4. APONTAMENTO DE
BRASILINO GODINHO
26 de Outubro de 2017
“ATÉ
AMANHÃ SE DEUS QUISER”
MAS,
SE DEUS NÃO QUISER?...
Brasilino Godinho
Esta expressão “se Deus quiser” ouve-se
frequentemente em Portugal.
Neste purgatório lusitano, ainda nos
meados do século XX, também se dizia que as tempestades aconteciam sempre que
Deus quisesse. Então rezava-se a Santa Bárbara para esconjurar o Demónio e a ladainha
a Nossa Senhora de Fátima para que se dignasse interceder junto do Grande
Senhor do Universo, para ele ter misericórdia dos pecadores que seriamos todos
nós, portugueses.
Actualmente, numa estação de
televisão lisbonense a frase é repetidamente proferida quase todas as tardes,
na despedida do programa. No nosso país e século passado era dita com muita
insistência.
Porém, em qualquer época, sempre
usada sem sentido lógico e determinação racional.
Desde logo por denotar a verdade
do conhecimento do homem não ter certezas quanto ao futuro ou relativamente à
ocorrência de factos posteriores ao chamamento divino que está sendo formulado.
E note-se que a expressão se Deus quiser parece convocar a
magnanimidade da divina criatura, com vista a superar a incerteza e a
insegurança de quem está receoso do que virá a seguir; mesmo que decidido a “agarrar o lado positivo da sua vida” (Sito
à esquerda? À direita? Ou qual será o lado negativo? Uns mistérios a
decifrar…).
Portanto, trata-se de conversa de chacha. Fala vazia de
substrato. Absolutamente inoportuna e descabida.
Para além disto, se a dita formulação
oral representa um abuso de confiança e algum desrespeito para com o Grande Senhor
Deus de todos os aguerridos exércitos de fiéis espalhados pelo mundo, também
representará uma estranha descrença nos divinos atributos da entidade suprema
que, por definição, tudo regula a seu bel-prazer. Mais, em absoluto,
dispensando quaisquer intoleráveis formas de pressão que atrevidos e pouco
convictos crentes pretendem exercer sobre a mesma ou condicioná-la nos seus
sobrenaturais desígnios.
Além de que sabendo que não
dominamos a caracterização do amanhã e que o Ente Supremo terá mais que fazer
do que se preocupar com frivolidades dos seus seguidores terrenos, quem assim
usa e abusa da proverbial condescendência da divina criatura, está agindo como
se tivesse o poder de chover no molhado
– como ocasionalmente dizem os nossos amigos brasileiros. Assim considerando; uma
vez que não há memória de que, desde a Antiguidade, Deus, nalgum tempo e lugar do
planeta Terra, não tivesse querido o amanhã…
Concluindo: Haja Deus! Venere-se,
respeite-se e tenha-se compaixão por ele. Ponha-se de parte a famigerada
expressão: Se Deus quiser. Ele, provavelmente, enfadado, não a apreciará,
nem dará qualquer crédito a quem dela faz abusivo uso, em qualquer tempo e sítio.
ALIÁS, ELE NEM PRECISA DE SER LEMBRADO DO SEU INERENTE QUERER E
DISCRICIONARIEDADE. ATENTE-SE NISTO!
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