A
ISALTINADA NOVELA DE MORAIS,
O
GRANDE SENHOR DE OEIRAS
Um
novo episódio
Por Brasilino Godinho
|
Foto: Diário Digital
O
estabelecimento oficial designado por Cadeia de Carregueira, no
concelho de Sintra, é bastante conceituado devido à selecta
clientela que nele encontra excelente alojamento. Dir-se-ia que foi
concebido por uma inteligente cabeça - que se resguarda da
curiosidade do público - e com uma benemérita intenção: a de bem
acolher, com o maior conforto, os seus seleccionados clientes. Por
acaso, distintos membros da melhor sociedade discreta e (ou) da mais
representativa sociedade mediática que, por singular deferência
dos magistrados judiciais, são encaminhados para aquela estância
de lazer com vista a usufruirem de uma retemperadora pausa nas suas
mui preenchidas vidas...
E
assim, naturalmente, sucedeu a Isaltino Morais. Porém, este
conhecido político de Oeiras, quando há anos esforçados agentes do
Estado lhe acenaram com essa benesse, de aliciante ócio, mostrou-se
muito reticente; decerto, porque não estava predisposto a gozar tais
férias oferecidas pelo Estado e por entender que mais lhe
interessava prosseguir as tarefas que tinha em suas habilidosas mãos:
as quais, compreensivelmente, queria manter sempre ocupadas de modo a
evitar que nelas entrasse o carunchoso reumático.... Atilada decisão
de Isaltino Morais pois que 'homem prevenido vale por dois'...
Passaram-se
os anos (sete, ao que consta dos jornais) até que em princípios de
2013, Isaltino Morais, contrariado, aborrecido com tanta insistência
e após ter gasto uma pipa de massa com expedientes dilatórios
tendentes a dispensar-se, airosamente, sem ferir susceptibilidades
dos convidantes da prometida jornada de lazer na famigerada estância
da Carregueira, lá se resignou a aceder ao convite de cavalheiros
que, devidamente mandatados e uniformizados como estabelece o
protocolo, se apresentaram na Câmara Municipal de Oeiras e,
cortezmente, se dispuseram a acompanhá-lo ao palacete da
Carregueira, onde o instalaram com as devidas atenções inerentes ao
seu elevado estatuto de grande senhor de Oeiras.
O
que acabámos de descrever sucintamente é aquilo que se chama com
bastante propriedade e não menores prosperidades(...) a A
ISALTINADA NOVELA DE MORAIS, O GRANDE SENHOR DE OEIRAS.
Na
nossa descrição faltam referências aos inúmeros episódios da
isaltinada novela que, anteriormente, preencheram os programas das
emissões televisivas. Mas julgamos que ela dá uma ideia do que tem
sido a excitante sucessão de episódios, mais ou menos
melodramáticos e a que as televisões vêm dedicando muitos tempos
de antena e os jornais consumindo inúmeras resmas de papel.
E
a quando da instalação da isaltinada criatura no citado
estabelecimento de Carregueira a novela interrompeu-se de imediato. O
que deve ser encarado naturalmente; uma vez que o principal
protagonista ficou indisponível e não devia ser importunado no seu
período de absoluta tranquilidade. A interrupção da narrativa
manteve-se durante 426 dias, até que...
Eis
senão quando, ontem ocorreu mais uma filmagem de um novo episódio
da dita novela.
Rezam
as crónicas - confirmadas pelas visões, informações e
interpretações, das filmagens transmitidas ao respeitável público
- que três horas depois de ter sido exarado o despacho do Tribunal
da Relação de Lisboa (entidade que, ao que se presume, superintende
na atribuição de férias de tão específica natureza) que
determinava a saída do famoso hóspede do estabelecimento em que
esteve hospedado, já Isaltino Morais saía prazenteiro com liberdade
subordinada à condição de não se ausentar de Portugal durante os
próximos seis meses. Recomendação reveladora de perspicácia por
parte da entidade competente. Também, a evidenciar especiais
cuidados com a saúde e o bem-estar de Isaltino Morais. É que o
imprevisível Isaltino, folgado e rejuvenescido, poderia tentar-se a
fazer grandes e cansativas excursões pelo estrangeiro correndo
desnecessários riscos de acidentes nos percursos turísticos ou nas
tentadoras actividades de esqui nas neves da Suíça – país que se
julga ter lugar privilegiado no seu altruísta coração.
Também
foi prestada a informação de que o espera (imagine-se!) o lugar de
presidente de uma fundação. Uma instituição que terá escapado às
consequências dos ajustamentos da austeridade. Por sinal, tâo
discreta que nem dela se sabe a designação e o objecto da
respectiva actividade.
Felizardo
Isaltimo Morais! Porque tem sempre um lugar, uma função, um rico
desempenho, que pacientemente espera por ele. Interroguemo-nos:
Isaltino a preencher o lugar? Não! Simplesmente: O lugar a preencher
Isaltino!
Dá
a impressão que o Supremo Arquitecto do Universo pousa nele a divina
mão ptotectora. Curioso facto que se assinala em contraposição com
o que sucede 'ao menino e ao borracho' que 'põe Deus a mão
por baixo'...
Aliás
e pensando melhor: como Isaltino é um peso-pesado, de sólida
composição de morais várias, talvez nem o divino ser, ao pôr a
mão debaixo do seu corpanzil, aguentasse o desconforme peso...
Enfim,
mais uma última nota referente ao grande entusiasmo evidenciado
pelas jovens jornalistas que, acorrendo na hora certa à Carregueira,
lestas que nem um pronto-socorro dos bombeiros, eufóricas, fizeram a
reportagem do sintomático acontecimento mediático...
Ponderando:
As coisas e as loisas
portuguesas de um desencantado
tempo e sombrio clima de Portugal.
Igualmente,
originalidades portuguesas que deixam o indígena com um grande
amargo de boca...
Fim
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