Leitor,
Pare!
Leia!
Pondere!
Decida-se!

SE ACREDITA QUE A INTELIGÊNCIA

SE FIXOU TODINHA EM LISBOA

NAO ENTRE NESTE ESPAÇO...

Motivo: A "QUINTA LUSITANA "

ESTÁ SITUADA NA PROVÍNCIA...

QUEM TE AVISA, TEU AMIGO É...

e cordialmente se subscreve,
Brasilino Godinho

quinta-feira, outubro 19, 2017



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INCÊNDIOS E BODES EXPIATÓRIOS

No passado, havia os bodes expiatórios. Quando a dor da comunidade era demasiado grande, impossível de suportar, e a impotência humana nos punha de rastos, escolhíamos uma vítima expiatória, que arcasse com as culpas de todos, esconjurando os nossos medos e sossegando-nos. A função de um bode expiatório era a de restabelecer a harmonia no seio da comunidade, que havia sido rompida.
A tempestade era imparável e o barco ameaçava naufragar? Pois havia que lançar pela amurada fora o culpado da cólera de Neptuno. A peste percorria a cidade em devastação? Pois que se fizesse uma fogueira e queimasse a bruxa, responsável pela epidemia. A cultura ocidental tem mesmo o caso extraordinário de alguém que tomou sobre si as culpas de toda a humanidade. E é por essa razão que lhe chamamos o Filho de Deus.
Hoje, continuamos assombrados por bodes expiatórios. Sacrificamo-los em nome da “responsabilidade política”. Pois se até o nosso Sumo Sacerdote exigiu semelhante sacrifício…
Por estes dias, ouvi eminentes politólogos exigirem, em coro, tanto por causa de Pedrógão Grande (61 mortos e 59 feridos), como pelos incêndios de há três dias (41 mortos e 71 feridos), a queda da Ministra da Administração Interna. E a razão foi a do “bode expiatório”: era preciso que alguém assumisse as culpas da catástrofe; alguém que assumisse a responsabilidade política; alguém que fosse imolado por todos, em sacrifício.
Entendamo-nos: teve a Ministra culpa direta das mortes que devastaram o país e o puseram em lágrimas? Não, toda a gente sabe que não teve. Mas, argumentou-se, era preciso que alguém assumisse as culpas de todos. As culpas de uma classe política, que ao longo de décadas promoveu políticas desordenadas do território nacional e políticas florestais desgraçadamente irresponsáveis. E as culpas de uma sociedade civil, que sempre esteve por tudo: por uma proteção civil de favor político, completamente inepta; pelos nossos “heróis” impreparados; por madeireiros sem escrúpulos; por pirómanos à rédea solta; por irresponsáveis que fazem queimadas imprevidentes…
Alguém tem dúvidas de que o que se passou teria acontecido com qualquer Ministro, de qualquer partido? Mas era preciso sevar a raiva de uma dor insuportável, que grassava na comunidade. A atitude foi primitiva. Mas a comunidade humana é sempre primitiva, em situações-limite.
Constança Urbano de Sousa não tinha condições para continuar. Ela foi a vítima imolada em sacrifício, para resgatar a culpa de todos nós.

Brasilino Godinho
Junto uma observação relativamente "a culpa de todos nós". Mesmo que a considere em sentido abstracto devo notar que não sinto mínima culpa; visto que há dezenas de anos venho chamando a atenção para as previsíveis consequências do abandono das florestas e dos rios. Se este ano tivemos a enorme tragédia dos fogos, tudo indica que se aproxima a calamidade das cheias.
A imensa culpa cabe a todos os governos que se sucederam desde que um deles acabou com os guardas florestais e os guarda-rios.