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INCÊNDIOS
E BODES EXPIATÓRIOS
No
passado, havia os bodes expiatórios. Quando a dor da comunidade era demasiado
grande, impossível de suportar, e a impotência humana nos punha de rastos,
escolhíamos uma vítima expiatória, que arcasse com as culpas de todos,
esconjurando os nossos medos e sossegando-nos. A função de um bode expiatório
era a de restabelecer a harmonia no seio da comunidade, que havia sido rompida.
A
tempestade era imparável e o barco ameaçava naufragar? Pois havia que lançar
pela amurada fora o culpado da cólera de Neptuno. A peste percorria a cidade em
devastação? Pois que se fizesse uma fogueira e queimasse a bruxa, responsável
pela epidemia. A cultura ocidental tem mesmo o caso extraordinário de alguém
que tomou sobre si as culpas de toda a humanidade. E é por essa razão que lhe
chamamos o Filho de Deus.
Hoje,
continuamos assombrados por bodes expiatórios. Sacrificamo-los em nome da
“responsabilidade política”. Pois se até o nosso Sumo Sacerdote exigiu
semelhante sacrifício…
Por estes dias, ouvi eminentes politólogos exigirem, em coro, tanto por causa de Pedrógão Grande (61 mortos e 59 feridos), como pelos incêndios de há três dias (41 mortos e 71 feridos), a queda da Ministra da Administração Interna. E a razão foi a do “bode expiatório”: era preciso que alguém assumisse as culpas da catástrofe; alguém que assumisse a responsabilidade política; alguém que fosse imolado por todos, em sacrifício.
Por estes dias, ouvi eminentes politólogos exigirem, em coro, tanto por causa de Pedrógão Grande (61 mortos e 59 feridos), como pelos incêndios de há três dias (41 mortos e 71 feridos), a queda da Ministra da Administração Interna. E a razão foi a do “bode expiatório”: era preciso que alguém assumisse as culpas da catástrofe; alguém que assumisse a responsabilidade política; alguém que fosse imolado por todos, em sacrifício.
Entendamo-nos:
teve a Ministra culpa direta das mortes que devastaram o país e o puseram em
lágrimas? Não, toda a gente sabe que não teve. Mas, argumentou-se, era preciso
que alguém assumisse as culpas de todos. As culpas de uma classe política, que
ao longo de décadas promoveu políticas desordenadas do território nacional e
políticas florestais desgraçadamente irresponsáveis. E as culpas de uma
sociedade civil, que sempre esteve por tudo: por uma proteção civil de favor
político, completamente inepta; pelos nossos “heróis” impreparados; por
madeireiros sem escrúpulos; por pirómanos à rédea solta; por irresponsáveis que
fazem queimadas imprevidentes…
Alguém
tem dúvidas de que o que se passou teria acontecido com qualquer Ministro, de
qualquer partido? Mas era preciso sevar a raiva de uma dor insuportável, que
grassava na comunidade. A atitude foi primitiva. Mas a comunidade humana é
sempre primitiva, em situações-limite.
Constança
Urbano de Sousa não tinha condições para continuar. Ela foi a vítima imolada em
sacrifício, para resgatar a culpa de todos nós.
Brasilino Godinho
Junto uma
observação relativamente "a culpa de todos nós". Mesmo que a
considere em sentido abstracto devo notar que não sinto mínima culpa; visto que
há dezenas de anos venho chamando a atenção para as previsíveis consequências
do abandono das florestas e dos rios. Se este ano tivemos a enorme tragédia dos
fogos, tudo indica que se aproxima a calamidade das cheias.
A imensa
culpa cabe a todos os governos que se sucederam desde que um deles acabou com
os guardas florestais e os guarda-rios.
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