A
política assente na aldrabice.
Eles
são ‘irrevogáveis’ mentirosos
Pelo
que estamos entregues à bicharada…
Brasilino Godinho
Com a devida vénia, transcrevemos o que
acabamos de ler da autoria de Sara
Rodrigues, com origem no SAPO e na revista VISÃO:
Pensões: O melhor mesmo é falecer?
Um secretário de Estado anuncia que as pensões vão estar indexadas ao
crescimento económico e à demografia. O primeiro-ministro diz que é
especulação. A Comissão Europeia aclara, num relatório, que o Governo se
comprometeu com essa solução. Anatomia de uma jogada.
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1 - Bola ao centro
Em setembro, o Governo aprovou a lei que previa a convergência entre as
pensões da Caixa Geral de Aposentações (setor público) e as da Segurança
Social (privado). O diploma estipulava um corte de 10% nas pensões da CGA
superiores a 600 euros.Hélder Rosalino, então secretário de Estado da Administração Pública, disse que "estas medidas abrangem cerca de dois terços dos pensionistas do Estado, representando cerca de 350 mil pessoas", com um "impacto orçamental direto de €720 milhões".
2 - Chuto para
canto
O diploma chegou ao Palácio de Belém e Cavaco Silva enviou-o para
fiscalização preventiva no Tribunal Constitucional.O Presidente da República já tinha avisado que considerava a convergência das pensões como "a criação de um novo imposto extraordinário sobre o rendimento dos pensionistas da Caixa Geral de Aposentações".
3 -
Guarda-redes alivia
Os juízes do Palácio Ratton chumbam, por unanimidade, a lei da
convergência de pensões.De forma a suprir a verba em falta, o Governo resolveu o problema baixando para mil euros (era de €1 350) o montante a partir do qual as pensões são afetadas pela Contribuição Extraordinária de Solidariedade (CES). Desta vez, Cavaco Silva não pediu clarificações ao TC, mas os deputados da oposição sim. Aguarda--se a decisão dos juízes.
4 - Rasteira à
entrada da área
Há três semanas, o secretário e Estado da Administração Pública, José
Leite Martins, chamou jornalistas de vários órgãos de comunicação social para
um briefing. A "fonte das finanças", como ficou conhecido, revelou
que as pensões seriam indexadas ao crescimento económico e à demografia. As
reformas passariam a ser variáveis, todos os anos.
5 - Livre direto e
cartão amarelo
De visita oficial a Moçambique, o primeiro--ministro apressou-se a afirmar
que era tudo "especulação", pois não havia tomado qualquer
"decisão". E apelou a "todos os membros do Governo para que
contribuam para um debate sereno" acerca do assunto. A ministra das
Finanças, Maria Luís Albuquerque, também estava fora, em Washington, no dia
em que a notícia fez a manchete de vários jornais.
6 - Barreira
posiciona-se
Marques Guedes, ministro da
Presidência, saltou em defesa do Governo, acusando os jornalistas de
"manipulação da informação" e "interpretação exagerada".
Paulo Portas, em debate na
Assembleia da República, referiu que "foi um erro" não explicou se
estava a falar do briefing ou das informações veiculadas por Leite Martins
porque "não conheço qualquer documento" e, sem ele, "o Governo
não pode ter feito qualquer avaliação política, muito menos tomado qualquer
decisão política".
7 - Remate ao poste
Faltava ouvir Leite Martins, a "fonte das Finanças". O que veio
a acontecer na Comissão de Orçamento e Finanças, na Assembleia da República.
Mas o secretário de Estado quis encerrar a questão utilizando uma expressão
em latim: "Roma locuta, causa fi nita" ("Roma falou, o assunto
está resolvido.") Roma é, aqui, Passos Coelho, e Leite Martins explicou
ser "um membro do Governo alinhado com a posição do
primeiro-ministro".
8 - Árbitro manda
repetir
Mas
existia, sim, um documento, revelado no domingo, 13: as pensões devem
passar, já em 2015, a
depender de fatores económicos e indicadores demográfi cos. É o que diz o
relatório da Comissão Europeia que fecha a 11.ª avaliação da troika sobre os
compromissos de Portugal. Este documento é de 19 de março. O briefi ng da
"fonte das Finanças" foi a 26. Passos e Portas dizem agora, em
uníssono: "Não há novidades sobre o assunto". Autogolo? |
Breves considerações de Brasilino
Godinho
A
crónica, acima transcrita, da jornalista Sara Rodrigues demonstra o que são as
continuadas práticas de embuste do chefe do governo e de alguns ministros, em
particular e do governo, de um modo geral.
Depois
de lermos esta elucidativa descrição da indecente novela dos cortes das pensões
dos reformados e dos vencimentos dos funcionários públicos, perguntamos:
Como
é possível que governantes tão muitíssimo desacreditados que mentem a toda a
hora; que incumprem sistematicamente as promessas feitas; que enganam,
acintosamente, os crédulos ou míopes cidadãos; que constantemente deturpam os
factos; que, por habituação e deformação intelectual, encobrem as malévolas
intenções; que escondem os dados comprometedores da ineficácia da acção
político/administrativa; que constantemente atacam os direitos dos indígenas
que somos e a muitos de nós encaminham para a pobreza, para o desemprego, para
a morte ou para a emigração (em especial os jovens); que promovem a degradação
ou inoperância dos serviços: da Segurança Social, de Saúde, do Ensino Público e
das forças militares e policiais; que esbanjam avultados meios financeiros em
gastos supérfluos de luxo e de ostentação mediática; que passam o tempo a
viajar pelo território nacional e pelo estrangeiro; que gastam milhões de euros
à tripa-forra: quer nas contratações de pareceres jurídicos de gabinetes dos
advogados compinchas, quer nos contratos de recrutamentos directos de rapazes e
raparigas (na faixa etária dos vinte e poucos anos), membros das suas ‘jotas’, para serem (imagine-se!) nada
menos que especialistas de coisa nenhuma,
principescamente remunerados, a exercerem suas habilidades nos gabinetes
ministeriais; que se manifestam indiferentes à omnipotente corrupção existente
no vasto espaço da governação; que facilitam ou colaboram na progressão das grandes
fortunas; que asfixiam as empresas e sobrecarregam os contribuintes com
sucessivos impostos; que promovem aumentos dos preços de bens essenciais de
consumos correntes; que geraram e dão sustentáculo ao clima de medo e de
insegurança radicado na sociedade portuguesa; que se puseram de cócoras perante
a Sr.ª Merkel na perspectiva de serem elogiados como bons e aplicados alunos
das suas equívocas políticas, em detrimento da defesa dos interesses de
Portugal que se deviam conjugar com os da Espanha, Itália, França e Grécia; que
descuraram a Economia e o desenvolvimento do país, para se renderam às
imposições do triunvirato internacional que vem tutelando o Estado português,
tendo até ultrapassado as exigências consignadas no famigerado Memorando, o que
acarretou o implacável sofrimento do povo português e a situação calamitosa em
que nos encontramos; que menosprezam e, com persistência, violam a
Constituição; que fazem tábua rasa de princípios fundamentais da cidadania
concernentes aos valores da Política, da Ética, da Moral, da Democracia, da
Justiça, da Solidariedade, da Liberdade, da Igualdade - afinal, qualidades,
virtudes ou atributos emblemáticos e insubstituíveis, da República - continuem
com inaudita sanha a destruir a Nação, a arruinar o Estado e a aniquilar
Portugal, desfigurando irremediavelmente a imagem de país lusitano que se impõe
ser digno, independente e prestigiado na Europa e no Mundo?
Quem
acredita nesta gente que actualmente assenta no Poder?
Importa
que estejamos conscientes da incomensurável dimensão trágica já atingida por
esta obscura e terrível situação. Tudo isto, sintetizemos: É um arrepiante
escândalo! É uma amargurada vergonha. É um imenso drama nacional!
Urge
acabar com tal ‘parada da paródia’ do
teatro/circo da baixa política!”
Há
que tomar providências!
Nota final
A peça escrita de Sara Rodrigues tem um título que
interpela o leitor:
Pensões: O
melhor mesmo é falecer?
Só que a interrogação perde sentido
quando todos já percebemos que é esse o desígnio de Passos Coelho. Prosseguir o
objectivo das mortes de uns tantos milhares de portugueses é a meta desejada.
Um expediente que, em sede de previsão contabilística, potencia o alívio dos
encargos do Orçamento e que, em caso de pleno sucesso (ampla, generalizada
mortandade), tenderia a equilibrar as contas da Segurança Social. Tal processo
de opressão social em curso é disfarçado e iludido com o uso e abuso de
inúmeras falácias e de indecorosas tiradas retóricas veiculadas pelos jornais,
rádios e televisões (o ministro das Finanças, do governo do Japão, foi mais
coerente quando, há poucos meses, disse preto no branco: “Salvem-se as finanças
do Estado, morram os velhos!”). *
Aliás, logo no início do seu mandato
legislativo Pedro Passos Coelho disse ao que vinha e ameaçou que ia provocar o
empobrecimento geral.
Por sinal, depois, verificou-se que esse
empobrecimento estava direccionado, praticamente, para todos quantos
portugueses estão mais expostos às arbitrariedades do poder autocrático que, na
actualidade, está concentrado nas mãos do chefe do governo, identificado Pedro
Passos Coelho, supremo comandante das sofisticadas operações de cruzada contra
os mesmos de sempre.
E empobrecendo as populações, cortando
nos meios de subsistência dos reformados, dos funcionários, dos trabalhadores,
dos carenciados, de todos que não têm forças e instrumentos reivindicativos e,
também, desencadeados os adequados mecanismos de desemprego; foram assim sendo,
objectivamente, criadas as condições tendentes à consumação mais ou menos
acelerada dos óbitos dos visados.
Precisamente neste campo de realizações
específicas atinentes ao plano traçado, Passos Coelho alcançou a glória. Pode
orgulhar-se do assinalável êxito macabro; configurado no certamente elevado
número de cidadãos que sucumbiram à fome, à doença, à falta de meios de
subsistência e de alojamento, por decorrência das medidas designadas,
eufemisticamente, por austeridade.
Todavia, nós proclamamos: Repulsiva
glória, para tão malfazeja cruzada!
* P.S. - Embora da
parte do ministro japonês tenha sido uma atitude inadmissível e reveladora de
uma grande desumanidade, há nela, implícito, algum resquício de honestidade
intelectual.
Aqui e agora, é forçoso anotar que
enquanto o governante japonês manifesta o propósito, também assume frontalmente
o odioso da funesta ideia e a respectiva responsabilidade. Em contraposição, os
governantes portugueses, tendo em agenda semelhante intento, ocultam-no o mais
que podem e disfarçam os meios e os instrumentos que utilizam para
concretizarem o objectivo da solução final que se propuseram.
Fim
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