A
decisiva certeza:
Felipe
VI amigo, Cavaco Silva está contigo...
A
insólita novidade transmitida por Cavaco Silva:
“Portugal
tem carinho e simpatia para com a família real espanhola”
Visita oficial dos novos Reis de Espanha a Portugal
(LUSA)
FOTOGALERIA
Em visita muito rápida
tivemos, na p.p. segunda-feira, dia 07/7/2014, em Lisboa, o novo Rei
FelipeVI de Espanha e a sua esposa Rainha Letícia.
Foi tempo suficiente para mais
uns brilharetes do presidente Cavaco Silva...
Primeiro facto a registar é
que o nosso presidente virou historiador de Espanha.
Com a particularidade
interessante de ofertar à Espanha um registo que vai ficar
indelevelmente gravado nos anais da monarquia espanhola.
Muito compenetrado e fazendo
jus ao seu dom de nunca se enganar, Cavaco Silva disse a Felipe VI
que: «A proclamação de vossa
majestade como rei é um
momento determinante para o seu país e constitui uma renovação
geracional que marcará certamente a história de Espanha»
(por se tratar de um Felipe, até se estranha que embalado
pelo entusiasmo e pela pompa do cerimonial, não tivesse associado a
evocação dos reinados dos Filipes I, II e III, de Portugal...).
Para sua majestade Felipe VI
deve ter sido gratificante ter vindo a Lisboa para ouvir esta tirada,
dando-lhe a entender algo de que talvez ainda não se tivesse
apercebido. Depois, Felipe VI terá ficado sensibilizado com aquele
tom peremptório do presidente português; por demais acentuado com o
determinante “certamente”,
assim afastando em absoluto quaisquer dúvidas que pudessem surgir a
espíritos menos esclarecidos.
Mais de realçar na
grandiloquente tirada de Cavaco Silva é que ela se constitui como um
registo histórico que um português deixa consignado na própria
História de Espanha – e nesta proeza leva a dianteira a
historiadores do país vizinho.
Aliás, como se isto fosse
coisa de pouca monta, Cavaco Silva ainda louvou a “renovação
geracional que representa para a Espanha a recente proclamação de
Felipe VI como rei”. Aqui, neste ponto, também a
recordar aos espanhóis a importância do facto – não fossem eles
uns ingratos que se alheassem da transcendência do mesmo.
Mas apesar destes sucessos
mediáticos, presidente Cavaco Silva, tal como vai sendo hábito,
meteu o pé na poça por
duas vezes:
-
A primeira vez quando afirmou que Portugal
tem carinho e simpatia para com a família real espanhola.
Trata-se
de uma afirmação destituída de sentido da realidade. Que esses
sentimentos estejam bem radicados na recíproca amizade de longa data
(desde os tempos da juventude passados em Cascais) entre Francisco
Pinto Balsemão e o ex-rei Juan Carlos e sejam acolhidos no íntimo
de Cavaco Silva, no espírito de sua sereníssima esposa, D. Maria,
nas cândidas almas das tias da linha dos
Estoris, das costureirinhas da Sé e de quantas senhoras, senhorinhas
e senhoritas, muito dadas às leituras das revistas cor-de-rosa, é
de admitir sem grande esforço de apreensão das preferências de
tais admiradores(as) das realezas: sejam elas espanhola, de outras
nacionalidades, de beleza, de campeonatos de danças ou de simples
concursos de vestidos de chita.
Porém, dessas pessoais
evidências sentimentais, bem focadas em restritos sectores da
sociedade portuguesa, não se pode inferir que tenham correspondência
generalidade na população.
Além de que é extremamente
inexpressiva a atruibuição a Portugal de tais devoções a um
regime monárquico, ainda por cima estrangeiro. Ainda que isso
tivesse relação lógica seria inadmissível; qual abuso de
confiança e mesmo exorbitação das funções representativas, que
Cavaco Silva se permitisse colocar Portugal nessa posição de
reverência perante o Rei de Espanha.
E ainda que se pretendesse
envolver os portugueses, igualmente seria um descabido e abusivo
expediente de generalização de sentimentos que nem são
compartilhados pela maioria dos cidadãos de Portugal.
-
A segunda vez, quando considerou que a visita das majestades “traz
uma renovada confirmação da firmeza e profundidade das relações
entre Portugal e Espanha, vizinhos e amigos, que conhecem hoje um
relacionamento que se exprime no quadro de uma cooperação bilateral
que nunca foi tão vasta e intensa”.
Este é um discurso vazio e sem
contextura no quadro do relacionamento entre Portugal e Espanha.
Formulemos as interrogações:
- Renovada confirmação da
firmeza e profundidade das relações entre Portugal e Espanha,
vizinhos e amigos? Que firmeza? Qual profundidade? Vizinhos e amigos?
Com que grau e manifestações de amizade?
-
Que conhecem hoje um relacionamento que se exprime no quadro de uma
cooperação bilateral que nunca foi tão vasta e intensa? Que
relacionamento e que colaboração bilateral? Que nunca foi tão
vasta e intensa? Esta, de “tão
vasta e intensa”,
dava vontade de rir a bandeiras despregadas, se nos esquecêssemos de
alguns aspectos desagradáveis e muito preocupantes que complicam o
relacionamento entre as duas nações ibéricas.
E a todas as antecedentes
interrogações se justapõem, pelo menos, três situações que
desmentem o idílico quadro das relações bilaterais, desenhado pela
imaginação de Cavaco Silva.
Ei-las:
- Primeira situação - À
cabeça, a questão da devolução de Olivença à soberania de
Portugal a que a Espanha está obrigada desde 1815, por deliberação
do Congresso de Viena; a qual, confirmou por diploma subscrito em
1817, através do qual a Espanha reconheceu Olivença como território
de Portugal. E, em jeito de comparação, vale a pena relembrar
quanto a Espanha se tem empenhado na devolução de Gibraltar, por
parte da Grã-Bretanha, à sua posse. Uma atitude dúbia da Espanha
que reivindica aquilo que nega a Portugal: o inalienável direito ao
património territorial .
- Segunda situação - O
problema dos transvases de rios ibéricos, em Espanha, que causarão
diminuições dos caudais em território português, com nefastas
consequências ambientais.
- Terceira situação - A
construção de centrais nucleares estratégica e acintosamente
localizadas junto à fronteira portuguesa. Um perigo de morte para
populações ribeirinhas de Portugal. Uma latente e bastante
agressiva ameaça ao meio ambiente português.
Portanto e sem mais
considerações que seriam pertinentes, fica assinalado o tom
subserviente e acomodatício do presidente da República Portuguesa.
O que não serviu os superiores
interesses de Portugal e das suas gentes. Pelo contrário, mais
seriamente os mesmos ficaram comprometidos.
De modo que, ao arrepio das
eufóricas celebrações oficiais, continuamos cada vez mais
desgovernados, bastante desprotegidos, mui humilhados e, sobremodo,
ofendidos na nossa dignidade...
Fim
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