A MINHA CELEBRAÇÃO DE NATAL:
IR AO ENCONTRO
DE EU MESMO
Brasilino
Godinho
05/Janeiro/2020
TOMO VIII
COM EMOÇÃO E
DELEITE
PERCORRENDO OS
ESCANINHOS
DA ADOLESCÊNCIA
E IDADE ADULTA
Concluído o curso secundário no ano lectivo de
1947/1948, fiquei como que “a ver navios” imaginários navegando nas águas do
Rio Nabão, sem saber como dar contas à vida; pois que apenas dispondo de um
canudo que não me dava a possibilidade de emprego consentâneo com a minha
vocação para as letras.
Só me deparei com uma hipótese profissional
alternativa, que nem me era cara por corresponder a prática manual: desenhador
de construção civil. Com a obrigação de superar a natural relutância pela
execução de trabalhos manuais.
Comecei por trabalhar na residência de um engenheiro
técnico durante alguns meses ocupados na elaboração de projeto de um caminho
municipal, do concelho de Vila de Rei. Concluído o projecto rodoviário voltei
ao estado de observador dos tais navios deslizando no Rio Nabão…
Como facilmente se compreenderá era uma insustentável
situação.
Até que tive a brilhante ideia de requerer um estágio
profissional, não remunerado, na Secção de Engenharia, da Câmara Municipal de
Tomar. O requerimento foi deferido e iniciei uma actividade que durou dois anos
e meio, cumprindo escrupulosamente o horário oficial do serviço público. Sem
dúvida, foi o melhor investimento da minha vida. Não obstante ter sido um
estágio sem auferir qualquer remuneração. Nele, sobremaneira, enriqueci em
diversificados termos: profissionais, de contactos sociais e de mui valiosa
apreensão de conhecimentos sobre a administração autárquica.
Seguiu-se uma
tarefa de quatro meses na Delegação de Castelo de Bode, da Comissão de
Fiscalização dos Grandes Aproveitamentos Hidroeléctricos, em pleno decurso da
construção da Barragem de Castelo de Bode.
Entretanto, ingresso em 1952, como desenhador no gabinete
técnico da firma luso/suíça, construtora da Barragem do Cabril.
Em dada altura, participo no concurso aberto para preenchimento
de lugares de desenhadores de 3.ª
classe, do quadro da Direcção-Geral dos Serviços de Urbanização,
Ministério das Obras Públicas.
Os concorrentes eram em número superior a 50. Provas
prestadas no Instituto Superior Técnico em Lisboa. Jovem e modesto candidato
provinciano, Brasilino avaliava-se pigmeu junto de gigantes; bastantes deles,
ostentando aparatosos estojos e esquadros T de último modelo e… vangloriando-se
das façanhas profissionais e das colaborações que mantinham com famosos arquitectos
lisboetas.
Realizadas as provas e passados poucos meses foram
publicadas as classificações: Brasilino da Costa Godinho classificado em sexto
lugar. Decorrido algum tempo, recebe convocação para desempenhar a função de
desenhador de 3.ª classe na Direcção de Urbanização dos Açores, sediada na
cidade de Ponta Delgada, Ilha de S. Miguel.
Aceitei por me querer instalar em sede de distrito,
onde mais facilitado se tornava o prosseguimento de estudos rumo à universidade;
embora com diminuição de vencimento mensal relativamente ao que recebia ao
serviço da construtora da Barragem do Cabril.
O tempo de serviço
prestado na Barragem do Cabril foi muito profícuo no aprofundamento dos
conhecimentos e prática de Topografia que já adquirira nos anos anteriores.
Decisivo nesse aprofundamento foi o contacto e ensinamentos obtidos da parte de
um muito qualificado topógrafo que era, de facto, um dos melhores engenheiros
que conheci na minha longa existência: Rui Gonçalves Lisboa, prestigiado autor
dos complicados cálculos matemáticos de implantação da barragem em formato de
abóboda, do Cabril e julgo que também da Barragem de Castelo de Bode.
Um cidadão a que só
faltavam duas cadeiras para obter o grau universitário de Engenheiro Civil,
concedido pelo IST, de Lisboa e que, por circunstâncias várias, tivera que
interromper os estudos. Entre elas avultava uma greve ocorrida no Instituto
Superior Técnico.
Rui Gonçalves Lisboa
era, também, poliglota; aos sete anos já lia literatura infantil escrita em
inglês.
Fui testemunha de
ele ser, com frequência, abordado no seu gabinete (no qual, trabalhavam mais três pessoas, incluindo o
Brasilino), por qualificados engenheiros suíços que lhe solicitavam pareceres
sobre questões técnicas, a que ele respondia com clareza e à-vontade;
invariavelmente precedendo a expressão: “como o senhor engenheiro sabe (…) e
seguia-se a verbalização da pretendida resposta.
Retomando “o fio à
meada”: quando entrei ao serviço da firma empreiteira da Barragem do Cabril
assentei arraiais em Pedrógão Grande tornando-me hóspede da “Pensão Cara Fina”
que bem tratou o seu alojado. Quando no dia 1 de Maio de 1954 me despedi da
dona da pensão para seguir rumo aos Açores e na sequência do diálogo disse-lhe
em tom convicto: ainda um dia vai ouvir falar de mim! A afirmação saiu-me
espontânea. Ignoro se ela se concretizou da parte da senhora. Porém, da minha
parte, foi ousada e reveladora da determinação com que prosseguia meu
itinerário de existência; que, afinal, alcançou metas e correspondentes êxitos
profissionais e académicos que, na altura, nem existiam especificamente
delineados.
No dia 7 de Maio de
1954, no Cais de Alcântara, Lisboa, embarcava no velho paquete Lima, da
carreira marítima da Madeira e Açores, com destino à cidade de Ponta Delgada,
ilha de S. Miguel, Açores.
Mal sabia Brasilino
Godinho que na bonita urbe micaelense ia encontrar a muito querida, idolatrada e
bela mulher da sua vida: Luísa Maria Albernaz Tapia.
(Continua no TOMO IX)
A bela jovem Luísa Tapia que aqui parece estar aguardando a chegada do Brasilino Godinho...Só há dias encontrei esta foto. Lamentavelmente não há hipótese de confirmar a ideia que expresso nesta peça.
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