BRASILINO
GODINHO
88.º
ANIVERSÁRIO NATALÍCIO
ESTE ANO POR SER DE BONITA CAPICUA
COMEMORO
MEU ANIVERSÁRIO
Com a publicação do 284. APONTAMENTO iniciei
o ciclo das comemorações
286 APONTAMENTO
Brasilino Godinho
14/Outubro/2019
RETALHOS DA MINHA VIDA DE ALUNO
DOS ENSINOS PRIMÁRIO E SECUNDÁRIO
(Continuação
do 285. Apontamento)
02. NO ENSINO SECUNDÁRIO
Em Tomar, naqueles
anos quarenta, de vacas magras e vitelos esfomeados, tínhamos fartura de muitas
carências e bastantes insuficiências.
Presidia à Câmara
Municipal o advogado Dr. Fernando Corte-Real que passava os dias no seu
gabinete da Domus Municipalis, como se tivesse metido na sua torre de marfim e cumprindo
horário, como se também fosse simples “manga-de-alpaca”.
Em Junho de 1945 é
nomeado Presidente do Município o coronel do Exército, Fernando de Magalhães
Abreu Marques e Oliveira, que veio a ser o grande impulsionador do
desenvolvimento de Tomar e que, ao contrário do seu antecessor, muito percorria
a cidade, inteirando-se in loco do
andamento das obras e dos problemas que afectavam a regularidade da vida
citadina e, mesmo dos cidadãos.
Reportando-me a
carências e insuficiências e concentrando memória no sector escolar, nele não existiam
cantinas, nem equipamentos desportivos e laboratoriais.
Nas tardes de
sábados os alunos estavam obrigados a comparecer no campo de futebol, de terra
batida, para se dedicarem às actividades da Mocidade Portuguesa,
desinteressantes e chatas. Passavam-se duas horas a fazer exercícios paramilitares
e de ginástica, sob a orientação de um sargento do Exército. Relativamente aos
primeiros chegava-se ao fim do ano escolar e era um deslumbramento: os
instruendos executavam impecavelmente todas as evoluções que as tropas fazem em
parada ou em guarda-de-honra.
A rapaziada,
chateada, que nem macaco sem banana, desfilava garbosamente (como era exigência
oficial) nas marchas comemorativas do 1º de Dezembro de 1640, data da
Restauração da Independência Nacional.
A prática da
ginástica (que a malta classificava de ginástica sueca) tinha a interessante
particularidade de ser realizada com os “ginastas” a gozarem(…) da prerrogativa
de estarem dispensados de envergar camisola, calção e sapatilhas, que houvesse
propensão de ser traje apropriado. Bastava que estivessem vestidos e calçados
com sapatos ou botas. A exigência insólita(…) é que não estivessem nus.
Anoto que a malta
detestava toda aquela “parada” de opressiva paródia de vinculação militarista.
Com a excepção dos chefes de quina (a quem chamava chefes de esquina) e os
comandantes de lança (se bem me lembro da designação); os quais, se sentiam
ufanos das divisas colocadas na camisa do fardamento; em cujo cinto do calção
estava fixada a fivela com o S de Salazar).
Devo informar que, com poucas semanas de posse do posto de chefe de
quina, fui desgraduado em Ordem de Serviço, por uma qualquer atitude de
rebeldia, que me hei esquecido.
Mas, a propósito,
lembro que o distinto Professor Doutor Serras e Silva, da Universidade de
Coimbra, respeitado pedagogo, que começou por ser apoiante de Salazar e de quem
se foi afastando, era um acérrimo crítico da Mocidade Portuguesa.
Desde aquela minha
época escolar que retenho na memória uma frase muito expressiva do eminente
Professor Serras e Silva. Ele escreveu: “FORMAR HOMENS IMPORTA MUITO MAIS DO
QUE DIVERTIR O PÚBLICO COM MARCHAS EMPERTIGADAS EM QUE SE AFECTA UM VIGOR QUE
NÃO EXISTE E UMA MENTALIDADE QUE É APENAS EXTERIOR E COREOGRÁFICA”.
Devo assinalar que
se hoje não se fazem paradas juvenis, vão-se realizando outros eventos, como
arruadas e universidades de verão, em que as mentalidades dos envolvidos são folclóricas
e não têm substância, nem credibilidade.
Outrossim de
referir, que as meninas estavam livres da penitência daquelas malfadadas
actividades da Mocidade Portuguesa…
Elas, já naquela
Escola Jácome Ratton, partilhando frequência de algumas aulas com os rapazes,
tinham recreios separados no último andar do edifício, sito na Av. Cândido
Madureira.
Era já uma pequena
evolução relativamente ao ensino primário, no qual vigorava a plena separação
dos sexos: nas aulas e nos recreios.
Quanto ao
equipamento laboratorial ele não existia na Escola. Tive dois anos curriculares
de Física e Química. Nem uma simples proveta esteve ao alcance da minha vista.
O ensino destas matérias foi teórico. Mas de grande nível didáctico. A ponto de
se conhecerem ao pormenor as experiências descritas no compêndio.
No que concernia à
Mecânica (parte da Física), tivemo-la destacada em disciplina curricular, no último ano do curso
industrial.
Foi uma aprendizagem
empolgante, de gratas recordações. Toda a turma seguia as aulas com grande
satisfação. O professor, Eng.ª Freixo, soube, com mestria, cativar os seus
alunos. Tinha discurso fácil, objectivo, afável, era sabedor, lecionava com
proficiência e raro sentido de bem ministrar as lições e aprofundar estudos das
matérias.
Em dada altura,
entusiasmado com a atenção com que os discípulos o ouviam e apreendiam os
teores dos seus ensinamentos, esteve tentado a ensinar-nos a função integral
(ramo das matemáticas superiores) – o que não concretizou por recear ser sancionado
pelo director da escola.
Todavia, nos
ensinamentos da Cinemática e, sobretudo, da Resistência dos Materiais,
leccionou extensamente e em profundidade.
Dou informação de
que, 50 anos depois da aprendizagem, o Brasilino Godinho ainda era capaz de
deduzir as fórmulas dos movimentos uniformemente acelerados sem ou com
velocidade inicial.
Sobre o estudo da
Resistência dos Materiais: com facilidade e segurança de acerto, calculávamos os
dimensionamentos de vigas de madeira ou de ferro, simplesmente apoiadas ou
colocadas em diversas posições.
Assinalo que no mês
de Junho, já concluído o ano lectivo, realizou-se o acto de despedida do Prof.
Freixo; ao qual compareceu toda a turma. Ocorreu num passeio pela Mata dos Sete
Montes, em Tomar. Quando chegados à Charolinha, fizemos pausa. Então o Prof. Freixo,
que tinha na mão um volumoso livro de capas cinzentas, com título impresso a
cor preta, MECÂNICA PARA ENGENHEIROS, edição em língua espanhola, abre o livro,
folheia-o e diz-nos: vejam aqui, os exercícios que vocês fizeram com
facilidade. Tratou-se de um momento muito agradável pata todos os
circunstantes. Ficámos orgulhosos e reconhecidos ao competente e estimado
professor.
Relembro o facto - já
divulgado - de que, por aquela altura, também junto à Charolinha, dois colegas
me “obrigaram” a tirar fotografia revestido com a capa de estudante
universitário (que está reproduzida nestes Apontamentos).
Outro caso que
reveste algum interesse mencionar, reporta a ter em Junho de 1945 sido membro
fundador do Grupo 49, do Corpo Nacional de Escutas. Mantive filiação até meados
de 1947. Gostei de ser escuteiro. E com bastante proveito na minha formação
moral e compenetração cívica. Mas detestava participar em procissões.
Nesse ano de 1947,
já com apreciável bagagem filosófica, se iniciara o meu afastamento das
práticas religiosas e da Igreja.
(Continua
no 287. Apontamento)
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