Leitor,
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Leia!
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SE ACREDITA QUE A INTELIGÊNCIA

SE FIXOU TODINHA EM LISBOA

NAO ENTRE NESTE ESPAÇO...

Motivo: A "QUINTA LUSITANA "

ESTÁ SITUADA NA PROVÍNCIA...

QUEM TE AVISA, TEU AMIGO É...

e cordialmente se subscreve,
Brasilino Godinho

quarta-feira, junho 24, 2020


Há um ano publicado

BRASILINO GODINHO
246. Apontamento
24/Junho/2019

TRÊS CASOS DA PRÁTICA
DO ABSURDO E DO IRRACIONAL

Na sociedade portuguesa acontece que muitas pessoas habituaram-se a falar sem se aperceberem da vacuidade, do absurdo e da irracionalidade, das expressões que usam na sua linguagem. É uma realidade que chega a ser confrangedora. E casos há de comunicação oral e transmissão escrita que se tornam insuportáveis de ouvir ou de ler, devido à persistente insistência dos mesmos – apesar das advertências correctoras que, por vezes, são efectuadas publicamente por gente disposta a prestar esse serviço cívico.  
A conversar e a ler nos entendemos ou discordamos. Será pois de interesse mui abrangente no seio da comunidade, que se pratique uma linguagem correcta e racional na sua formulação coloquial, na exposição discursiva e na elaboração literária.    
Aqui e agora, trato de três casos do mau uso de fraseado que é de interpretação sem rigor e sem objectividade.

Primeiro caso: “Descanse em paz”.
É uma expressão de pesar muito usada quando a pessoa comenta uma notícia de um falecimento.
Sempre que ouço ou leio tal disparate apetece-me dizer: descansa, uma ova!
O descanso é coisa dos seres vivos. Aos mortos só lhes está destinado o indevidamente chamado “descanso eterno” - a morte; com todas as implicações de inanidade e de ausência de manifestações de vida que esse estado comporta no defunto. E que por isso, também é uma designação inadequada; a qual, existindo no léxico, não tem vera conexão semântica ou real sentido.
Considerada a expressão no plano religioso ela per se releva de uma insanável contradição. Se é desejado ao morto um descanso em paz subentende-se que ele se situará no reino celestial onde, certamente, não haverá guerra e conflitos de qualquer natureza e onde nem existirão questiúnculas e aversões entre quantos seres existentes nos domínios do Senhor Deus, Divino Criador. E se no Céu prevalece a paz celestial não tem qualquer cabimento desejar-se ao falecido o descanso em paz. É um pouco como “chover no molhado” como diriam os brasileiros…
Pois, como anotamos, a contradição, se até enquadrada no âmbito religioso, é por de mais evidente e repugnante a quem preza o rigor e a seriedade em que se contempla a racionalidade exigível num discurso sensato e objectivo.

Segundo caso: “Até amanhã se Deus quiser”
Esta expressão é frequentemente dita por mutas pessoas em momentos de despedida de um encontro.
Desde logo, é desperta a questão: E se Deus não quiser?
Por outro lado, o indivíduo religioso que deseja um “Até amanhã se Deus quiser” expressa uma dúvida factual e uma redundância incoerente com a sua fé religiosa. Então ele não acredita que a Deus cabe o dom supremo de tudo decidir quaisquer que sejam as situações dos humanos.
Devia saber que é dado adquirido que o amanhã será exclusiva decisão do Ser Supremo. Porquê o “se Deus quiser”? Ou julga que consegue pressionar ou obrigar Deus a cumprir o que parecerá ser um seu ridículo, patético e impositivo desejo?
Bem analisado este caso é sob o ponto de vista religioso um aberrante desacerto linguístico e algo ofensivo quanto ao sentimento religioso da fé e veneração de Deus.
Ainda há que apontar outro aspecto. Este concernente aos cidadãos laicos. Para eles a equívoca fórmula religiosa de despedida, aqui colocada em foco, é-lhes indiferente e, decerto, que nem terá aplicação na sua linguagem corrente.
Como curiosidade assinalo que, em Portugal, temos uma respeitável senhora locutora de Televisão que todos os dias, no seu programa, termina a emissão dizendo “Até amanhã se Deus quiser”. Costumo identificá-la como a “Senhora do amanhã se Deus quiser”. Já tive o cuidado de, numa crónica, lhe recomendar que esteja em permanentes boas graças de Deus, não vá ele um dia aborrecer-se com ela por lhe fazer tantas e repetidas, absurdas recomendações.

Terceiro caso: “À última da hora”.
Esta expressão é repetida até à exaustão. Pela malta e por altas personalidades da nossa Partidocracia.
Faço votos que haja apóstolos do Templo da Sabedoria em Linguística Nacional que ensinem os pecadores do linguajar português de que devem dizer e escrever: À ÚLTIMA HORA.
Fim