Em Timor-Leste,
*chefe Cavaco e *presidente Coelho livraram-se de
boa...
Brasilino Godinho
Na
reunião ora celebrada em Dili, capital de Timor-Leste, esteve
prestes a acontecer uma bronca das grandes. Há a percepção de nela
terem estado representantes de alguns estados membros da CPLP
dispostos a não suportarem mais a hipocrisia dos governantes
portugueses de se oporem à admissão da Guiné Equatorial na
Comunidade de Países de Língua Portuguesa, por este Estado ter
legislação penal de aplicação da pena de morte. (Um parêntesis
para anotar que o uso da Língua Portuguesa devia ser a condição
essencial para o ingresso na Comunidade. Ainda que se tenha em conta
que a Guiné Equatorial foi território português e que, em
determinada zona daquele país africano, existe uma população que
fala um dialecto aportuguesado).
Mas
passada a nuvem que ameaçava escurecer o palácio governamental de
Dili e indispor as entidades nele presentes, é preciso dizer o
seguinte:
-
Em primeiro lugar, acontece que o Estado português mantém profundas
relações amistosas, comerciais, políticas, e culturais, com países
que aplicam a pena de morte; tais como os Estados Unidos da América
e a China. A própria Guiné-Bissau é persistente violadora dos
direitos humanos. Além de que Portugal também integra organismos
internacionais nos quais os respectivos governos daqueles Estados
participam activamente: casos da ONU, da UNESCO e da
ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DE COMÉRCIO (OIC) - o que não incomoda
minimamente os nossos governantes. Acresce que o governo português,
sendo um obstinado desrespeitador da Constituição Portuguesa, no
que concerne aos direitos dos cidadãos, é um mau exemplo para a
Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP).
Portanto,
ressalta - no âmbito da política externa - a falta de coerência
política dos governantes portugueses.
-
Em segundo lugar, dado o conhecimento que existe em certos sectores
do estrangeiro, nomeadamente no mundo da lusofonia, acerca da
verdadeira situação político/social existente em Portugal, esteve,
em Dili, iminente a repetição, em versão portuguesa, da
admoestação do rei Juan Carlos a Hugo Chávez, feita durante a
Conferência Ibero-Americana, realizada em 2007, em Santiago do
Chile: «Por qué no te callas?».
E a seguir viria a observação quanto à falta de
autoridade moral dos representantes oficiais portugueses neste campo
da mortandade de humanas criaturas; visto que o governo português
prossegue um sofisticado método de extermínio de cidadãos,
sobretudo da terceira idade. Decerto seria dado realce à existência
em Portugal de crianças esfomeadas, precocemente encaminhadas para a
morte e à situação de inúmeros velhos a viverem em estado de
pobreza envergonhada e aguardando a hora da morte por fome e faltas
de assistência médica e de apoio social (quantos casos - não têm
sido revelados nos jornais - de pessoas que aparecem mortas em suas
casas, muitos dias, semanas e até meses, após as datas dos
respectivos óbitos?).
Hemos de reconhecer que, a ter acontecido, a bronca
faria sentido.
É verdade que a pena de morte tem sido de uso corrente
na Guiné Equatorial. Com recurso a instrumentos de agressão e de
execução sumária - um procedimento ditatorial que deve suscitar
generalizada repulsa de gente civilizada.
Em Portugal, a pena de morte foi abolida nos anos de
1852 e 1867 e não se verificam execuções sumárias através de
contundentes instrumentos, nem as pessoas são enviadas para campos
de concentração; embora bastantes sejam vítimas das mais diversas
retaliações do poder político instalado.
Porém, o governo recorre a expedientes legislativos que
impõem condições de vivência propiciadoras de um genocídio que
incide em seleccionadas faixas etárias e que se vai processando com
expressivos resultados, geralmente a curto e médio prazos, sem
alarido e convenientemente resguardado por cortinas publicitárias.
Ou seja: configurando uma jornada mortal que se desenvolve a
regular cadência de tempo. E que permite aos governantes virem
ciclicamente perante o público: apresentar
extraordinários(...) índices de baixa natalidade; ocultar os
números da maior mortalidade existente pós 1974; enaltecer as
entusiasmantes(...) percentagens decrescentes do desemprego; e,
sobretudo, contemplarem-se embevecidos com os deslumbrantes(...)
números de milhares e milhares de portugueses (na maioria jovens)
que emigram e que, afinal, são os festejados provocadores de tão
magníficos(...) apuramentos estatísticos. Aliás, estes, bem
reflectidos nas excessivas ocupações dos cemitérios e das camas
dos hospitais (daqueles que ainda funcionam); as quais, já são
insuficientes para quantos se encontram em fase terminal das suas
debilitadas vidas.
Um
quadro de marginalidade funcional que o governo sistematicamente
propagandeia ser da responsabilidade do Tribunal Constitucional. Tal
desculpa de 'mau pagador de promessas'
é absolutamente condenável.
Mas fique, também, bem claro que assim, atrevidamente,
na insofismável condição de sujeito que será passivo de processo
penal, o governo arvora-se à abusiva e inconcebivel prerrogativa de
juiz em causa própria.
- Em terceiro lugar, atente-se no paradoxo e
infelicidade traduzíveis na circunstância a seguir exposta:
Portugal tendo sido dos primeiros países a abolir a pena de morte é
hoje um Estado modelo de bem cultivar a morte em determinados grupos
de cidadãos; a ponto tal de excelência que o habilita a ser
inspirador de políticas de morticínio de outros Estados - como já
houve, em data recente, exemplo de seguidismo por parte do governo
japonês; o qual, abstendo-se de sofismas e subtilezas de linguagem
ardilosa, admitiu sem quaisquer pretensões de salvar aparências
humanitárias, que iria aplicar idênticos procedimentos de
incentivar a morte dos idosos do país do sol-nascente.
Neste preciso domínio (aquele aqui posto em foco) e a
partir de agora a Guiné Equatorial poderá salvar a face se
aprender com os governantes portugueses como se fazem as coisas com a
maior das limpezas étnicas; embora com atropelo da Ética, ao
arrepio da Moral, sem a sombra embaraçosa da Fraternidade, afastando
o empecilho da Liberdade, esquecendo a inquietante Igualdade e
subjugando o estorvo abominável do Direito...
Para concluir, fica a nota de que o venerando chefe de
Estado, Cavaco Silva, e o presidente do Conselho, Passos Coelho,
certamente prevenidos do propósito que estava antevisto, desta vez
resolveram acomodar-se e não repetirem as posições de bloqueio à
admissão da Guiné Equatorial na CPLP que vinham mantendo há anos.
Prevalece
a opinião de que quiseram não correr o risco da humilhação; esta,
decorrente da previsível concretização da ameaça que pairava no
horizonte de Timor. Lá diz o ditado: 'Homem prevenido,
vale por dois'.
Outra impressão a fixar: A esfarrapada desculpa de
chefe Cavaco e presidente Coelho de que, agora, não queriam ficar
isolados, não cola. Tal e qual: NÃO COLA!
É
que «a
letra não condiz com a careta!»
Fim
* Chefe
de Estado
*
Presidente do Conselho de Ministros
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