A MINHA
CELEBRAÇÃO DE NATAL:
IR AO ENCONTRO
DE EU MESMO
Brasilino Godinho
04/Janeiro/2020
TOMO VII
COM EMOÇÃO E
DELEITE
PERCORRENDO OS
ESCANINHOS DA ADOLESCÊNCIA
Se bem interpreto as transformações que então se operaram no
meu corpo e espírito direi que a fase da adolescência - de transição entre a
infância e a idade adulta - ocorreu entre os doze e os dezoito anos de vida.
Precisamente abrangendo o período de frequência do Curso Industrial de
Serralharia Mecânica; que, diga-se de passagem, facultava aos alunos uma bem
estruturada formação escolar. Mas para o aluno Brasilino Godinho o curso que
seguiu por imposição de dificuldades económico/financeiras dos seus
progenitores, quase constituía um fardo insuportável, visto que o detestava por
não corresponder à sua vocação, toda inclinada para as humanidades. Daí
resultou que tivesse concluído o curso com a medíocre classificação final de 13
valores, derivada dos continuados 10 valores de classificação da disciplina de
trabalhos oficinais, nos cinco anos do curso.
Todavia e em contraposição revestida de algum aspecto de
rebeldia, logo no primeiro ano lectivo me empenhei no exercício da leitura de
boas obras literárias, enciclopédias, jornais e revistas com que ia
acompanhando a evolução das políticas nacional e internacional e no estudo da
filosofia.
Actividade intelectual que compatibilizava com os tempos de
estudo das disciplinas de Português, Matemática, História, Geografia, Física,
Química, Mecânica, Tecnologia. Como nota curiosa anoto que na Escola Industrial
e Comercial Jácome Ratton não havia laboratório, nem instrumentos e aparelhos
usados nas actividades laboratoriais. No entanto, os alunos adquiriam
conhecimento das matérias e das experiências que constavam descritas nos
compêndios. Sem problemas de apreensão e de sedimentação.
Outro aspecto a realçar concerne à eficácia do ensino
ministrado pelo professor eng.º Freixo, da disciplina de Mecânica que nos
domínios da Cinemática e da Resistência de Materiais pôs-nos, seus alunos, a resolver
com facilidade problemas constantes num volume argentino intitulado “MECÁNICO
PARA INGENIEROS” – o que realça o elevado aproveitamento recolhido no âmbito de
um curso secundário, daquela época, E deu azo que bastantes nossos colegas
tivessem brilhantes carreiras de oficiais das forças armadas, nas áreas das
engenharia civil e engenharia mecânica e na administração pública.
Daquele período escolar há que referir a detestável obrigação
de nas tardes dos sábados sermos obrigados, na condição obrigatória de membros
da Mocidade Portuguesa, a exercitar no antigo campo de futebol, instrução
paramilitar e a praticar ginástica sem equipamento desportivo, com a vestimenta
que nos agasalhava no inverno ou com aquela fatiota e sapatos com que nos
apresentávamos no campo.
Acontecia que o Brasilino estava possuído de espírito adverso
àquelas disparatadas veleidades de porem os jovens a fazer manobras de “apresentar
armas” e de ensaiar hipotéticos desfiles militares. Só nos faltavam as espingardas.
E nessas alturas lembrava-me com raiva incontida da já minha conhecida frase do
eminente Doutor Serras e Silva, da Faculdade de Medicina, da Universidade de
Coimbra: “FORMAR HOMENS IMPORTA MUITO MAIS DO QUE DIVERTIR O PÚBLICO COM
MARCHAS EMPERTIGADAS EM QUE SE AFECTA UM VIGOR QUE NÃO EXISTE E UMA MENTALIDADE
QUE É APENAS EXTERIOR E COREOGRÁFICA”.
Por ser essa a indisposição do estudante Brasilino é que
tendo sido escolhido para tirar o curso de Chefe de Quina (designava-o por
chefe de esquina), em dada altura fui abatido ao efectivo do curso por pequena
atitude considerada de indisciplina.
De ânimo diferente encarei o ingresso como elemento fundador
do Grupo n.º 49, do Corpo Nacional de Escutas, de Tomar, a 1 de Julho de 1945.
Com satisfação participei nas actividades escutistas. E fui
fundador do jornal de parede “ALERTA” que teve poucas edições. Fiz parte da
patrulha Leopardo e nela fui sub-guia e guia.
Adoptei o tótem de Leopardo Activo. E enquanto filiado, era cronista das
actividades do grupo. As crónicas eram remetidas para a secção escutista do
diário lisboeta “NOVIDADES”.
Devo apontar que havia uma obrigação que detestava (é termo
forte, mas sentimento tido com tal intensidade) cumprir: incorporar-me em
procissões.
O que terá estado na origem de qualquer desobediência punida
com repreensão em ordem de serviço interna.
Um facto marcante em fim de curso, com seu quê de
premonitório, foi a pessoal fotografia com capa académica, tirada por muita
insistência de dois colegas, junto da Charolinha da Mata Nacional dos Sete Montes.
Escrevo facto premonitório porque, naquele momento da foto, me prometera que um
dia ainda envergaria de direito o traje académico. Demorei 61 anos a cumprir a
promessa que fizera no meu altar ego. Mas cumpri! Com indizível júbilo!
(Continua no TOMO VIII)
Brasilino junto à Charolinha Brasilino adolescente
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