443. Apontamento
Brasilino Godinho
24/Junho/2020
A SUBTILEZA, SENTIDO, MALVADEZ
SUBENTENDIDOS NA PALAVRA MAS
PRONUNCIADA POR UM AUTARCA…
Ontem vi e ouvi um presidente de câmara municipal, em
telejornal, informar que na sua terra havia alguns casos de infectados pelo
coronavírus – “mas todos idosos”
(sic). Na altura ter-se-á distraído e não disse a expressão que, provavelmente,
lhe estava inculcada na alma: felizmente
que só velhos.
No entanto, verdade se diga: nem precisava de pôr
mais na cartilha. A simples palavra mas,
dita naquele preciso contexto, relevando de repelente subtileza, agressivo sentido
e latente malvadez, para além de definir um perverso estado de alma do autarca,
de desprezo pelas vidas dos velhos, patenteou a imagem do que é a insana política
dos governantes: de persistente ofensa, de hostil trato e de constante abandono
das pessoas da terceira idade com grandes faltas de meios económicos de
sobrevivência.
Política não só de abandono como de deliberada
intenção de agravar as suas más condições de vida e assim lhes abreviar a ida
para os jardins das tabuletas – o que é importante factor de redução dos
encargos de uma Segurança Social que, no princípio do corrente ano, estava
prestes a abrir falência. Daí que o Governo e as Senhoras da Saúde tenham dado
o jeito, nos p.p. meses de Fevereiro e Março, de facilitar a entrada em força
da Covid-19 no território nacional e, tempos antes, disfarçado a intenção
dizendo que o vírus não entraria em Portugal.
Por isso, também se reconheça que a expressão
subentendida no paleio do autarca: mas
felizmente, corresponde a uma específica forma de encarar o morticínio dos
idosos; pelos quais, o “inteligente”(…) vírus
tem especial predilecção. Morticínio que se vem acentuando em Portugal, desde
Fevereiro do corrente ano.
Pelo visto e há que entender-se inequivocamente, o
coronavírus tem sido um providencial e muito eficaz instrumento vital (além de
ser viral…) para se acabar com a “peste grisalha” e assim se cumprirem os propósitos
macabros do deputado da triste figura, do PSD, oriundo da Guarda, enunciados em
plenário da Assembleia da República.
Assim continuando o vírus a cumprir a tarefa
mortífera que até parece ter sido encomendada, é provável que o Chefe do
Governo se vá preparando para no fim do ano anunciar ao país, como prenda de
Natal que a Segurança Social teve um avantajado saldo positivo de milhões de
euros.
Então, alma piedosa e reverencial, o Presidente da
República botará comovente discurso laudatório dos muitos milhares de vítimas
mortais e proporá que seja erguido um monumento evocativo do português
holocausto; decerto, por conservar recordação do que foi o holocausto encoberto
da austeridade de lavra coelhal/paulina e as mortandades dos fogos de Pedrógão
Grande.
Também é de prever que o famigerado deputado da
triste figura, aproveitando a onda de euforia pelos lucros da Segurança Social,
puxe pelos galões da antiguidade da sua cruzada contra a “peste grisalha” e
sorrateiramente vá junto do Presidente da República sugerir-lhe que lhe faça a
mercê de o condecorar com a Grã Cruz da Ordem do Mérito.
Claro que o presidente não irá perder a
oportunidade que lhe seja facultada para tirar mais umas selfies, mesmo em tão asquerosa
companhia e com a inevitável larga divulgação televisiva.
Finalmente, não poderia ser esquecida a figura
principal de tão patética e horrenda narrativa nacional: o famigerado coronavírus.
Outrossim, afigura-se-me como mais provável que o
presidente da Assembleia Nacional, agora rotulada de Assembleia da República
(para encobrir e mascarar os neofascistas nela instalados), tome a iniciativa
de convocar uma sessão extraordinária de homenagem e exaltação gloriosa do coronavírus,
E que, no final da solene celebração, dê informe de que será feita emissão de
selo postal e cunhada medalha com a efígie do mesmo.
Pois assim admitindo e segundo se depreende de tudo
que tem sido visto, entendido e comprovado, no Portugal de hoje. Traduzindo por
miúdos e de modo nenhum excluindo as lindas miúdas: os amigos, querem-se para
serem bem fraternos nas ocasiões apropriadas… em termos, usos e costumes da
PARTIDOCRACIA que temos por sorte malvada, muito merecedora de repúdio total.
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