Leitor,
Pare!
Leia!
Pondere!
Decida-se!

SE ACREDITA QUE A INTELIGÊNCIA

SE FIXOU TODINHA EM LISBOA

NAO ENTRE NESTE ESPAÇO...

Motivo: A "QUINTA LUSITANA "

ESTÁ SITUADA NA PROVÍNCIA...

QUEM TE AVISA, TEU AMIGO É...

e cordialmente se subscreve,
Brasilino Godinho

domingo, março 09, 2014

"Santo"Antero de Quental sempre actuante...
Em 1871, interpelando o ministro Marquês D'Ávila.
Em 2014, do Além, vem a interpelar primeiro-ministro Passos Coelho...

Introdução e anotações de Brasilino Godinho
As interpelações - quais certeiras farpas - que, outrora, Antero de Quental dirigiu, em formato de carta-aberta (titulada: EU SOU SOCIALISTA) ao ministro Marquês D'Ávila a propósito da proibição das Conferências do Casino,* haverão agora, numa curta parcela, de ser reproduzidas fielmente, mantendo tudo aquilo que o poeta açoriano escreveu; mas com o cuidado de substituir o nome do destinatário de então pelo da actual figura cimeira da equipa ministerial a quem é também consagrado o tema, perfeitamente compaginado na actual conjuntura nacional.
Abreviando, a nós e aqui, cumpre-nos dar a palavra a Antero de Quental. Até porque nos parece estar o poeta micaelense profundamente inquieto e atormentado lá no espaço etéreo, onde se refugiou. Também impelido a fazer-se ouvir no presente tempo de magras vacas loucas e de não menores aberrações cívicas e circunstanciais: de políticas, pessoas, tempos e modos.

Eis Antero, exercitando dedicação pelo interesse público!
Antero de Quental, em tom irritado, dirige-se a Passos Coelho:
«A política, sr. presidente do Conselho de Ministros, sabe V. Ex.ª que é uma ciência? Sabe que a ciência, filha caríssima do Espírito, só tende a elevar, a instruir, a moralizar, a santificar a vida humana? A política é o instrumento da justiça social (sublinhado de Brasilino Godinho). Revestida, pela autoridade, dum carácter quase religioso, é uma voz de grandes ecos, que diz à verdade fala! que diz à consciência revela-te! que diz às almas emancipai-vos! que sobretudo diz aos costumes moralizai-vos! Para ter o direito de dizer isto, a política tem mais que tudo de ser moral - é preciso que todos a julguem mais que tudo moral. V. Ex.ª é político: diz-se político, e dizem-no alguns dos seus contínuos. Ora veja V. Ex.ª que juízo faz da capacidade moral da sua política a opinião daqueles que V. Ex.ª governa... Diz-se (o que não se diz?) que, antes de se chegar ao terror, se usou de meios mais brandos - meios suasórios. Diz-se que se ofereceu a alguém uma candidatura**, quando esse alguém se mostrou resolvido a falar sobre um assunto pouco palaciano... Como se este encontro de circunstâncias não pudesse ser filho duma naturalíssima coincidência! Estes enredos corruptos são só próprios da escola de Maquiavel, homem de génio infernalmente profundo, sublime quase na sua corrupção, perverso mas grande. Ora nós temos toda a certeza de que V. Ex.ª não é por forma alguma Maquiavel, nem há meio de o tomarmos por seu discípulo. Decididamente, V. Ex.ª não é o grande Maquiavel.»

* Tal proibição suscitou um desaguisado entre duas personalidades açorianas: Antero de Quental, nascido na cidade de Ponta Delgada, ilha de S. Miguel; e António José Ávila, Marquês D'Ávila e Bolama, natural da cidade da Horta, ilha do Faial.
** Parece-nos não haver dúvidas de que Antero, atento à gravidade dos obscenos acontecimentos na terra portuguesa e apesar do seu distanciamento etéreo, se está referindo à recente candidatura de Miguel Relvas a presidente do Conselho Nacional do PSD (órgão máximo do partido), apresentada e votada no último congresso do Partido Social Democrata, realizado a 22 e 23 de Fevereiro do corrente ano, no Coliseu dos Recreios, em Lisboa.