Como diria a
Ti Maria dos Canaviais:
Pão, pão! Queijo, queijo!
Brasilino Godinho
Os cidadãos que se expõem
ou são expostos nas montras da praça pública sobressaem do anonimato e, em
muitos casos, de tão continuadas presenças e badaladas referências às suas pessoas
e às actividades que desenvolvem, passam à categoria de figuras públicas.
Sobre tais humanas
criaturas se concentram curiosidades, elogios, censuras, invejas, malquerenças
– uma amálgama de sentimentos e reacções. Enfim, um rosário de ocorrências
agradáveis ou incómodas, conforme a natureza das arremetidas a que vão sendo
sujeitas como alvo preferencial da curiosidade que suscitam, do apreço em que
são tidas ou da aversão que lhes é devotada. É o ónus que é inerente a tal
condição de visibilidade pública.
O escriba, aqui escrevendo
o presente texto, vê-se hoje no papel de figura colocada num maior espaço
público de observação e de julgamento opinativo dos seus semelhantes. É uma
posição que envolve muitos aspectos responsabilizadores, mas que ele há muitos
anos sente preponderante na sua existência. Logo (anos cinquenta), no início
dos tempos da extensa e diversificada actividade profissional. A partir dos
anos 80 reforçada com a actividade de cronista de opinião com prestações em
periódicos e as edições de três obras literárias; a última, das quais, o ensaio
A QUINTA LUSITANA, terá sido a obra sobre a qual mais foi exercida a aberrante
censura prevalecente desde a revolução vitoriosa do dia 25 de Abril de 1974 - um
procedimento ilustrativo da podridão, falsidade e hipocrisia, reinantes no
actual regime pervertido, mascarado de democrático.
Desde 14 de Dezembro de
2012 até à actualidade, Brasilino Godinho tem sido mimado, acarinhado,
enaltecido, festejado, com motivação nos seus ‘desempenhos académicas’. Jornais, revistas, rádios, todas as
televisões portuguesas, transmitiram notícias, reportagens e entrevistas a festejarem a licenciatura do cidadão
determinado, estudioso, atento e empenhado nas grandes causas, que sou.
Escrita esta introdução, vale
trazer à colação aquele dito que ousamos atribuir à Ti Maria dos Canaviais, da
grande região saloia: Pão, pão! Queijo, queijo! Ou seja: nada esconder!
Isto é: a vida do cidadão
em causa, não se compõe só de sucessos e de graças; também de desenganos e de
coisas com menos graça e, às vezes, com mistura de maiores ou menores
desencantos.
O que tudo bem composto e
em conformidade de são critério, implica ser tu cá, tu lá, com a realidade nua
e crua de uma vivência que, no seu caso pessoal, se tem como norteada por
critérios de seriedade e autenticidade.
Daí que, se tenho sido
contemplado com muita generosidade e certo aparato que põe o indígena que sou
nos píncaros da esplendorosa lua cheia, considero essencial ter os pés bem
assentes na terra, não vá acontecer perder o equilíbrio e com isso defraudar a
confiança e admiração que me foram concedidas neste tempo de efémera glória
terrena.
A partir deste ponto e em
consonância de princípios atinentes à plena afirmação do primado da
inteligência, da moral, da dignidade, da igualdade, da fraternidade e da
liberdade, naturalmente compaginados em unívoca conjunção e preponderância
factual, venho prevenir os leitores quanto a algumas fragilidades tidas como fracas
credenciais de um sujeito idoso submetido ao vosso acolhimento e benévola
atenção. Pois que ele vem apoiar-se numa recente apreciação de que foi objecto
para neste escrito vos denunciar os detectados, preocupantes, sintomas de estar
voltando à meninice…
Se o mesmo, ora famoso(…)
Brasilino Godinho, sempre teve a preocupação de não voltar costas à luta em
prol do que foi admitindo como justo, nos últimos anos que leva de escrita e de
estudos académicos, tem-se acentuado, nele (imagine-se…) a tendência para
aquilo que o próprio vai designando como pegar os touros pelos cornos. Pegas
que nunca fez nas praças de touros mas, sim, naquelas arenas dos espaços
político/sociais de que já, no século XIX, falava o inesquecível poeta
micaelense Antero de Quental.
Porém, acontece que há
muito boa gente, recomendada por parte de grandes famílias da sociedade
lisboeta, que não vai à bola com estas histórias de pegar os touros pelos
cornos nas arenas da brava luta pelos grandes valores da cidadania e do
bem-estar das populações. Preferem deixar os bois a pastarem, sem entraves, nas
amplas lezírias pantanosas indicadas pelo Engenheiro António Oliveira Guterres.
Nem, sequer, os querem pegados de cernelha. Gostos… Feitios… Interesses de produção
pecuária (ou pecuniária?)…
Pelo que decidi informar
que nem tudo é um mar de rosas na vida do cidadão em causa. E se já bastava,
como sobrecarga insuportável, viver angustiado num asfixiante pomar de imensas
laranjas amargas, paredes meias com um doentio Olimpo, fantasioso, perverso,
superlotado de assembleias, de plenários, de mesas redondas e quadradas e dos
incríveis mercados, feiras, lotas de todas as obscenidades beijoqueiras, há que
dar a notícia de que - segundo a avaliação feita por uma conhecida
personalidade, altamente colocada no seio da sociedade lisbonense (e que hoje me
deu a conhecer, por mensagem através da Internet) - o Brasilino Godinho estará irremediavelmente
possuído de uma importante deficiência: faltar-lhe-á “um pouco de bom senso” – seja
lá isso o que for e em que medida traduzível numa perceptível e convincente quantidade;
também, necessariamente, pesquisada face
aos contrastes limitativos entre o pouco senso, um pouco de bom senso, o
simples bom senso, o regular senso , o vulgar bom senso, o maior bom senso, o
menor ou menos bom senso e o mau senso…
Mas dado indiciador da clarificadora
avaliação parece ser o de que em matéria de bom senso e sendo este tão residual
na minha pessoa, em tão diminuta quantidade (somente um pouco), estarei numa
situação de pobreza franciscana. Aliás, estádio de penúria condizente com a
pobreza generalizada promovida por Passos Coelho, guia supremo do governo nacional
– o que, anote-se, pela força das circunstâncias, patenteia um convincente quadro/testemunho
da situação vigente.
Mais quero transmitir, com
origem de informação na mesma atenciosa fonte, outra terrível opinião: terei
caído desastradamente no ridículo…
Falta, tiro e queda, quais
acidentes mostrados no meu recentíssimo apontamento
- sobre o morticínio reconhecido pelo vice-presidente do Governo Regional da
Madeira, Dr. João Cunha e Silva - que vos enderecei ontem.
Assim, presumo que, logo
após a leitura deste texto, os meus leitores ficarão numa desconfortável e
cansativa expectativa derivada da interrogação: irá o Brasilino Godinho
encontrar algures, numa terra não prometida e por demais ignorada, o perdido bom senso? Pior, ainda: Será que ele
conseguirá levantar-se do horrendo ridículo?...
Qual de vós arriscará uma tripla, num hipotético concurso de prognósticos?
Mas dando de barato e mui ciente
de que me falta o famigerado bom senso…
(que, pelo visto, lido e respigado, será apanágio do meu ilustre avaliador)
afirmarei que melhor seria que não faltasse o autêntico a quem daquele faz
descabida alusão. Porque desse tal, específico bom senso, prescindo resolutamente!...
Entretanto – e não
obstante - com este texto pretendi executar
um salutar exercício de higiene mental e trazer os leitores à realidade de que
tenho fragilidades e que estou longe de ser um super-homem…
Finalmente, aqui fica
expresso um pedido endereçado aos leitores que já conhecem o Brasilino Godinho
há muitos anos: não tenham pena de quem, afinal, vê consagrada - por tão alta
personalidade* - a sua indesmentível carência
do tal paradigmático bom senso e que,
sem sombra de dúvida, para mais agravar a péssima impressão causada na
privilegiada mente examinadora, se contempla na ridícula configuração do ridículo que, como acutilante arma de agressão,
lhe foi lançado…
Espero ter conseguido o
amplo e reconfortante entendimento das minhas estimadas leitoras e dos meus
caros leitores.
Fim
* Por não ter sido previamente solicitada a
respectiva anuência da personalidade avaliadora e por motivos óbvios, não é
identificada a fonte da avaliação.
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