A MINHA CELEBRAÇÃO DE NATAL:
IR AO ENCONTRO DE EU MESMO
Brasilino Godinho
30/Dezembro/2019
TOMO IV
COM EMOÇÃO E
DELEITE
PERCORRENDO OS
ESCANINHOS DA INFÂNCIA
Continuando a rever-me na infância.
Aos quatro anos de idade, fixo-me na terrífica
ocorrência do maior susto da minha vida.
Meu lar estava instalado no 1.º andar de um edifício,
cerca da Sinagoga, na Rua Joaquim Jacinto, antiga Rua da Judiaria, que chegou a
designar-se por Rua Nova, na cidade de Tomar.
A minha companheira de brincadeiras era a Maria Helena
minha vizinha do 2.º andar.
Naquela tarde e em inesperada altura de tal acontecer,
estávamos encostados à porta de entrada da minha habitação entretidos numa
disputa em que me opunha firmemente à saída da Maria Helena. De-repente,
sente-se um violentíssimo bater na porta e um urro enorme sincronizado com os
nossos gritos de terror e choros convulsivos. Coisa medonha! Inimaginável! Não
mais esquecida.
Explicação do facto: o carteiro Boticas, homem de uns
cinquenta anos, tinha a presunção de ser divertido. Havendo subido as escadas
para entregar correspondência registada no 2.º andar, ouviu a altercação das
duas crianças e resolveu pregar-lhes um susto. Conseguiu o intento e de que
maneira horrível,
Porém, foi severamente admoestado pelo pai da Maria
Helena e prevenido de que se repetisse a malvadeza seria feita participação nos
CTT e no posto da polícia. A coisa
tornou-se conhecida na vizinhança e o carteiro Boticas, naquela rua, perdeu
alguma consideração das pessoas.
Claro que o menino Brasilino continuando percurso ao compasso
de tempo de vida, atinge os sete anos e encanta-se com os primeiros anos da
escolaridade, aprendizagem da leitura e o período do ano 1939, de frequência da
segunda classe do Enino Primário; coincidindo com o fim da guerra civil de
Espanha e o início da Segunda Grande Guerra Mundial concretizado com a invasão
da Checoslováquia, pelas tropas nazis de Adolf Hitler e imediata declaração de
guerra da Grã-Bretanha e França, decorrente da violação pelo ditador alemão do
Tratado de Munique, antes celebrado por Adolf Hitler, Benito Mussolini, Neville
Chamberlain e Edouard Daladier, em representação respectivamente da Alemanha,
Itália, Reino Unido e França.
E numa tarde, (estávamos no princípio de 1939) o
Brasilino teve satisfação em aceder à solicitação da esbelta e simpática,
atraente e meiga, Arminda, empregada doméstica da família do 2.º andar (aqui já
citado), de lhe ler algumas passagens da primeira página do Diário de Notícias.
Recordo vivamente a cena, na cozinha, jornal estendido
sobre a mesa, e na página sobressaindo uma foto do general Francisco Franco
envergando fardamento de campanha e bivaque enfiado na cabeça, rodeado de
militares. Criança frequentando a segunda classe de instrução primária, naquele
momento, apreendi a real importância de saber ler e escrever.
Como nota curiosa e marginal no contexto da presente
narrativa, refiro que um ano transcorrido sobre aquela data, a simpática
Arminda passara da condição de serviçal Arminda para o elevado estatuto de D.
Arminda; por, entretanto, ter casado com um rico comerciante que poderia ser
seu idoso pai.
A partir de 1939 o Brasilino arranca resoluto com as
leituras dos jornais diários, revistas e livros, e prestando cuidada atenção ao
que se passava em Portugal e no mundo.
Tão laboriosa actividade intelectual constituiu o
suporte de uma bagagem que o habilitava a ter invulgares discussões com os
adultos. Por exemplo: discutir ou comentar a evolução da guerra nas várias
frentes de combates, a fuga do almirante Darlan para Marrocos, a fuga
extraordinária do general Giraud do campo de prisioneiros das forças do III
Reich, a criação do regime de Vichy chefiado pelo Marechal Henri Philipp Pétain
e Pierre Laval, a campanha sob a direcção do General Mac Arthur, na guerra
contra o Japão, travada na vasta área do Pacífico, a evolução política no
Brasil, rica de episódios vários e desconcertantes – e muitos mais
acontecimentos que seria muitíssimo fastidioso enumerar nesta despretensiosa
narrativa.
Tudo isto lembrado e sucintamente descrito para assinalar que, enquanto
os seus colegas só pensavam em brincar, o menino Brasilino em 1939, aos 8 anos
de idade, sem pôr de lado as brincadeiras, logo começou a abrir os alicerces e
a implantar as fundações da grande construção que o guindou ao pináculo da
estrutura a que - em 05 de Julho de 2017 - as Universidades de Aveiro e do Minho
atribuíram o alto grau de Doutoramento; que, forçosamente, tinha de ser em
ESTUDOS CULTURAIS - e assim sucedeu!
(Continua no TOMO V)
O menino Brasilino
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