe Passos Coelho) e uma
maioria (de deputados alinhados que nem cordeiros e ovelhas de
rebanho, desfrutados no redil do governo PSD e CDS/PP) vem
funcionando com surpreendente esplendor de muito má eficácia; esta,
apontada à destruição de Portugal e ao aniquilamento do seu tecido
social.
Infelizmente,
há portugueses que, distraídos, resignados, temerosos, crédulos ou
fanáticos, se deixam iludir pelas famigeradas 'garantias'
que
o são de coisa nenhuma.
Formulo
uma advertência aos meus concidadãos: sempre que leiam ou ouçam os
propagandistas do governo e dos interesses soberanamente instalados
neste maltratado país, referirem que fulano e sicrano da governança
'deu garantia' (ou prometeu) seja lá do que for, procedam como se os
mandassem “dar uma volta ao bilhar grande” e, depois, sem lhes
dar cavaco, interroguem-se: Que garantias foram efectivamente
apresentadas? Quais as suas reais concretizações? Como se
apresentaram? Que formas e conteúdos nelas são efectivos? Onde se
expuseram ao público?
Consequência
da persistente nulidade que se foi verificando nas 'garantias'
(fantasiosas) dos detentores do Poder que têm sido publicitadas
pelos jornalistas que nelas se contemplam embevecidos e
subservientes, hemos chegados a um estádio em que já não se
suportam tamanhas blasfémias– entendam-se como graves ofensas à
inteligência do desprevenido cidadão. Também, (garantia) agora
palavra de mau agoiro, significativa de praga, sempre que pronunciada
por qualquer membro do clã governamental ou por indivíduo que a
este grémio cooperativo seja afim.
Doravante,
uma coisa podemos ter como certa: Quando um governante do grupo de
Passos Coelho e Paulo Portas vier dizer que garante isto ou aquilo,
ficamos - desde logo – alertados para o reverso da medalha que é
proposta e prevenidos de que vêm aí desgraças para os indígenas
portugueses e benefícios/lucros para os poderosos, bancos,
governantes e deputados.
Enfim,
substantivo garantia
e
verbo garantir
que
por obra e (des)ggraça de governantes e de alguns jornalistas se
tornaram vocábulos malditos a suscitarem repulsa sempre que
utilizadas por tais grandes malabaristas do dramático circo
político/social que está instalado em Portugal.
Nota
pessoal - Uma coisa vos digo, prezadas leitoras e caros leitores: se
fosse chefe de redacção de qualquer órgão de comunicação social
estaria atento às intervenções orais e escritas dos jornalistas,
membros do corpo redactorial, no sentido de, enquanto prevalecente
este tempo de descalabro políticosocial, impedir o uso do verbo
garantir nos textos e nas reportagens referentes a declarações
dos membros do governo. Até por uma profiláctica medida de higiene
mental.
Também
como instrumento de saneamento do meio ambiente que de dia para dia
se torna cada vez mais nojento...
Atenção
é devida à higiene mental – precisamente uma prática que urge
incentivar e adoptar por todos os cidadãos compenetrados dos deveres
e direitos inerentes à fruição da cidadania.
Fim
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