Leitor,
Pare!
Leia!
Pondere!
Decida-se!

SE ACREDITA QUE A INTELIGÊNCIA

SE FIXOU TODINHA EM LISBOA

NAO ENTRE NESTE ESPAÇO...

Motivo: A "QUINTA LUSITANA "

ESTÁ SITUADA NA PROVÍNCIA...

QUEM TE AVISA, TEU AMIGO É...

e cordialmente se subscreve,
Brasilino Godinho

domingo, janeiro 05, 2020


A MINHA CELEBRAÇÃO DE NATAL:
IR AO ENCONTRO DE EU MESMO

Brasilino Godinho
04/Janeiro/2020
TOMO VII
COM EMOÇÃO E DELEITE
PERCORRENDO OS ESCANINHOS DA ADOLESCÊNCIA


Se bem interpreto as transformações que então se operaram no meu corpo e espírito direi que a fase da adolescência - de transição entre a infância e a idade adulta - ocorreu entre os doze e os dezoito anos de vida. Precisamente abrangendo o período de frequência do Curso Industrial de Serralharia Mecânica; que, diga-se de passagem, facultava aos alunos uma bem estruturada formação escolar. Mas para o aluno Brasilino Godinho o curso que seguiu por imposição de dificuldades económico/financeiras dos seus progenitores, quase constituía um fardo insuportável, visto que o detestava por não corresponder à sua vocação, toda inclinada para as humanidades. Daí resultou que tivesse concluído o curso com a medíocre classificação final de 13 valores, derivada dos continuados 10 valores de classificação da disciplina de trabalhos oficinais, nos cinco anos do curso.
Todavia e em contraposição revestida de algum aspecto de rebeldia, logo no primeiro ano lectivo me empenhei no exercício da leitura de boas obras literárias, enciclopédias, jornais e revistas com que ia acompanhando a evolução das políticas nacional e internacional e no estudo da filosofia.
Actividade intelectual que compatibilizava com os tempos de estudo das disciplinas de Português, Matemática, História, Geografia, Física, Química, Mecânica, Tecnologia. Como nota curiosa anoto que na Escola Industrial e Comercial Jácome Ratton não havia laboratório, nem instrumentos e aparelhos usados nas actividades laboratoriais. No entanto, os alunos adquiriam conhecimento das matérias e das experiências que constavam descritas nos compêndios. Sem problemas de apreensão e de sedimentação.
Outro aspecto a realçar concerne à eficácia do ensino ministrado pelo professor eng.º Freixo, da disciplina de Mecânica que nos domínios da Cinemática e da Resistência de Materiais pôs-nos, seus alunos, a resolver com facilidade problemas constantes num volume argentino intitulado “MECÁNICO PARA INGENIEROS” – o que realça o elevado aproveitamento recolhido no âmbito de um curso secundário, daquela época, E deu azo que bastantes nossos colegas tivessem brilhantes carreiras de oficiais das forças armadas, nas áreas das engenharia civil e engenharia mecânica e na administração pública.
Daquele período escolar há que referir a detestável obrigação de nas tardes dos sábados sermos obrigados, na condição obrigatória de membros da Mocidade Portuguesa, a exercitar no antigo campo de futebol, instrução paramilitar e a praticar ginástica sem equipamento desportivo, com a vestimenta que nos agasalhava no inverno ou com aquela fatiota e sapatos com que nos apresentávamos no campo.
Acontecia que o Brasilino estava possuído de espírito adverso àquelas disparatadas veleidades de porem os jovens a fazer manobras de “apresentar armas” e de ensaiar hipotéticos desfiles militares. Só nos faltavam as espingardas. E nessas alturas lembrava-me com raiva incontida da já minha conhecida frase do eminente Doutor Serras e Silva, da Faculdade de Medicina, da Universidade de Coimbra: “FORMAR HOMENS IMPORTA MUITO MAIS DO QUE DIVERTIR O PÚBLICO COM MARCHAS EMPERTIGADAS EM QUE SE AFECTA UM VIGOR QUE NÃO EXISTE E UMA MENTALIDADE QUE É APENAS EXTERIOR E COREOGRÁFICA”.
Por ser essa a indisposição do estudante Brasilino é que tendo sido escolhido para tirar o curso de Chefe de Quina (designava-o por chefe de esquina), em dada altura fui abatido ao efectivo do curso por pequena atitude considerada de indisciplina.
De ânimo diferente encarei o ingresso como elemento fundador do Grupo n.º 49, do Corpo Nacional de Escutas, de Tomar, a 1 de Julho de 1945.
Com satisfação participei nas actividades escutistas. E fui fundador do jornal de parede “ALERTA” que teve poucas edições. Fiz parte da patrulha Leopardo e nela fui sub-guia e guia.  Adoptei o tótem de Leopardo Activo. E enquanto filiado, era cronista das actividades do grupo. As crónicas eram remetidas para a secção escutista do diário lisboeta “NOVIDADES”.
Devo apontar que havia uma obrigação que detestava (é termo forte, mas sentimento tido com tal intensidade) cumprir: incorporar-me em procissões.
O que terá estado na origem de qualquer desobediência punida com repreensão em ordem de serviço interna.
Um facto marcante em fim de curso, com seu quê de premonitório, foi a pessoal fotografia com capa académica, tirada por muita insistência de dois colegas, junto da Charolinha da Mata Nacional dos Sete Montes. Escrevo facto premonitório porque, naquele momento da foto, me prometera que um dia ainda envergaria de direito o traje académico. Demorei 61 anos a cumprir a promessa que fizera no meu altar ego. Mas cumpri! Com indizível júbilo!
(Continua no TOMO VIII)


                            Brasilino junto à Charolinha                                       Brasilino adolescente