10. APONTAMENTO DE
BRASILINO GODINHO
02 de Novembro de 2017
ESTE PAÍS ESTÁ DOENTE E BLOQUEADO
Este País, que dir-se-ia jazer em
maus lençóis estendidos no Cemitério dos Prazeres (mórbidos), sito algures na bela
cidade das sete colinas, sobranceira ao Rio Tejo, enferma de uma grave
patologia. Esta, de largo espectro e de várias naturezas causada pelo desgaste
físico, pela exploração, pelos maus-tratos e pelo abandono do corpo da nação
dos indígenas que somos todos que nela se mesclam e vão sobrevivendo penosamente
a bastantes tragédias - como foram as dos fogos florestais que ficaram como
péssimas recordações emblemáticas dos muitos desatinos praticados pelos
governantes e políticos que, por rifa de má sorte, nos couberam na sucessão
temporal das últimas décadas.
É uma doença que tende a
agravar-se por decorrência das repetitivas e nefastas acções de zelosos
profissionais que têm o hábito de ver Portugal através do canudo de lentes
disfuncionais que tornam distorcidas e aberrantes as imagens recolhidas e por
isso o instrumento é de limitado e ilusório alcance; o qual, praticamente se
cinge ao perímetro urbano da alfacinha capital saloia.
E para além desses activos
profissionais que são os maiores fautores da referida doença de nativa
abrangência social e que se costuma correlacionar com a chamada política à
portuguesa usança, acresce e sobressai, com algum escândalo, a existência de
outros profissionais que, quotidianamente, na imprensa, televisões e rádios, botam
paleios de encantar ou convencer idiotas e desenvolvem perversas acções de
cooperação e promoção dos que sentados à mesa do Orçamento vão mal gerindo a
situação do território nacional; o que fazem condicionados pelo crivo da deturpada
visão de tudo aquilo que, pelo uso e abuso do desqualificado canudo a que
aludimos, supõem vislumbrar a partir dos altos de S. Bento, dos cumes de Belém
e do altaneiro campanário de Lisboa.
Estamos perante um assinalável
contraste. Enquanto os ditos, cujos, soberbos, convencidos da grandeza
alfacinha, imaginam ver árida a paisagem para além de Lisboa e imprestável tudo
que nela existe - nós, na província, temos duas alternativas quanto ao
conhecimento do país real:
- a primeira, vemo-la
concretizada através do que acontece quando, imperativamente, nos ocorre espreitar
o famigerado canudo do alto do Sameiro. Nessas alturas: convictos e de forma
irrefutável, proclamamos: Aqui El-Rei! Estamos a ver Braga por um canudo… Sem margem para subtrair a triste
realidade. Isto ocorre em cadência sistemática. A toda a hora vemos Braga pelo
malfadado objecto da detestável óptica da desventura;
- a segunda, temo-la traduzida na
imagem real do país que não só está exposto à nossa frente, como a vemo-la
expandida no todo espacial português que se nos depara sempre que bem manejamos
o útil e funcional canudo provido de lentes de larga abrangência, que temos ao
dispor das nossas faculdades de alma e das nossas capacidades de análise, de
vera observação e de correcta interpretação do meio ambiente.
Por estas e outras
particularidades da vida colectiva em Portugal, que aqui nem vale a pena acrescentar
porque menção mais confrangedora, importa saber de que na capital se concentram
as centrais de comando do desnorte sociopolítico do Estado e da Nação. E, ainda
mais, será conveniente que cada cidadão nado, criado e vivente no espaço além
capital, retenha na memória o registo da anedótica presunção e patética gabarolice
dos grandes figurões da política, da governança e do fanático bairrismo, instalados
no solo lisbonense: de que em Lisboa se há concentrado toda a inteligência
portuguesa e que na Província, onde nos encontramos, se acantonou a ignorância,
viceja a estupidez e que seremos, todos nós, pela divina graça do Grande
Arquitecto do Universo, provincianos simplórios, indigentes de espírito e
mentecaptos de triste condição e de nula função.
Provas? Basta tomarmos nota daquilo
que, em sede de opinião expressa, se escreve e ouve nos jornais, revistas,
rádios, televisões, de projecção nacional, com sede na cidade lisboeta. Neles
pontificam assiduamente os contumazes sacerdotes do serviço litúrgico daquele
obscuro templo onde se contempla, despudoradamente, com fervor e avidez o
bezerro de ouro e se faz o culto das amizades, dos compadrios, das corrupções,
das aprendizagens inerentes às licenciaturas arrelvadas e socráticas e se
refinam as práticas e combinações avulsas das fraternidades com a expedita
rapaziada da governança e com os poderosos senhores cinzentos que tudo podem e
fazem, a que aludiu o Prof. Doutor António Sousa Franco, no Porto, semanas
antes de morrer.
Diga-se: A Nação Portuguesa está
profundamente doente. Para isso contribui acentuadamente e com acinte o grupo
dos fazedores de opinião entrincheirados nos órgãos de Comunicação Social
sediados em Lisboa.
Repare-se: fazedores de opinião
que são sempre os mesmos. Eles têm presenças avençadas que - por serem tão
contínuas, entre si repartidas e de obsessiva insistência na proposição dos
seus interesses e ideologias, que já são causa do afastamento de leitores e
ouvintes cansados e saturados das conversas de chacha e do estafado,
intolerável, discurso interesseiro e alheio ao bem comum. Outrossim,
responsáveis pelas falências que se vêm sucedendo no sector.
Decerto, opiniáticos formando um
seleccionado clube com funcionamento de exclusividade. Ou eles não julgassem deter
o privilégio de posse única do saber e da inteligência…
Urge que na Província continuemos
a pô-los resolutamente de lado e se providencie no sentido de darmos mais voz
aos seus habitantes e aos interesses colectivos que nela radicam.
Decididamente: Portugal não é
Lisboa e a Nação portuguesa não se confunde com a população lisbonense e com a
existência e sobranceria dos próceres do Poder e dos governantes - uns e
outros, geralmente, bem instalados e confortados à beira-Tejo.
Mapa mostrando a visão governamental e lisboeta sobre
Portugal:
- Portugal é Lisboa (A área pintada a vermelho).
- O resto do país é a brancura da paisagem do vazio.
Prof. Doutor António Sousa Franco
(Ex-Ministro das Finanças)
0 Comentários:
Enviar um comentário
<< Página Principal