Estimadas senhoras,
Caros senhores,
Junto uma crónica sobre assunto que suscitou grande interessa do público.
E que reflecte a degradação a que chegou a actividade política em Portugal.
Apresento os melhores cumprimentos.
Brasilino Godinho
Um texto sem tabus…
O QUE ACONTECERIA
SE… OUTRO FOSSE O ESPERTALHÃO?
Brasilino Godinho
http://quintalusitana.blogsopt.com
Hoje falamos de alguém muito amimado, bastante festejado e superlativamente badalado, lá para a zona da grande Lisboa.
É um rapaz de precoces talentos, nascido no seio de boa família do meio lisbonense. Papá famoso. Mãe herdeira de apelido que deixou marca indelével na história pátria.
O moço, de aspecto franzino, é excessivamente irrequieto e palrador. Parece sofrer de nervoso miudinho. Fala bem. Tem o dom da palavra. Quem se ativer simplesmente às aparências e ao tom musical das suas palavras fica embasbacado, não lhe move processos de segundas e terceiras intenções e… polícia algum o leva preso. Tem a “escola” toda… Cursos diversificados e completos…
Espertalhaço quanto baste, sorriso trocista estampado no rosto brejeiro de menino imberbe, rebelde e de colo da mamã, empertigado como capão luzidio da feira de Penafiel, na época do Natal e sobranceiro perante os auditórios e os jornalistas que o trazem nas palminhas, ele é o produto extra criado, mantido, acarinhado, por uma comunicação social solícita e complacente. Dá nas vistas o empenho com que a rapaziada fixe dos jornais, das revistas e das televisões, o retrata e o acompanha nas actuações dos espectáculos do teatro-circo da política alfacinha e nas movimentadas sessões de exibicionismo nas discotecas de Lisboa, do Estoril, de Cascais e do Algarve. E não só nesses locais de diversão e de paródia de gente fina. Os jornalistas não se fazem rogados para o acompanhar nas feiras e romarias onde o rapaz exercita a prática das beijocas nas peixeiras e demais vendedoras dos produtos hortícolas e das quinquilharias. Mas onde o artista se esmera nos desempenhos para “inglês ver” é durante as campanhas eleitorais quando protagoniza o papel de vinhateiro da Bairrada ou de proprietário de quinta no Douro, empenhado nas vindimas. Aí, sim! É um regalo para o pagode vê-lo sorridente, feliz da vida, à frente das câmaras de filmar, enquanto com tesoura de podar na mão, debruçado sobre a videira, riso matreiro e olhar de soslaio para os fotógrafos, finge que está ajudando o pessoal, em redor, ocupado na tarefa.
Mercê da sua particularidade comportamental – a dos ósculos pespegados nas caras das feirantes - os amigos de peito, em tempo oportuno, brindaram-no com a carinhosa alcunha do Paulinho das Feiras. Muito o moço se esforçou por isso. Bem a mereceu!
Jovem voluntarioso, admirador entusiástico do “amigo” americano, George W. Bush e companhia, acreditou piamente na existência das armas de destruição maciça no Iraque e atirou consigo de mergulho cego no meio da farsa engendrada pelo chefe do Estado americano para convencer o mundo da bondade dos seus sinistros propósitos. Depois, apoiou sem reservas a intervenção armada dos americanos naquela país do Médio Oriente.
Em cúmulo de atributos fora-de-série, o moço lisboeta dá mostras de ser um inconformado contemplativo da democracia portuguesa. Frequentemente manifesta uma irresistível atracção pelo abismo das grandes trapalhadas de múltiplas naturezas.
Os leitores já perceberam que a venturosa criatura aqui citada é o célebre Paulo Portas. O Paulo de muitas portas que se abrem de passagem para bastantes eventos; alguns deles mui desgraciosos…
Estamos a lembrar-nos que, numa determinada época, ele andou de braço dado com a elite maçónica da Universidade Moderna; singularmente envolvido em várias actividades ligadas àquela instituição. Uns anos depois acorreu à Basílica de S. Pedro, no Vaticano, para se ajoelhar em angélica veneração de Josemaria Escrivá de Balaguer y Albás, no decorrer das faustosas cerimónias de canonização da controversa e pouco recomendável figura espanhola.
Também nos recordamos que, em certo data, na companhia de amigos muito excitados, acometeu sobre o partido CDS e chamou-lhe um figo. Paulatinamente o foi digerindo a ponto de o deixar definhado…
Entretanto, na sequência da prática desportiva do pára-quedismo que já o levara a estrondosa queda em Aveiro, um dia, abruptamente, caiu de pára-quedas no Ministério da Defesa. Por lá se manteve até que, numa altura de borrasca eleitoral, se desenfiou…
Sabe-se, agora, que a saída foi precedida de um insólito expediente que deixou os indígenas de cara à banda…
Reportando-nos aos jornais “Expresso” e “Jornal de Notícias” citamos:
01 - Paulo Portas, uma semana antes das eleições de 2005 que ditaram a vitória do PS, encarregou uma empresa de digitalização de extrair, para sua posse, 61 893 fotocópias de páginas de documentos confidenciais (alguns com as indicações de “Iraque”, “NATO”, “ONU”, “Submarinos”).
02 – Paulo Portas veio declarar aos jornalistas que os papéis fotocopiados eram notas pessoais.
Manuel António Pina, escritor e jornalista de alta craveira intelectual, fez cálculos e apurou que “Feitas as contas, enquanto foi ministro da Defesa, Paulo Portas terá, assim, escrito 24 páginas de “notas pessoais” por dia, incluindo domingos, feriados e dias santos de guarda. O que dá algo como uma página de “notas pessoais” por hora, mesmo no banho e durante as horas de merecido sono (pelos vistos, não é só Deus que não dorme, Portas também não).
Claro que Paulo Portas não se coíbe de, com a desengraçada e estulta resposta, estar a passar um atestado de estupidez ao povo português e às autoridades. Na sua mente alberga a ideia de que seremos todos uns mentecaptos. Nele, a insuperável esperteza de tendência característica saloia que tudo leva de vencida.
Atentemos no número: 61 893. Documentos pessoais? Então, por que carga de água, deles tirar cópias? E os originais ficarem depositados no ministério? O Ministério da Defesa “virou” museu de arquivo dos papéis de Paulo Portas?
Pela nossa parte, sublinhamos que se nos dispomos a aceitar a ideia de que Deus e Portas não dormem, também estamos certos que as autoridades deste país estão a dormir com sono profundo. Não há maneira de despertarem para a realidade da iniciativa de Paulo Portas; a qual, configura um delito oportunista de abuso do poder, um acto exorbitante, ultrapassando as suas competências e uma flagrante violação dos deveres de reserva e contenção funcional a prosseguir dentro dos limites estabelecidos pelo senso comum, pela Ética e pelo articulado da Constituição da República Portuguesa. Igualmente, uma despundonorosa falta de lealdade com activo abandono da ideia de preservação dos superiores interesses do Estado que, decididamente, não podiam ficar sujeitos ou dependentes da avaliação do próprio interessado na prática do irregular procedimento. Acto praticado que arrastou danos irreversíveis para a dignidade do cargo e em manifesta quebra de lealdade para com a entidade Estado. Paulo Portas incumpriu o juramento proferido no acto de posse das funções ministeriais: de as cumprir com isenção, zelo, rigor e lealdade.
Estranha-se que Presidente da República, Governo, Assembleia da República, Procurador-Geral da República, Polícia Judiciária, partidos, estejam impávidos e serenos sem tomarem providências de investigação criminal para exigirem responsabilidades ao jovem Paulo Portas. Faz-se notar às autoridades deste país de duvidosos e inquietantes costumes que, apesar de novato e dos excessos de juventude - sempre encarados com bonomia e indulgência pelos seus indefectíveis companheiros - tudo nele induz à conclusão de que é imputável… Logo, urge agir em consonância com a gravidade do facto aqui comentado.
À consideração dos portugueses deixamos a interrogação: O que aconteceria se tivesse sido um qualquer funcionário do Estado, sem vínculo partidário ou filiação na Franco-Maçonaria e Opus Dei, a permitir-se o desplante de, para uso pessoal, fotocopiar um, dois ou três documentos confidenciais dos arquivos do seu sector de actividade oficial? E se fossem 61 893 (sessenta e um mil, oitocentos e noventa e três) papéis fotocopiados?
Fácil é presumir o que sucederia…
Estava “lixado”! De uma penada, ia para a rua! Os guardiães do Templo não se dispensariam de vir à praça pública exigir punição exemplar do prevaricador, nem desaproveitariam a oportunidade de, cinicamente, acenarem com a fantasiosa ideia de que estamos num Estado de Direito…
Tendo na devida significação o procedimento de Paulo Portas e outros irregulares de várias “trutas”, que se sucedem numa cadência infernal, nós contrapomos: Estado de torto! Desavergonhado! Sem moral! À deriva!
Outrossim, Estado em permanente conflito com a Justiça. Na perspectiva de iminente risco de derrocada…
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