Leitor,
Pare!
Leia!
Pondere!
Decida-se!

SE ACREDITA QUE A INTELIGÊNCIA

SE FIXOU TODINHA EM LISBOA

NAO ENTRE NESTE ESPAÇO...

Motivo: A "QUINTA LUSITANA "

ESTÁ SITUADA NA PROVÍNCIA...

QUEM TE AVISA, TEU AMIGO É...

e cordialmente se subscreve,
Brasilino Godinho

sábado, julho 05, 2014


CONSELHO DE ESTADO, OS ESTADOS DO CONSELHO
E A LITURGIA DO CAVACO* NO TEMPLO DE BELÉM...

Brasilino Godinho



Fotografia dos membros do Conselho de Estado reunidos, em sessão plenária, no Palácio de Belém


Breves considerações gerais

Sempre que em tempo de reunião do órgão oficial Conselho de Estado, vejo a fotografia do Venerando Chefe do Estado, Prof. Doutor Aníbal Cavaco Silva, sentado à mesa/altar da sala/capela de culto, do templo presidencial de Belém, sito na alfacinha cidade, rodeado dos devotos conselheiros que se quedam em pose de veneráveis, vem-me à lembrança o quadro da 'Última Ceia” de Leonardo da Vinci e a
'Ceia dos Cardeais', de Júlio Dantas.

'A Última Ceia'


Uma cena da peça 'A Ceia dos Cardeais'

Tal reunião de cavaqueira no templo presidencial é, certamente, a versão moderna das celebradas confraternizações de antanho, aqui mencionadas, mas com uma diferença abissal relativamente à 'Ceia dos Cardeais'. Enquanto nesta se chamava a atenção para as virtualidades do amor em Portugal, nas habituais sessões de culto cavaqueio do templo cavaquista, contempla-se o desamor em Portugal e... com regular persistência, o famigerado sexo dos anjos.
Se falo do Conselho de Estado e daquilo que vai transparecendo para o público no que toca aos desenvolvimentos do culto esotérico que nele é praticado em extensos horários de exercício, forçosamente espiritual(...), tenho de atender a uma pertinente observação, de dupla natureza. Ou seja: o estado do próprio Conselho e o Estado (nação organizada politicamente) segundo a configuração que lhe é atribuída pelo seleccionado Conselho.

O estado do Conselho de Estado
Como existe e quer suposto com a funcionalidade estatutária ou quer pela operacionalidade que é apercebida por indígena observador, o Conselho de Estado não serve para coisa nenhuma. Desde logo, desacreditado como órgão de consulta do Venerando Chefe do Estado, Cavaco Silva, está-lhe retirada, na prática, a respectiva prerrogativa, visto que sua excelência atempadamente preveniu a grei que nunca se engana e raramente tem dúvidas. E assim sendo, de presidencial condição cavaquista, não se espera que das opiniões expressas durante o cerimonial de culto dos veneráveis conselheiros, resulte qualquer achega de inequívoca utilidade e aproveitamento por parte do Venerando Chefe do Estado. Ele, que ouve, ouve, ouve e... depois decide pela sua privilegiada cabeça, sem dar o mínimo cavaco a ninguém - coisa que se julagaria algo estranha num qualquer ser cavacal, de fina estirpe algarvia...
Ademais, e - anote-se - porque de específica e congénita formatação de alma, ele que, Venerando e à semelhança do Papa, está possuído de infalibilidade nas suas decisões. E, a propósito, repare-se na sintomática diferença entre Oliveira Salazar, figura máxima do Estado Novo e Cavaco Silva, personagem tutelar do Estado Cavaquista: Salazar, que quase foi elevado aos altares como santo, limitou-se a dizer no discurso proferido em 27 de Abril de 1928, na sala do Conselho de Estado, o seguinte: “Sei muito bem o que quero e para onde vou”; Cavaco, pelo contrário, sempre admitiu a sua superior condição de criatura infalível, embora não haja conhecimento que percorra uma via de santidade - apesar da enternecedora assistência de D. Maria que, por sinal, segundo rezam as crónicas que têm sido publicadas, é uma senhora que inspira muita devoção.
Há que anotar uma coisa muito simples: se algum aspecto interessante advém de uma sessão de cavaco* no âmbito do designado Conselho de Estado, ele se expressa na pictural representação folclórica a que dá figuração de suporte e larga publicidade a série de fotografias e filmagens da família conselheiral, mais os emblemáticos contrastes fisionómicos dos participantes: uns risonhos e satisfeitos, quais amigos do peito; outros, taciturnos e com caras de amigos da onça. O que proporcionando diferentes visões dos participantes na liturgia, celebrada segundo os preceitos rituais do templo de Belém e, eventualmente, prestando-se a várias e hilariantes especulações dos habituais comentadores de serviço às televisões e ao cavaquismo, nada mais faculta à sociedade e ao engrandecimento do país.
Portanto, e sem margem para dúvidas: o Conselho de Estado não serve para coisa nenhuma.
Esta circunstância, suscita um reparo: será que os veneráveis conselheiros nem se dão conta do ingrato papel de ingénuos, manipulados, actores participantes de um ritual oco?
Mais outra observação: para que serve o numeroso grupo de assessores, secretárias, consultores, instalados no Palácio de Belém? Uma pergunta que nem se admitiria, não fora o caso que, ao formulá-la, me esqueci por fugidios momentos, de que o Venerando Chefe do Estado, como ser que nunca se engana e raramente tem dúvidas, não precisa de receber opiniões e pareceres de ninguém. Nesta conformidade, vai sendo tempo de o Venerando Chefe do Estado despedir todo esse pessoal que, pelos vistos, será um peso morto e acarreta um incontestável desperdício financeiro e grande rombo no Erário. A Bem da Nação! Como diria o falecido ex-Presidente do Conselho, António Oliveira Salazar.
Agora, de súbito, apercebo-me que venho citando Oliveira Salazar. Sinceramente, no contexto da vigente democracia cavaquista, lembrar o criador da democracia orgânica acho que é um tanto esquisito. Mas, sublinho, sem menosprezar o sentido de oportunidade. No entanto, deixo a pergunta: por que terá sido que a minha memória trouxe à colação Oliveira Salazar?...

O Estado português congeminado pelo Conselho de Estado

O Estado (nação organizada politicamente) do Conselho de Estado é aquela entidade nacional que o dito Conselho chamou a si como filha querida e adoptou como se fora existente em Portugal. Mas que não tem correspondência com o Estado que o mundo dos indígenas portugueses conhece.
A congregação dos conselheiros, bastante alheada da realidade portuguesa e dando-se sobranceiros ares de outra galáxia, cinge-se muito às aparências e às definições da chamada legalidade democrática e a uma situação do País, de contornos e essência irrealistas, bastante diferente da que é percepcionada ou sentida pela maioria da população portuguesa.
Isso traduz um facto de nocivas consequências: o de o Conselho de Estado contemplar-se demasiado no falso axioma de Portugal ser um Estado de Direito. E com essa atitude sugestionar negativamente a população – o que é facilitado e incentivado pela propaganda oficial.
Também a partir desta incongruência fica irremediavelmente comprometida a eficácia do referido órgão, mesmo sendo ela admitida como factor de ajuda e colaboração ao Venerando Chefe do Estado que, como se sabe, persiste no erro de inculcar o falso axioma.

A liturgia do cavaco* no templo de Belém.

A época que atravessamos de inúmeras dificuldades obriga a cuidados redobrados no nosso viver quotidiano e a fazermos o melhor uso possível do tempo que dispomos para o trabalho diário e para o imprescindível ócio. Sob esta óptica do lazer estaria tentado a considerar que a visão dos actos associados à liturgia do cavaco* que é inerente ao funcionamento ocasional do Conselho de Estado, poderia servir de recreio para a malta se divertir. Porém, ela é tão menor, insignificante e mui notoriamente afastada da observação dos indígenas, que nem para isso serve.
Fim
* cavaqueira.

P. S. Esta crónica vem a propósito da inconsequente reunião do Conselho de Estado que teve lugar no dia 03 de Julho de 2014, no Palácio de Belém, em Lisboa.