Leitor,
Pare!
Leia!
Pondere!
Decida-se!

SE ACREDITA QUE A INTELIGÊNCIA

SE FIXOU TODINHA EM LISBOA

NAO ENTRE NESTE ESPAÇO...

Motivo: A "QUINTA LUSITANA "

ESTÁ SITUADA NA PROVÍNCIA...

QUEM TE AVISA, TEU AMIGO É...

e cordialmente se subscreve,
Brasilino Godinho

terça-feira, julho 24, 2007

Um texto sem tabus…

EM LISBOA, UMA GRANDE VITÓRIA…

A DA ABSTENÇÃO!

Brasilino Godinho

brasilino.godinho@gmail.com

http://quintalusitana.blogspot.com

As eleições do p.p. domingo, dia 15 de Julho, para a Câmara Municipal de Lisboa, foram invulgares a muitos títulos: pela primeira vez intercalares, 12 candidatos, situação de descalabro funcional do município que deu azo à consulta popular, os resultados, as consequências, as explicações e as análises dos comentadores do costume.

É sabido que houve eleições para a autarquia lisbonense porque a câmara tinha atingido um ponto de rotura financeira, consequência de má gestão. Como ninguém se entendia e os políticos estavam desavindos, os partidos conjugaram esforços no sentido da dissolução da edilidade.

Precedidas de uma campanha eleitoral que antecedeu – como é habitual - o período oficial determinado pela legislação para o seu exercício, realizou-se a consulta eleitoral e apuraram-se os resultados que deixaram os partidos com “amargos de boca”.

Ainda não foi desta vez que todos reconheceram terem perdido. Segundo os números do apuramento geral António Costa, do PS, ficou em primeiro lugar. Ganhando pelo maior número de votos, com o seu nome, entrados nas urnas, perdeu porque 57 907 do lisboetas que o escolheram não chegavam para encher o estádio do Benfica (não é de estranhar esta comparação visto que, em Portugal, a política anda normalmente associada ao futebol) o que é muitíssimo pouco se considerarmos que 537 456 pessoas estão inscritas nos cadernos eleitorais. Derrota mais acentuada porque muito insistiu no pedido de maioria absoluta. Um fiasco. Pouca legitimidade democrática. Não obstante, António Costa, José Sócrates e outros socialistas altamente encarrapitados no grande poleiro da República, deram largas à verborreia e contemplaram-se, sem pudor, na fantasiosa imagem da grande vitória do PS que, proclamavam, sozinho não conquistava a câmara lisbonense há três décadas. E como se isso não fosse pouco no vasto campo da leviandade e da fraqueza de afirmação ainda houve aquele espectáculo saloio de levar à porta do Hotel Altis um grupo de velhinhos, vindos do interior profundo, em autocarro, para festejar a vitória do Partido Socialista. Uma festa deprimente com velhinhas a declararem às jornalistas que estavam ali, mas não sabiam ao que iam. Francamente! Ao ponto a que se chegou nesta república dita democrática, mas que vai imitando e agindo exactamente conforme as práticas da “democracia orgânica” - ditadura de Salazar. Uma vergonha nacional.

Obviamente que todos os outros candidatos perderam as eleições. Mas cada um, à sua maneira, lá arranjou “justificações” para o desaire. Dois deles, Helena Roseta e Carmona Rodrigues, que sendo dissidentes respectivamente do PS e do PSD, apresentaram-se como independentes e enalteceram as posições alcançadas na tabela de classificação. Roseta a 4.ª e Carmona a 2.ª.

No rescaldo e durante os primeiros dias a seguir ao domingo do escrutínio, sucederam-se as lamentações dos políticos, as trocas de mimos entre os candidatos e até algumas iniciativas tendentes a disfarçar os infortúnios, senão mesmo alguns actos de atrevido voluntarismo com o propósito de alterar as normas constitucionais que regulam a constituição e o funcionamento das autarquias municipais.

Também com o destino traçado de dar colorido ao estado da situação embaraçosa e apresentar um pouco de exotismo ao ambiente criado ao redor das eleições aqui postas em causa, hoje (sábado, 21 de Julho) surgiu o inefável jornalista José António Saraiva com a peça “POLÍTICA A SÉRIO”; na qual explana a tese de que o Carmona Rodrigues – que muito admira – foi o grande vencedor.

Porque a sério consideramos a Política, diríamos que mais apropriado seria intitular a crónica de POLÍTICA A BRINCAR. Exactamente, porque achámos imensa piada àquela tirada: “Carmona Rodrigues tem, pois, razões para estar feliz. Quem ri por último é quem ri melhor – e dificilmente as coisas lhe poderiam ter corrido mais de feição”. Que confusão vai na cabeça deste analista da praça lisbonense. Ou que sentido de humor negro?

Repare-se na cronologia dos acontecimentos: primeiro, o homem, Carmona Rodrigues, ex-presidente da câmara de Lisboa, decerto candidatou-se com o interesse e convicção do que poderia ser eleito e empenhou-se afincadamente na campanha; depois, falhou a eleição; e, a partir daí, continua arguido num processo judicial complicado. Agora, vem Saraiva num rasgo de imaginação descompensada, afirmar que ele, na real condição de desinfeliz, estará feliz por afinal, ter sido derrotado e sentir o incómodo de continuar aguardando o desfecho do processo em que está envolvido. E que dizer da observação:Quem ri por último é quem ri melhor? Que motivos tem Carmona, na desconsolada situação de arredado da presidência e como arguido, para rir? E por último? E a rir melhor? Mais surpreendente a incrível afirmação: “Dificilmente as coisas (a Carmona) lhe poderiam ter corrido mais de feição”. Ou seja: Saraiva quer dizer: se ele tivesse ganho a presidência, as coisas facilmente lhe teriam corrido menos de feição Provavelmente, Carmona choraria em vez de rirSorte malvada, a de CarmonaSem alternativa. Sempre lixado

Por outro lado, a crer na veracidade da “conversa” de Saraiva, confesso admirador do ex-presidente, quem diria que Carmona Rodrigues é tão pouco exigente consigo próprio Pelos vistos, o jornalista Saraiva sabe… e veio dizê-lo com os adequados punhos de renda. Ou, pelo contrário, faz-lhe a injustiça de o considerar palonço? Em qualquer caso: reconheçam-se os riscos que os Carmonas correm quando se aventuram nalgumas “corridas” e lhes saltam à frente os grandes comentadores, os iluminados analistas dos jornais e televisões de Lisboa e os chamados amigos da onça

A verificação mais evidente nestas eleições é que a grande vitória foi a da abstenção. Atingiu a elevada fasquia de 62,6%. – o que corresponde a 336 500 cidadãos inscritos como eleitores. A este número de não votantes deve acrescentarem-se 12 500 votos em branco. O que se traduziu numa clara manifestação de enfado e de repúdio pela actuação dos partidos, dos políticos e dos governantes.

Natural seria que os dirigentes partidários, os parlamentares e os detentores dos vários poderes, extraíssem as devidas ilações desta explícita vitória da abstenção. Tal não sucedeu! Segundo os hábitos, os directamente visados primaram em demonstrar que se estão nas tintas para reflectirem sobre a grave situação do País e as enormes responsabilidades que lhes cabem.

Numa perspectiva abrangente, nos planos da sociologia e da pedagogia, a abstenção é um sinal positivo de que os portugueses vão tomando consciência de que urge inverter o actual ciclo de decadência do País, de enfrentar resolutamente a opressão exercida sobre as camadas mais desfavorecidas da sociedade e de penalizar a incompetência, a arrogância e a impunidade dos políticos e governantes.

Porém, não esqueçamos; a abstenção tem um aspecto negativo - o de corresponder ao incumprimento, por parte de milhares de cidadãos, do dever cívico de votar.

Tendo como probabilidade a continuação da derrocada da Nação, desde já importa admitir a hipótese de se empreender à escala nacional a tarefa de esclarecer as pessoas neste preciso sentido: é urgente manifestar a indignação perante tantos atropelos aos direitos, liberdades e garantias consagrados na Constituição da República Portuguesa e aos atentados contra os interesses e as vidas dos portugueses. Igualmente admitir que esse protesto nacional terá de ser expresso nas próximas eleições legislativas, em 2009, com todos os humilhados e ofendidos a cumprirem o dever cívico de votar – indo à boca das urnas votar em branco! Porque este é que é o verdadeiro, o inequívoco, voto de protesto e aquele que os “políticos” mais temem. Só de pensarem na hipótese de isso vir a acontecer, eles nem conseguem disfarçar o pavor.

Fiquemos todos a pensar no que representaria uma votação de 70% (por exemplo) de votos em branco!

Os portugueses mostravam a sua indignação. A Europa e o Mundo ficavam a conhecer a realidade de Portugal. Certamente, seria um exemplo urbi et orbi!