447. Apontamento
Brasilino Godinho
27/Junho/2020
NO INFARMED O ESPECTÁCULO,
OS ACTORES E O CORONAVÍRUS
Decorria uma reunião no Infarmed. Presentes o
Presidente da República, Primeiro-Ministro, Ministra da Saúde e especialistas
de várias áreas científicas. Tema em discussão: Covid-19.
Estava no uso da palavra a ministra da Saúde, Dr.ª
Marta Temido. Decerto, descontraída, sem temer qualquer contrariedade. Em dada
altura aludiu a confinamento no Porto. Repentinamente, o chefe do Governo
vocifera: “É mentira! Esse discurso não é útil!”.
Os circunstantes ficam estupefactos. E Dr. António
Costa dispõe-se a sair e dirigindo-se ao Presidente da República: Senhor
Presidente, encontramo-nos daqui a 15 dias! Presidente, prontamente, encerra a
sessão.
Comentários de Brasilino Godinho
01. Começo pela desabrida atitude do chefe do
Governo. Ela evidencia uma insensata desconexão entre os discursos das duas
personagens da governação. Se há desacordo extraiam-se as consequências em sede
própria que não num evento público, de relevante importância correlativa à
gravidade da pandemia.
Sobretudo intrigante é a expressão “Esse discurso
não é útil.” Temos que nos interrogar do porquê ser inútil. Ao governo? Para
que fim ele teria de ser útil? E o Governo está assim tão carecido de um
discurso útil da ministra Dr.ª Marta Temido? E em que termos de uma utilidade para
o governo que pode, eventualmente, não corresponder aos interesses e benefícios
do povo e ao eficaz combate contra o coronavírus?
02. O povo português ficou sabendo que, naquela
ocasião, Dr. António Costa com imprevista desenvoltura, num ápice, marcou duas
agendas: a sua e a do Presidente da República. Um procedimento inédito no
historial da Partidocracia; a qual, nos chaga a paciência.
Ele, chefe do Governo, decidiu de improviso que
daqui a 15 dias se volta a encontrar com o Presidente. Sua Excelência logo
ficou informado e condicionado nas suas actividades de activo colecionador de
selfies.
Na atitude desenrascada do chefe do Governo marcar
a agenda do Presidente da República, que releva de extraordinário expediente
funcional, admito que o governante terá tido o propósito de se acautelar quanto
à hipótese de a secretária da presidencial figura ser infectada pelo vírus e
não poder apresentar-se ao serviço no Palácio de Belém e cumprir a obrigação de
agendar o encontro daqui a 15 dias – o que não é de descartar acontecer, uma
vez que o famigerado vírus ataca em tudo que é sítio da saloia capital
alfacinha. Assim procedendo, Dr. António Costa terá evitado a nefasta
consequência do “esquecimento” do Senhor Presidente.
Outrossim, demonstrado que é homem prevenido que
vale por dois da sua igualha…
03. A intervenção do chefe do Governo direcionada à
ministra da Saúde foi vista pelos jornalistas como um puxão de orelhas.
Dr.ª Marta Temido, dias depois interrogada pelos
jornalistas sobre a “agressão” de António Costa, que anoto imprópria de um
cavalheiro que se preza e que nem sequer bate com uma flor numa senhora,
respondeu que “se o primeiro-ministro puxou as orelhas à ministra da Saúde,
teria certamente razão.” Pretensa graça que redundou numa deprimente desgraça.
Um incrível exercício de masoquismo impróprio de uma senhora que muito estima a
sua dignidade. Alguns jornalistas não sobrelevando a natural discrição e o exigível
sentido crítico acharam por bem escrever, em tom ligeiro e subserviente, que Drª.
Marta Temido tinha dado “nota de humor”. Digo: muito primário é o sentido de
humor de alguns jornalistas.
Humor negro. Deplorável!
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