Leitor,
Pare!
Leia!
Pondere!
Decida-se!

SE ACREDITA QUE A INTELIGÊNCIA

SE FIXOU TODINHA EM LISBOA

NAO ENTRE NESTE ESPAÇO...

Motivo: A "QUINTA LUSITANA "

ESTÁ SITUADA NA PROVÍNCIA...

QUEM TE AVISA, TEU AMIGO É...

e cordialmente se subscreve,
Brasilino Godinho

quarta-feira, dezembro 25, 2019


A MINHA CELEBRAÇÃO DE NATAL
IR AO ENCONTRO DE MIM PRÓPRIO

Brasilino Godinho
25/Dezembro/2019

TOMO I

01.  O dia de Natal tende a ser um dia de sossego, de pausa na profissão, de harmonia no relacionamento social e, sobretudo, dedicado ao convívio da família.

Sem menosprezar essa caracterização natalícia, hoje 25 de Dezembro de 2019, dia de Natal, fiz uma coisa interessante e inédita na sequência dos muitos Natais que foram perpassando ao longo da minha existência octogenária.

Com a melhor das disposições e mui predisposta atenção para fixar-me nos pormenores dos cenários envolventes, das circunstâncias e dos episódios vários e marcantes, lancei-me na invulgar tarefa de fazer uma incursão, ainda que ligeira, pelo meu longo percurso de vida. Por ela me direccionei até à infância; após que me reencaminhei, em marcha de retorno, através da adolescência, passando pela juventude e reentrando na idade adulta até atingir a situação e o relacionamento facultados pelo habitat actual. 

02. Agora, no preciso instante em que, de regresso, me encontro entre as quatro paredes do meu escritório, transmito aos leitores a agradável impressão recolhida do que foi fascinante reencontro comigo próprio. 

De novo situado em tempo de infância, fiquei deslumbrado revivendo as partidas dos jogos de berlindes que me credenciavam como campeão da modalidade praticada na zona antiga da cidade nabantina. Enquanto que, diferentemente, nos jogos do pião e da bilharda era um medíocre praticante. Também no futebol - de que muito gostava praticar – era uma nulidade. Tive ocasião de rememorar algumas partidas: de berlindes, piões e bilhardas.

Voltei a reviver a dramática e peremptória recusa de, acompanhado da minha mãe e vestido de anjo, ser incorporado numa procissão. Estava encostado à parede da fachada principal da igreja de S. João Baptista, de onde sairia o cortejo religioso; indiferente aos basbaques passantes que paravam, surpreendidos com a firme atitude do menino Brasilino – de que há registo fotográfico (minha primeira foto).

A segunda foto foi tirada aos cinco anos de idade, no estabelecimento do grande e prestigiado fotógrafo, Sr. Rebelo, que existia no 1.º andar de um edifício sito na Rua Silva Magalhães, cerca da Praça da República. Na altura fiquei encantado com a fotografia e ainda hoje gosto de me rever nela.

Chateado muito, como é suposto sentir-se um peru em véspera da noite de Natal, voltei a ver-me desfilando fardado da Mocidade Portuguesa, no dia 1.º de Dezembro, em comemoração da Restauração de Portugal no ano de 1640. Aborrecimento por envergar a farda. Desde então remonta a minha aversão pelos fardamentos.

Também me revi com o colega Sá, nas aulas dos quatro anos do Ensino Primário, a rever as provas, efectuadas pelos colegas, dos textos ditados pelo Prof. Faustino Jacinto Costa. O mestre fazia a revisão dos ditados do Brasilino e do Sá, geralmente, falhos de erros, e depois eram os três: professor e os dois alunos, que reviam as provas dos outros alunos.

Outrossim, repeti o hábito dos trabalhos de casa: sobretudo as cópias de textos dos livros de leitura, redacções e resolução de problemas de aritmética - trabalhos que se efectuavam logo que chegávamos a casa para ficarmos com a tarde livre para brincar. 

Louvado seja o Altíssimo (pressupondo a sua existência e a hipotética atenção que se disponha a prestar ao teor da presente crónica), nunca me senti traumatizado e revoltado pela obrigação de fazer trabalhos de casa… Sempre os considerei importantes e úteis no enriquecimento da aprendizagem. Também nunca os meus colegas barafustaram contra essa prática escolar.

Por acaso –se tem cabimento o termo acaso – nesse tempo de Instrução Primária, esta evidenciava-se tão primorosamente básica e eficiente que todos nós, estudantes aplicados, nos apresentávamos a exame oficial da 4.ª classe, imagine-se! escrevendo sem erros – eles eram raridade. Compare-se com a situação actual em que os erros ortográficos e a compreensão e interpretação dos textos é uma calamidade nos três graus de ensino. 

O que não me surpreende por que repito, o que venho escrevendo com frequência: está prosseguindo um rumo de destruição da Língua Portuguesa, iniciado com o repugnante, execrável, Acordo Ortográfico de 1990.

E já que estou com “a mão na massa”, reitero: todos os meus textos são escritos com activo e inequívoco repúdio da aberração linguística que é o Acordo de 1990.
(Continua no TOMO II)

Legenda das fotos: 
- Menino Brasilino vestido de anjo
-Menino Brasilino aos 5 anos de idade