157. APONTAMENTO DE
BRASILINO GODINHO
18 de Julho de 2018      

A LOCUTORA TELEVISIVA

DO “ATÉ AMANHÃ SE DEUS QUISER”

E SE DEUS NÃO QUISER?

ENTÃO, O TIRO SAI-LHE PELA CULATRA

Ela é simpática. Tem presença agradável. Considero-a boa profissional (pivot) de televisão. Estou escrevendo sobre a senhora jornalista do “até à manhã se Deus quiser”.

Por isso, tenho pena e lamento que ela seja a incorrigível locutora que todos os dias úteis da semana, ao fim da tarde, pelas 19 horas, quando estou jantando, se me dirige, quase intimando: “agarre o lado positivo da sua vida, para que tudo lhe parecer mais fácil.”

Ora acontece que me interrogo: que tem a criatura televisiva de se imiscuir na minha vida? Por que carga de água eu teria que escolher o lado positivo e não o negativo?

Para além de logo me obrigar a descobrir o que será o meu lado positivo e qual a posição dele? Estará no meu lado direito? Ou no lado esquerdo? Na frente dos meus olhos? Ou de costas voltadas para mim? Quem lhe disse que prefiro o lado positivo em detrimento do negativo? E se o que ela considera positivo for, para mim, o negativo e vice-versa?

Tendencialmente, numa perspectiva de enriquecimento mental, até prefiro lidar com o negativo para melhor aprimorar o carácter, fortalecer o ânimo, e mais habilitado me sentir para enfrentar as graves contingências da vida – dado que é vencendo as dificuldades que se aprimora a personalidade.

Por outro lado da questão: como pode ela pensar que a minha vida tem, necessariamente, de ser condicionada pela sombria perspectiva de tudo me parecer mais fácil? Esta mania das facilidades está subvertendo o tecido social da grei portuguesa e reflecte-se no abandalhamento e degradação da comunidade portuguesa.

E a senhora da tv, porventura agarrada aos lados positivo e negativo da sua actividade televisiva, com tais diárias observações (como se fossem recomendações eclesiásticas), está dando um profundo contributo negativo para o culto do fácil e adoração pelo superficial e para o agravamento desse terrível clima deletério do facilitismo, já instalado na nação portuguesa.

Quanto ao “até amanhã se Deus quiser”, trata-se de uma gratuita intervenção nas prerrogativas do Ser Celestial que é suposto ser da sua veneração. E venerando-o tem a obrigação de não desconsiderar o atributo do poder que lhe é intrínseco e de admitir que ele age sempre em conformidade com o seu querer de natureza divinal.

E por, decerto, assim considerar a senhora deveria acabar de vez com tal advertência saloia do “até amanhã se Deus quiser” pois está sempre a chover no molhado. Também a insinuar que Deus, eventualmente, pode não querer esse amanhã. Todos os crentes apercebem-se dessa poderosa vontade.

Então, para quê persistir nessa teimosia?

Que, sublinha-se, é inequívoca demonstração de:

Erro! Irracionalidade! Absurdo! Disparate!

Diga-se que também uma pieguice inconcebível numa estação pública de televisão, sem qualquer vínculo a entidade religiosa; como é o caso da RTP – Rádio Televisão Portuguesa.