Tantas vezes vai o cântaro à fonte,
que alguma vez lá fica a asa…
Brasilino Godinho
Em Dezembro de 2006 lançámos a candidatura de PACO a figura do ano 2006. Sem sucesso! (fica o reparo…).
No tempo presente e face aos dramáticos acontecimentos e às nebulosas, dramáticas, situações, que nos vão afectando continuamente, fará algum sentido que atentemos na existência do PACO e no importante papel apaziguador e de sereníssima quietude (em que já pesam os anos de vida), que lhe está reservado no conturbado ambiente alfacinha e, sobretudo, no espaço familiar do seu invulgar amigo Saraiva.
Por isso, relembramos a figura inconfundível da criatura PACO e do seu grande e dedicado companheiro de muitas horas reconfortantes de bom convívio: o conhecido Saraiva – a figura que se expõe semanalmente à claridade e tempestades emanadas do SOL.
O que fazemos, republicando a nossa crónica de 26 de Dezembro de 2006.
Além de que até pode dar azo a que, desta vez, seja vencido o enguiço e o PACO seja eleito a figura do ano.
Ou em alternativa que, dadas as actuais circunstâncias, surja a auspiciosa ideia - abraçada por um qualquer partido defensor da terra lusa e dos indígenas portugueses - de candidatarem PACO, o devotado e emblemático amigo da portuguesa espécie humana, ao lugar de chefe do governo.
É que se na nossa inacreditável república de bananas, já tivemos: um Tomás, venerando chefe do Estado; e temos um decorativo Cavaco, infalível presidente, instalado na apalaçada residencial de Belém, que nunca se engana e raramente tem dúvidas; um Coelho, grão-mestre da odiosa e mortífera austeridade; um Paulo, indizível ministro de todas as vãs promessas, de portas sempre escancaradas para todas as irrevogáveis contradições e expedientes beijoqueiros nos mercados, nas feiras e nas lotas; porque não colocar na chefia do governo o fiel, pacífico, bem-intencionado e venerável PACO?...
Ainda por cima beneficiando do plausível acompanhamento funcional decorrente da distinta perspicácia e sapiência político/doutrinária do afamado arquitecto-jornalista Saraiva, seu indefectível companheiro de muitos anos…
É desejável que, na altura em que se aproximam as eleições, estas oportunas sugestões cheguem ao conhecimento do maior número de portugueses; com vista a extraírem-se as devidas consequências eleitorais atinentes à necessidade de um novo, benéfico, rumo para o país…
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Terça-feira, Dezembro 26, 2006
Caros senhores
Permitam-me
a liberdade de vos apresentar a minha crónica, abaixo inserida, sobre um tema
da maior actualidade: a candidatura do distinto
Paco a figura pública do ano de 2006
Paco a figura pública do ano de 2006
Interpretando
o interesse do Paco e prevendo a alegria do seu tutor, ouso sugerir o vosso
apoio na promoção da candidatura da festejada personagem que tem relevante
papel apaziguador na sociedade lisbonense.
Julgo não cometer indiscrição ou abuso de confiança (que, aliás, não me foi dada pelas criaturas envolvidas) ao sugerir que todas as intervenções sejam naturalmente dirigidas à direcção do SOL - o conhecido astro que nos “ilumina” a todos: os “portugas” que ainda vão resistindo nesta tempestade político-social que, tal como o Toyota, veio para ficar. E a quem, devidamente, caberá a proficiente condução do respectivo processo.
Com os melhores cumprimentos.
Julgo não cometer indiscrição ou abuso de confiança (que, aliás, não me foi dada pelas criaturas envolvidas) ao sugerir que todas as intervenções sejam naturalmente dirigidas à direcção do SOL - o conhecido astro que nos “ilumina” a todos: os “portugas” que ainda vão resistindo nesta tempestade político-social que, tal como o Toyota, veio para ficar. E a quem, devidamente, caberá a proficiente condução do respectivo processo.
Com os melhores cumprimentos.
Brasilino
Godinho
Um texto sem tabus…
PACO – A FIGURA PÚBLICA
DO ANO DE 2006…
Brasilino
Godinho
Desde o dia 16 de Dezembro de 2006 que se soube da sua
existência. Na mesma altura veio a público a fascinante história do seu
percurso de vida.
O Paco embora com nome
castelhano é português. Não se conhece a data do nascimento, nem onde foi
parido. Dos avós e dos pais desconhecem-se as respectivas identidades. Existe a
suspeita de ser filho de pais incógnitos. Não consta dos ficheiros da polícia
qualquer registo de aventuras ou acções de natureza criminosa. Sabe-se que vive
em Lisboa, com recato e bons relacionamentos. Partilha da amizade, acomodação,
mesa e automóvel do ilustre Saraiva. Não confundir este com o cardeal Saraiva
ou com o Saraiva que foi ministro da Educação de um governo salazarista e hoje
é festejado comunicador de Televisão - por sinal, tio deste Saraiva, aqui em
foco, que é arquitecto de canudo universitário, jornalista e director de um
badalado semanário; o qual, recentemente, foi ingénua vítima de uma rasteira
pregada por um conhecido banco, relacionada a um cartão de crédito não
solicitado e depois indevidamente desconsiderado.
Do Paco, se dirá que é uma
figura de aspecto vulgar mas que não deslustra a espécie. A sua estatura é meã.
De referir que nem gordo, nem magro No fácies sobressaem uns olhos vivos a
denotarem uma visão ágil de penetrante inteligência. Embora, quando em pose de
contemplação, deixe transparecer serenidade e alguma nostalgia, quiçá
resignação. A boca é recortada com finura de traços e logo acima dela, no lábio
superior, é inútil tentar enxergar alguns pelos indiciários de bigode. Dá a
impressão de gozar de boa saúde – o que é factor relevante se tivermos em conta
que é mudo de nascença e, por isso, naturalmente propenso a crises existenciais
de profunda depressão.
Aos predicados físicos
acrescenta outras facetas da sua rica personalidade. Para além das divulgadas
qualidades e manifestações de inteligência, há informação que o Paco é
civilizado e que pratica boas maneiras, facilitando o convívio social. Com uma
extravagante excepção: tende, nas madrugadas de insónia, a entreter-se com
ensaios de sapateado que incomodam a vizinhança.
É leal e fraterno. O que são
características importantíssimas neste “mundo cão” (sem desprimor para os
exemplares caninos) em que estamos sujeitos a viver sem rei nem roque.
O conhecido Saraiva, de que
falámos, é pessoa que conhece de ginjeira o Paco. E foi ele que, em recente e
interessante crónica, nos deu notícias desta extraordinária criatura. Com uma
particularidade: não lhe regateia elogios. Para além da descrição das façanhas
do “ser inocente que confia tão abertamente em nós” da inteligência, das
capacidades de raciocínio e das manifestações de afectos, atenções e outros
invulgares sentimentos, o amigo Saraiva que se assume como uma espécie de tutor
do Paco, elucida-nos que ainda está por descobrir porque o Paco não fala. E com
perplexidade, talvez angústia, interroga-se quanto ao modo como ele articula os
raciocínios e qual o nível dos seus sentimentos? E aqui está um ponto crucial
para bem interpretarmos a notabilidade do Paco: Qual é o nível dos seus
sentimentos? Nível alto? Médio? Baixo? Um problema sério, susceptível de nos
deixar, a todos, embaraçados… Depois, Saraiva, vai mais profundo na explanação
das virtudes do Paco. E diz que a felicidade desta criatura é a de poder
respirar o ar que ele, Saraiva, respira e partilhar o mesmo espaço. Neste
ponto, fica-nos a preocupação: se o Paco absorve o ar da respiração do Saraiva
no mesmo confinado espaço deste senhor, decerto que estará sendo envenenado aos
poucos, visto que o hálito expelido pelas vias respiratórias do conhecido
jornalista estará viciado. E se este fuma, pior será… e imenso o risco de
doença grave do Paco.
Outra coisa que parece
intrigar o protector do Paco é a mania deste de quando o Saraiva se levanta de
um maple, vai logo deitar-se no sítio em que o célebre jornalista estava
sentado – ou quando Saraiva sai do carro o companheiro vai de imediato
ocupar-lhe o lugar. Mas, na volta de Saraiva, ele instantaneamente regressa ao
lugar traseiro. Face a este comportamento do Paco, Saraiva conclui que ele
pensa e que percebe as situações. Nós objectamos: se mudo, teria de ser
estúpido? Depois, há a novidade: o Paco faz gracinhas ao Saraiva. E a
revelação: prega-lhe sustos…
Não obstante os louvores e
as constantes exaltações do Paco o cidadão Saraiva adianta opiniões sobre a
mudez do Paco que nos deixam estarrecidos porque contraditórias no contexto da
matéria descrita e improcedentes nos conceitos em que assentam as afirmações.
Saraiva diz que a vantagem do Paco é exactamente não falar. Perguntamos: Qual
vantagem? A seguir, Saraiva inquire: “O que aconteceria se ele falasse?
Quantos dislates não diria? Quantas irritações não nos provocaria? Ele exprime
silenciosamente os seus sentimentos. Não nos perturba a paz.”
Não deixemos passar em claro
a reserva que está subjacente a estas inquietações sobre o Paco. Saraiva,
lá bem no íntimo, desconfia do Paco… Em contraposição, o distinto jornalista,
precavido, solícito, generoso na comunhão de sentimentos e porque
irresistivelmente embalado (ou enredado?) na fantasia das suas divagações,
informa-nos que através do silêncio do Paco percebeu outra coisa: os afectos
dispensam palavras. Descoberta sensacional. Seres humanos, porventura
fugidios do humanismo, temos andado distraídos… Ou naturalmente
estupidificados…
E como remate, Saraiva lança
para a posteridade esta saraivada: “Se me fosse dado escolher, não gostaria
que o Paco falasse. Assim sei que gosto dele. E o que aconteceria se começasse
a dar opiniões?”.
É aqui, nesta parte final,
que Saraiva meteu o pé na poça e mostrou a sua fibra.
Deduz-se que a satisfação de
Saraiva está condicionada e é incompatível com a possibilidade do uso da fala
do Paco. Enquanto mudo este ser não dirá disparates, nem provocará irritações
no amigo Saraiva. Sobretudo, não põe em perigo o estado de paz em que o
conhecido jornalista estará mergulhado.
Ademais, Saraiva nega à
criatura aquele que é um dom que, certamente, muito preza: o da fala. Deste
modo evidencia um intolerável egoísmo.
Realce para o preciosismo de
Saraiva: “Assim sei que gosto dele”. Quer esta expressão significar que
Saraiva nem estará tão seguro dos laços de amizade que o unem ao Paco, pois
admite que só gosta dele devido à sua intrínseca condição de mudez. E se Paco
falasse lá ia por água abaixo o “gosto” por ele.
E como girândola final,
Saraiva lança a inquietante pergunta que lhe atormenta a alma: “E o que
aconteceria se o Paco começasse a dar opiniões”? É nesta interrogação, a
valer como confissão, que bate o grande busílis. Saraiva confessa
implicitamente que não suporta quem dê opiniões. Opiniões, as dele, Saraiva, é
que lhe interessa cuidar num conveniente exercício de audição de si próprio.
Concluindo: o Paco é o cão
de Saraiva.
Pelos seus muitos predicados
o Paco deve ser elevado à categoria de figura portuguesa do ano de 2006. Para
servir de exemplo a muita desvairada gente. E, enquadrado na perspectiva
reticenciosa do dono, de pretexto a oportuna reflexão por parte de bastantes
sujeitos, designados “bons cidadãos” de não menos "bons costumes",
que - contrariando as aparências – se opõem à livre expressão do pensamento…
Fim
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