446. Apontamento
Brasilino Godinho
26/06/2020
ATENÇÃO! QUEM TEM MUITOS TELHADOS DE VIDRO
NÃO ATIRA PEDRAS AOS TELHADOS DOS VIZINHOS
Portugal atravessa uma grave situação decorrente da
pandemia que mais complicou um estado de degradação socioeconómica da nação; o
qual, dir-se-ia ser crónico, com séculos de existência.
Seria natural que - os políticos que dão cartas de
prestidigitação em Lisboa ou que mais se envolvem nos jogos de influência e nas
peripécias e espectáculos do circo político e que têm acesso a tudo que é ou
aparenta ser meio de comunicação pública - mostrassem, mesmo que a título
excepcionl, um mínimo de bom senso e se preocupassem com os reais e gravíssimos
problemas do País.
Em vez disso, os deputados e os políticos que lhes
são adjacentes, entretêm-se a discutir durante largas horas de conversas da
treta, exaustivamente reportadas pela TV, sobre a nomeação de Mário Centeno
para Governador do Banco de Portugal como se o ex-ministro das Finanças tivesse
peçonha contagiosa.
Poderia e até deveria, em princípio, alongar-me na
apreciação desta patética contingência do circo político, instalado na capital.
Mas a abrangência da apreciação, por tão previsível extensão, não seria
compatível com a pequenez de um simples comentário.
Pelo que, para ilustração da incoerência e
vacuidade do discurso político de certos agentes políticos, me vou cingir aos
comentários elaborados pelo vice-presidente da Direcção do PSD, Morais Sarmento,
tidos ontem em transmissão televisiva. Ele mostrou-se muito agastado com a
nomeação de Mário Centeno para o cargo de Governador do Banco de Portugal. Disse
ele, sem engasgo, que era uma manifestação inadmissível de prepotência do
governo que, embora fosse legal, representava grande falta de ética. Também
acrescentou que oportunista, com aproveitamento partidário (PS) que não
proporcionava a garantia de isenção por parte do nomeado. O que escrevo não é a
reprodução literal da intervenção de Morais Sarmento. Mas percepcionei-lhe o
sentido que tenho por exacto.
De pronto, considero que Morais Sarmento perdeu
excelente oportunidade de se manter sossegado no escritório de advogados de que
é sócio e… calado, relativamente à nomeação de Mário Centeno.
Por outro lado, é um espanto que os jornalistas se
limitem a ser como que câmaras de eco de tudo, por mais estrambólico que seja, que
ouvem dos artistas políticos. Confrange a impreparação dos jornalistas e a
desatenção face ao que decorre no dia-a-dia da vida política nacional.
Ou pior, condescenderem, não os interpelando sobre
ocorrências muito tristes e prejudiciais ao País.
Explico-me:
Morais Sarmento esqueceu-se de uma elementar norma
reflexa de bom senso: quem tem na sua casa telhados de vidro, deve abster-se de
atirar pedras aos telhados dos vizinhos.
O distinto dirigente social-democrata, pelo visto,
ficou muito “agoniado” com a nomeação de Mário Centeno para o Banco de
Portugal.
Mas, caramba! Quando o seu correligionário Ferreira
do Amaral, precedendo funções de ministro das Obras Públicas e Comunicações,
negociou um contrato leonino, altamente lesivo para o Estado, com a Lusoponte e
logo de seguida, quando deixou o exercício do cargo ministerial, tomou posse do
lugar de presidente do Conselho de Administração dessa mesma empresa, com a
qual negociara o contrato de concessão da Ponte Vasco da Gama, não há memória
de Morais Sarmento ter surgido nas televisões a lavrar seu protesto e a
proclamar haver notória incompatibilidade e promíscua associação de interesses
de variada natureza. Com uma agravante circunstância: O Estado ficou obrigado a
satisfazer elevados encargos financeiros durante 40 anos.
Por isso, a Morais Sarmento estava indicado que
metesse a viola no saco…
Por sua vez, aos jornalistas caberia aproveitarem a
oportunidade e confrontá-lo com a imprevidência que estava assumindo
ingloriamente. Com um alcance: de servir de lição a todos os políticos que, leviana
e impunemente, se contradizem com a maior desfaçatez e intolerável arrogância.
Uma nota final: A POLÍTICA (com letra maiúscula)
não se compatibiliza com os indecorosos expedientes em que é fértil o circo
político lisbonense.
Exige-se coerência e seriedade!
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