Ao compasso do tempo…
CUIDADO COM O TALENTO…
ELE QUER-SE EM “BOAS MÃOS”…
Brasilino Godinho
http://quintalusitana.blogspot.com
Em Portugal estamos habituados a viver em sobressalto e arrostando com muitas coisas esquisitas, difíceis e prejudiciais. Da parte do Zé-Povinho: este, empobrecendo continuamente; atingido por desgraças, carestias, misérias, inseguranças nas ruas, abusos e explorações, intranquilidades e temores pelo futuro - num cúmulo que radica na desgovernação do país. Da parte dos afortunados portugueses de primeira categoria: as facilidades concernentes ao progressivo enriquecimento, o bacoco exibicionismo, o desmedido prazer, o insolente ócio e alguma corrupção à mistura; perante a complacência do Governo, a diligência da Assembleia da República e a simpática compreensão dos anões políticos A fraqueza e humildade do Zé confrontam-se com a riqueza e pesporrência da classe dominadora da grei portuguesa.
Estão enraizados brandos hábitos de convivência, estabelecidas normas de conduta e padronizados os comportamentos face às ocorrências trágicas, aos actos criminosos e aos expedientes dos espertalhões que superintendem a situação político-administrativa. E se exceptuarmos: as violências dos tiroteios nas ruas e praças; os assaltos aos bancos, às estações dos correios, às ourivesarias; as acções de roubo de viaturas nas vias públicas das cidades e nas auto-estradas; e as trapalhadas dos ministros; tudo o mais gira conforme o que está consagrado pelo uso e enriquecido pelo abuso. Além de ser correlativo às políticas adoptadas pelo governo com a aprovação dos ilustres deputados que assentam no Palácio de S. Bento.
O Zé-Povinho, não dispondo de qualquer parcela de influência na gestão da “QUINTA LUSITANA”, pouco dado às leituras e à Cultura, tem a conduta ancestral de amochar perante o Poder. Os governantes e os políticos, abusando da confiança e ingenuidade da bonacheirona criatura, têm a ousadia, a manha e a perversão de o intrujar, explorar, acabrunhar e dele fazer gato-sapato. É este o estado da Nação. Também, esta, a Nação do Estado que temos. Que enquadra uma paz podre apontada ao silêncio dos cemitérios, para onde vão sendo encaminhados rapidamente os mais desafortunados portugueses. Assim sucede porque, com certeza, está determinado pelos detentores do poder existente, senão escrito, que desta sorte terá que ser. Claro que para mal de muitos indígenas amaldiçoados por condições de nascimento, de infortúnio e de malvadeza de gente impiedosa e pecadora; e para bem e gozo de poucos que tiveram a fortuna de nascer em berços requintados, com o traseiro para o ar ou que ao longo da existência se acomodaram aos favores das oportunidades, porventura prevalecendo-se da falcatrua, da avareza, da injustiça, do impudor, da desonestidade e da exploração do próximo.
Neste contexto, aos “senhores cinzentos”, na sua qualidade de associados da “QUINTA LUSITANA”, interessa-lhes, sobretudo, manter as aparências de um estado de direito e preservar o sistema com os maiores cuidados a fim de evitar percas de ritmo e de proventos; estes – assinale-se - ao alcance de quantos dela se alimentam com gula e nela se alojaram sem escrúpulo e com total falta de vergonha.
Uma das coisas mais chocantes para os senhores da “QUINTA LUSITANA” e que deveras os incomoda é, precisamente, aquilo que lhes escapa nos domínios da mente e, se preferirmos, da inteligência. O que os leva a considerar um absurdo da Natureza e uma deplorável - quiçá, incompreensível - picardia do “Grande Arquitecto do Universo” a estranha circunstância de, por vezes, o factor talento se encontrar incluso em seres inferiores, desqualificados, mal vestidos, deficientemente alimentados, sem vistosas residências, nem possuindo soberbas fêmeas (se homens) ou aperaltados machos (se mulheres); e, não integrantes do seleccionado mundo dos eleitos da riqueza, da sabedoria (nuns casos), da ignorância encartada (noutros) e do apanágio do currículo académico. Quando se registam casos específicos de sucesso e de repercussão social de gente humilde, é notório o desconforto sentido na pequena camada omnipotente da terra lusa – o que arrasta consequências. Desde logo, as tentativas de desvalorizar as pessoas que atingiram elevados padrões de faculdades de alma e que, assim, sorrateiramente, à falsa fé, se permitiram o desplante de entrarem em domínios tão ciosamente reservados. Depois, silenciarem-nas e - se possível - às suas prestações profissionais e intelectuais. Não satisfeitos, os exploradores da “QUINTA LUSITANA”, dando largas à cegueira e ao rancor, perseguem essas criaturas invulgares e dificultam-lhes as vidas. E vão ao ponto de negarem-lhes os direitos de cidadania.
Tais manifestações rascas, de mau carácter e de menoridade intelectual, manifestam-se devido ao receio de que a inteligência de gente desalinhada possa embaraçar os desígnios de quem vive do obscurantismo e, de algum modo, desestabilizar a estrutura da arquitectura republicana maçónica de Portugal. A existência de seres inteligentes livres e actuantes acentua o perigo de eles se constituírem maus exemplos e se tornarem críticos rigorosos, isentos e influentes junto do público. Os ditos beneficiários do sistema pensam (embora não o afirmem) que o ideal seria que a inteligência se concentrasse neles - os seres de eleição, donos da “QUINTA LUSITANA”: “sábios”, fraternos entre si, arrogantes, prepotentes. Também dissimulados, como mandam as normas aceites pelos modernos adoradores de Salomão.
Sob estas premissas, levados por um fugidio momento de absurdo espírito contemporizador a assumir as dores de suas excelências e atentos ao patético ângulo da insanável contradição prevalecente na sociedade de, no seio da arraia-miúda, haver infiltrações de inteligência, onde seria suposto, desejável e necessário, que prevalecesse a burrice e a estupidez, temos de considerar uma perigosa - grande, lamentável, enfadonha - chatice, o facto de existirem cidadãos excepcionalmente dotados, membros de classes situadas a níveis inferiores das castas dominadoras de nações e estados do mundo contemporâneo.
Face a tão peculiar quadro atrás descrito, tem-se como insólita e comprometedora da lisonjeira fama do nosso governo a sua tendência para de quando em quando, confundindo intenções e disfarçando políticas de mau agoiro, dar a ideia de ser um bom samaritano. Por exemplo: há dilatados meses o chefe Sócrates declarou aos órgãos da Comunicação Social que o Governo deliberara legislar no sentido de franquear as postas das universidades aos idosos – seguindo o exemplo da Universidade dos Açores que há anos abriu o precedente. Passou o tempo de muitas luas e… nada! “Tudo como dantes, quartel-general em Abrantes”.
Subentende-se que o processo abortou. Certamente que Sócrates e os ministros estavam distraídos ao tomarem aquela decisão. Nem se lembraram que a inteligência dos indígenas portugueses quer-se desvalorizada e ignorada na sociedade lusa. Terá reparado nisso intempestivamente, após ter metido o pé na argola… Sublinhe-se que as regras e ordenações estabelecidas por quem pode e manda são para se aplicarem. Porém, há que destacar ser esta mais uma promessa de Sócrates não cumprida. Este incumprimento torna-se, precisamente, emblemático e expressa-se à medida de um governo de “bons rapazes”, “fraternos companheiros”, dúbios e incensados apóstolos da trilogia democrática: Liberdade, Igualdade e Fraternidade; que, abençoados pela “Ordem”, se está nas tintas para satisfazer os anseios dos cidadãos não incluídos na categoria de 1.ª classe, da comunidade nacional.
Fim
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