166.
APONTAMENTO DE
BRASILINO GODINHO
15 de Agosto de 2018
BRASILINO GODINHO
15 de Agosto de 2018
QUEBRANDO SILÊNCIO
SOBRE O PAÍS ARDENTE
01. Tenho mantido silêncio sobre a panorâmica incendida que brilha
no vasto horizonte de Portugal e que as televisões se comprazem em mostrar aos
portugueses, como se tratasse de um atractivo, luminoso, espectáculo folclórico
ou, alternando, como se transmitissem uma peça de teatro dramático, explorando
a angústia das vítimas até à exaustão da repórter e do público espectador;
forçado, mas contemporizador.
E assim procedendo por não
alinhar em tais celebrações, mas, também, para não me acusarem de estar
lançando mais achas para a fogueira e assim incrementar as ardências que eclodem
no perverso campo político que marginaliza o famoso pântano desvendado in illo tempore pelo não menos afamado
António Oliveira Guterres.
Porém, este verão atingiu-se o
cúmulo da inoperância e da intolerável condescendência para com situações
bastante dramáticas em Monchique, em linha de continuidade da tragédia de
Pedrógão Grande, ocorrida no ano passado.
Por tudo isso, sinto obrigação
cívica de abordar esta premente questão dos fogos florestais que parecem estar
encomendados à cadência da sucessão dos anos. Estando por apurar e exigir
responsabilidades a quem faz tais encomendas… e delas extrai chorudos proventos, com a mais incrível r obscena
impunidade.
02. O parque florestal do país todos os anos é atingido pelos
chamados fogos florestais.
Com imensas áreas de floresta e
de matagais ardidos nas épocas estivaisl, interrogo-me como ainda existem matas
em Portugal e como é possível que prevaleça a ameaça dos incêndios florestais
que já estão consagrados na esfera governamental como uma tradição
imutável.
Os fogos florestais, ao correr do
tempo, cada vez mais atingem maior amplitude e elevados danos materiais, a que
se junta o crescente aumento de perdas de vidas de pessoas e de animais.
03. As variações climatéricas, as desordenadas plantações de
espécies arbóreas, os matos que envolvem as plantas e as casas indevidamente
construídas em locais dispersos pela floresta, a impreparação dos abnegados
soldados da paz e dos respectivos comandantes (alguns deles encartados com
licenciaturas arrelvadas e socráticas) a escassez de meios e instrumentos de
combate nas áreas onde lavram intensamente as chamas, são factores de primária
justificação para a frequência de tragédias como foram os incêndios de Pedrógão
Grande e de Monchique.
04. Mas outras implicações graves estão associadas aos fogos nas florestas.
Tais como: as acções criminosas de
quantos provocam ignições; as intervenções pirotécnicas nos festejos populares;
e as queimadas de searas e silvados efectuadas clandestinamente. Também de ter
em atenção as causas naturais com origem no intenso calor.
05. Igualmente de notar que a água necessária para apagar fogos é
elemento preponderante a que recorrer num fogo, seja ele no meio rural ou no
meio urbano. Dá que pensar como se irá apagar um fogo em tempo de seca em que
ela não existe nos rios e nas lagoas. Nestas previsíveis situações que, ao
correr do tempo, se vão acentuar não serão só as chamas a prosseguir a
destruição do meio ambiente, mas também as elevadas temperaturas atmosféricas e
o fumo a envenenar e a matar os animais racionais e irracionais. É uma ameaça
que vai permanecer, sem fim previsível. Uma pergunta: o que teria acontecido em Monchique se não houvesse água para
apagar a corrente de fogo? Os detentores dos órgãos do Poder e os vulgares cidadãos,
nalguma ocasião, pensaram nesta hipótese horrível?
06. E por vir a talho de foice há que afirmar o seguinte: perca-se a veleidade de, perante tão
negro quadro de desleixo, hipocrisia, incompetência e destruição, procurar na
classe dos governantes da era democrática, pós 25 de Abril, quem seja virgem,
isento de responsabilidades pelas graves situações que se têm sucedido e assim considerado
por, notoriamente, se ter envolvido responsavelmente na resolução da complexa
problemática da floresta e dos respectivos fogos. Se alguma avaliação tiver que
ser feita ela nos indicará que tem havido a prevalência dos chamados maus da fita, repartidos por todos os
quadrantes políticos; os quais, se distinguiram pela omissão, pela negligência
e pela incompetência.
07. Permito-me formular algumas observações pertinentes quanto á
forma/padrão como actualmente se combatem os fogos florestais em Portugal.
Chega a ser caricato e estarrecedor
ver os bombeiros de mangueira em punho a direccionar a água para o cimo das
chamas, quando o jacto devia ser orientado para a base da matéria incendiada,
onde se concentra o maior potencial de fogo. Também impressionante é ver aviões
e helicópteros a lançar quantidades de água, não em jacto, mas em dispersão ao
longo do percurso aéreo, dando como resultado que ela não chega ao solo, porque
entretanto se evaporou ou foi absorvida, dada a concentração das chamas e as
elevadas temperaturas que atingem e que irradiam pelas áreas adjacentes.
E as consequências são
desastrosas: ineficácia do combate
enquanto o incêndio alastra, desperdício da preciosa água e custos elevados com
os aluguéis das aeronaves e os consumos do combustível nos percursos de ida e
volta entre as fontes de abastecimento de água e a largada expansiva sobre as
chamas. Tudo a correr por conta do contribuinte e com agravo de quantos
cidadãos carenciados, sem recursos para sobreviverem.
08. Uma grave anomalia quanto à extinção de incêndios nas florestas
é a de ter sido abandonada a utilitária prática dos antifogos. Consta que os
bombeiros actuais a desconhecem em absoluto. Muitos deles nem sequer conhecerão
que era usada nos meados do século XX. Claro que desconhecendo-a, não sabem como
aplicá-la. Dado concreto: não vai havendo notícia de ela ter sido exercida em
qualquer lugar de Portugal, neste século XXI. Aliás os jornais e televisões não
lhe dão acolhimento nas suas extensas reportagens, em que mais se preocupam em
explorar a angústia das pessoas aterrorizadas pela imensidão da tragédia que as
atingiu abruptamente.
09. Necessidade prioritária é fazer intensivamente a limpeza dos
matos, sobretudo em redor das casas – o que até nos centros urbanos das cidades
não se faz.
Como referência importante deixa-se
a informação de que, em alguns países, já se começam a usar eficazes
expedientes de dominar os fogos. Por exemplo: na Suécia. Este verão o exército sueco tomou a seu encargo
combater um incêndio florestal utilizando o processo que se usa na extinção dos
fogos nos poços de petróleo. Provocou explosão na mata que ardia. Teve êxito total.
Acção tão simples quanto isto: Ocorreu a explosão.
Simultaneamente gerou-se o vácuo.
E onde há vácuo não há fogo. Sem oxigénio não há combustão.
10. Permito-me
uma última observação:
Não é prática correcta de
combater qualquer fogo lançar jactos de água para a atmosfera, na vertical das
chamas. É desperdício do precioso líquido. Se era suposto ser a água a acabar
com o fogo é o fogo que acaba com a água. Desperdiça-se bastante água, pois que
muita mais é utilizada, atrasa-se a extinção do fogo e facilita-se a propagação
e incremento do mesmo - o que também se traduz em maior esforço de quem o
combate e mais custos operacionais e de mobilização de pessoal e equipamentos. A
que acresce o prolongamento do terror e sofrimento das populações ameaçadas.
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