Leitor,
Pare!
Leia!
Pondere!
Decida-se!

SE ACREDITA QUE A INTELIGÊNCIA

SE FIXOU TODINHA EM LISBOA

NAO ENTRE NESTE ESPAÇO...

Motivo: A "QUINTA LUSITANA "

ESTÁ SITUADA NA PROVÍNCIA...

QUEM TE AVISA, TEU AMIGO É...

e cordialmente se subscreve,
Brasilino Godinho

sexta-feira, novembro 23, 2007

Mensagem-reflexão

de Rodrigo Costa

Caro Brasilino,

Falo-lhe do Porto, Cidade que muito bem conheço, por ser onde vivo e onde trabalho.

O Porto, eu diria, é uma espécie de Portugal pequenino, de horizontes atrofiados, onde algumas personalidades e alguns grupos dividem, entre si, o fausto e as misérias —mais o fausto, naturalmente, porque as misérias e nem tanto assim são divididas pelos que não pertencem à família. Por vezes, as comadres chateiam-se e incomodam-se e, como isto é mesmo pequeno - se não conhece - qualquer estrago na cozinha provoca efervescência ao fundo do quintal. Só isso.

O Dr. Rui Rio não é, seguramente, alguém adequado para presidir aos destinos de uma Câmara a que se exige aquilo a que chamo visão periférica. É necessário que tal como os problemas económicos, sejam atendidos os problemas sociais e de cultura, porque, ovo de Colombo, há natural interligação entre as três áreas, na medida em que, sem qualquer movimento social e cultural, pergunto-me se a Ciência da economia fará algum sentido, salvo se pensarmos num qualquer esvaziado patinhas que, passando o dia a contar dinheiro, de cada vez que acabe, volte ao princípio.

No âmbito da Cultura - o que melhor conheço -, Rui Rio cortou alguns subsídios que alimentavam, mais do que movimentos culturais ou artísticos, vícios. Rapaziada que tinha a garantia de uma vida tranquila, desde que em consonância com o ou os partidos, mais propriamente afectos ao PS ou ao PC - devo dizer-lhe que nunca votei nem estou recenseado, porque não acredito na política, ou na política deste País, como coisa séria, forças que, por questões de tempo e de ADN, são tão segregacionistas quanto as outras, CDS ou PSD, valendo que isso não se deve aos partidos, mas à Espécie, porque somos mais animais do que o que pensamos e, como tal, sujeitos ao mesmo Instinto porque se orientam os ditadores.

Ora, se fechar torneiras foi a medida certa, tal deveria ter acontecido em presença de um plano alternativo que abrisse a Cidade, onde a Cultura e a Arte pudessem ser mais do que associativismo e sem que todos os agentes tivessem que ter tido, necessariamente, eles ou ascendentes, problemas com a PIDE; onde os espaços culturais não tivessem que ser, obrigatoriamente, bastiões do pensamento político - sem pretender com isto que as pessoas hipotecadas pensem, porque é na falta de pensamento do indivíduo que a política e a religião assentam, porque todos os regimes e todos os credos têm os seus prados e os seus rebanhos. E o País está assim, porque não tem projecto; porque não se pensou que, depois do 25 de Abril, outros dias viriam e exigiriam que se tivesse pensado nisso. Derrubar um regime não será complicado. Difícil é a reformulação de pensamentos e de comportamentos, a modificação de hábitos. Sobretudo, pensou-se em tomar o poder.

Quanto ao Porto Feliz - a desgraça dá sempre jeito, a alguém e em algum momento - como outros portos e outros infelizes, ele é uma bandeira. Ou acredita, Caro Brasilino, que, no fundo, no fundo, os poderes querem por fim à pobreza? Se assim fosse, os poderes pagariam o salário justo aos que trabalham, premiariam o mérito dos que se esforçam... Mas, caro Brasilino, os poderes gostam mesmo é de dar esmola e dividir os lucros com os amigos.

Veja o exemplo dos jogos contra a pobreza, organizado por alguém que convenceu os jogadores de futebol de que, para a sua imagem, seria bom que, uma vez por ano, dessem a ideia de que são altruístas. Ora, para indivíduos que ganham, basicamente, milhares de euros mensais, não seria mais fácil e mais honesto fazerem uma colecta, ao longo do ano? Ou, então, assumirem, sem remorso e sem culpa, que o que recebem, recebem por que lho dão, e que não estão dispostos a depositá-lo nas mãos de quem, talvez, nunca o levasse ao destino?

E, já agora, será que todos os que necessitam, necessitam mesmo, porque não têm capacidade, nem meios? Será porque qualquer doença ou deficiência os impede de serem úteis, antes de mais, a si mesmos - ou falamos, também, de muitos que se habituaram a uma vida de aparente facilidade, à decadência, pelo ócio?

O País - não apenas o Porto - deveria, no interesse do colectivo, fazer uma triagem, permitindo saber-se quais os que não podem e quais os que não querem, no sentido de serem ajudados: os que não podem, na cura, no restabelecimento; os que não querem, na reeducação e na reformulação do modo de vida. Garanto-lhe, Caro Brasilino, estamos a falar de utopia. A Saúde vive dos doentes, a Assistência Social vive dos desmotivados. É mais fácil, Caro Brasilino, conseguir subsídio para a desintoxicação do que um outro para apoiar um projecto de carreira, de trabalho. O resto, no Porto, como noutra localidade, aquilo a que assistimos á a um choque de figuras. Nada que não seja frequente... quando se desentendem, é claro.

Cumprimenta,

Rodrigo Costa