RENOVANDO UMA PROPOSTA FEITA A 12 DE FEVEREIRO DE 2008...
Terça-feira, Fevereiro 12, 2008
Caros senhores
Através da crónica abaixo inserida
as senhoras e os cavalheiros, leitores deste desaforo, tomam conhecimento que
apresentamos uma proposta de criação de uma associação filantrópica que, eventualmente,
poderá merecer o vosso interesse de participação. É que se estiverem
preocupados com a hipótese de haver em Portugal determinada espécie em vias de
extinção, conforme já foi anunciado por alguns deputados, as pessoas de santa
paz de alma ficam dispondo de uma instituição que, certamente, se vai bater
contra tal inspirado “despropósito” dos deuses justiceiros…
Devemos esclarecer que, amantes da
Natureza e interessados na manutenção das várias espécies, nos limitámos a
conceber a ideia de protecção de alguns específicos elementos naturais que a
integram - embora sem regular préstimo para a nação que somos. Está arredada a
possibilidade de participarmos na fundação ou de, mais tarde, nos associarmos a
semelhante agrupamento de seres excessivamente irmanados…
Com os melhores cumprimentos.
Brasilino Godinho
PROPOSTA DESINTERESSANTE
DE AGRADO GERAL…
Brasilino Godinho
01 - O Palácio de S. Bento é uma referência
nacional. Pela arquitectura. Por ser sede do poder legislativo com a inerente
carga simbólica dele irradiante. Também por ser lugar onde vivem e medram
diversas espécies animais e vegetais. Pelas aplicações funcionais e utilizações
cénicas adstritas às actividades dos ocupantes das magníficas instalações. Por
tudo isto, que é muito a considerar quando se observa, o Palácio tem de ser
apreciado em todos os seus aspectos exteriores patentes à vista desarmada e em
todas as várias facetas e particularidades da fervilhante vida interna da
instituição. Pois então vamos dar uma certa “vista de olhos” pelo Palácio de S.
Bento.
02 - Está generalizada a impressão de no
Palácio de S. Bento, em Lisboa, funcionar uma imprestável assembleia de
cidadãos de primeira escolha, que se reúne, dia após dia, para discutir os
assuntos correntes da administração pública e do quotidiano da sociedade
portuguesa relacionados com os interesses dos cidadãos, num sentido de Bem
Comum. A esse colectivo que goza da boa fama, nos dias que correm, de ser pouco
virtuoso, e avesso à moral, convencionou-se designar por Assembleia da
República. Aos indivíduos dos dois sexos instalados na bela mansão couberam as
denominações de deputados e parlamentares.
Como é do
domínio público os deputados desenvolvem trabalhos estafantes nas comissões.
Nalguns dias reúnem-se em plenário para desacerto generalizado e para um ou
outro residente mais expedito no uso da palavra proferir discurso de circunstância,
para outros se defrontarem em debates bastante controversos e, frequentemente,
se agredirem com extrema violência oral.
Nas datas
festivas em que “o rei faz anos” e noutras especiais circunstâncias de boa
predisposição e referência do calendário legislativo, os senhores e as damas
discutem leis e as aprovam com maior ou menor expressão dos votos favoráveis.
Uma coisa
sobressai no hemiciclo: os parlamentares, talvez por consequência das filiações
em fraternidades desavindas, somente unidas pelo poderosíssimo vínculo
remuneratório e confortável assento na mesa do Orçamento, não se entendem entre
si e apresentam-se sempre com caras de pau, permanentemente desconfiados uns
dos outros. Ali é desconhecido o factor transparência – o que dá azo a frequentes
equívocos com deslocações, ajudas de custo, subsídios de marcha. Por essas
razões conhecidas e aqueloutros estranhos motivos (estes, ignorados pela
malta), os desconsolados e inquietos residentes estão divididos em grupos. Cada
grupo, qual banda filarmónica, toca a música da pauta do cântico preferido,
conforme os sinais da batuta do respectivo maestro. Daí resulta que naquelas
sessões plenárias o espectáculo musical se confunde. Tudo se baralha. Ninguém
se entende. A desafinação é completa. Às vezes, a chinfrineira é infernal.
Além da
vertente musical da Assembleia merecem destaque as representações teatrais e
circenses que nela se efectuam com maior ou menor relevo mediático. É opinião
geral que relativamente ao Teatro confrange a fraca qualidade do reportório
levado à cena. Dos artistas, dir-se-á que nem vale a pena tecer grandes
comentários. Às interpretações faltam arte e brilho. No que concerne ao circo
político nota-se algum apuro, perseverança e certos efeitos decorativos e
folclóricos nas actuações dos trapezistas, dos animadores de cenas e dos
verdadeiros artistas na arte da palhaçada.
Desta
sorte, em S. Bento, reconhecida e exaltada a qualidade de palácio
multicultural.
03 - O Palácio de S. Bento para além de ser
local de intensas actividades relacionadas com certos exibicionismos de
seleccionadas músicas e diversificados coros, de frenéticas demonstrações
ligadas ao circo político, também conserva particularidades invulgares. No seu
jardim coexistem: flores e frutos (rosas de desencanto, laranjas azedas com
pouco sumo, cravos vermelhos murchos, papoilas descoloridas, miosótis de pálido
brilho com origem nos bairros chiques de Lisboa e Cascais, conhecidos como “orelhas
de rato”, “não me esqueças”, “copinhos de leite”, “amigos da onça”) à
mistura com plantas herbáceas como os alhos-porros, os nabos e as nabiças.
Dispersos, numa santa desarmonia, movimentam-se alguns tubarões,
pardais-dos-telhados, pardais-mansos, melros, papagaios desbocados, macacos
atrevidos, cotovias palradoras e raros peixes de águas profundas. Existe a
suspeita de umas tantas sanguessugas se acomodarem escondidas nos selectos
compartimentos do palácio. De vez em quando correm rumores de terem sido
pressentidas as presenças de incómodas ratazanas de sacristia. Da espécie dos seres
racionais é por demais notada a ostensiva actividade dos obreiros sempre
ocupados nas específicas fainas, sem dispensa dos coloridos aventais e
correlativas ferramentas. Igualmente assinalável a participação de angélicas
criaturas dadas à contemplação, aos exercícios espirituais e aos santos deveres
de apostolado, segundo os preceitos da conhecida prelatura de raiz espanhola.
04 - Apesar de os usufrutuários do Palácio
de S. Bento serem pessoas de especial recrutamento e recomendada discrição
socioprofissional nas demonstrações da nobre e mal cotada arte da política à
portuguesa, de quando em quando levantam-se clamores contra os deputados.
Indivíduos sem tento na língua, classificam-nos de preguiçosos, incompetentes,
oportunistas. Que só se preocupam em muito arrecadarem proventos e mordomias.
Assim
atingidos na sua respeitável honorabilidade os parlamentares ficam aborrecidos
e transtornados. Barafustam. Reclamam outro tratamento. Ameaçam.
E quando o
fazem, sem dó, nem piedade, não se ficam por meias medidas. Vão fundo e entram
a matar.
Nessas
ocasiões a malta fica pasmada. Quiçá inquieta. Porventura, aflita com a
perspectiva de se concretizar o mal apontado como iminente.
Que ameaçam
os parlamentares? Que a continuarem os ataques aos deputados qualquer dia
ninguém decente, competente e… repetente, se oferece para ingressar na carreira
de deputado ou manter o assento na Assembleia.
Facilmente,
nessas dramáticas ocasiões, se notam as ondas de terror, de pânico e de
insegurança que perpassam Portugal.
De repente,
os cidadãos começam a deitar contas à vida. Que vai ser de nós? Não podemos
dar-nos ao luxo de perdermos os nossos queridos representantes que possuem o
saber de experiência feita, traduzido na máxima de que a melhor compreensão, a
máxima distribuição, a suficiente benevolência e o maior aproveitamento,
começam por ser, antes de mais, aplicados a eles mesmos. Mais: Como abdicar dos
divertidos espectáculos que eles nos facultam generosamente? Sim! Porque nem só
do pão e do vil metal vivem as pessoas. Na verdade existem o futebol, o fado e
Fátima para nos alentar o ânimo. Mas sem deputados não se concebe a vida na
sociedade portuguesa. Eles são o sal, a pimenta, o petisco, a sobremesa, o
néctar, o rebuçado, o sonho do belo futuro, a bizarrice, a distracção, o
pitoresco, o encanto da vida dos portugueses mais desfavorecidos… Aliás, como
dizem os senhores e as damas residentes no Palácio de S. Bento, muitos têm de
ser os sacrificados. Porém, haja o discernimento de poupar os parlamentares
que, afinal, modestos e constritos, são extremamente simpáticos com a malta…
Simpatia com simpatia se paga. Assim nós, isentos, resignados, indiscretos e um
tudo-nada patéticos, admitimos com alguma ligeireza e anómala disposição.
Igualmente, desgraciosamente, compreendemos as atitudes e os tiques dessa
sacrificada gente palaciana do nosso pessoal desamor…
Bem posta a
questão nestes termos e atendendo que não surgiram indicações para sair do
fastidioso impasse ou, pelo menos, para tentar ultrapassar a crise desperta
pela insólita advertência dos simpáticos e talentosos parlamentares, grandes
obreiros das nossas desventuras em contínua progressão, vimos apresentar uma
proposta que, estamos convencidos, poderá trazer algum alívio às mentes
atormentadas dos residentes do Palácio de S. Bento.
Aqui vai
ela!
05 - Sem demora e com activa participação
das pessoas de melhor vontade e não menor fervor de consideração, respeito e
veneração, seja criada a
APAD – ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE AMIGOS DOS DEPUTADOS.
Os seus
membros voluntariamente assumiriam o compromisso de todos os dias acarinharem,
venerarem e festejarem os deputados. Mais deveriam prestarem-lhes todos os
apoios possíveis e imagináveis, com natural exclusão de um: o apoio moral.
Compreende-se! Não enche barriga. E certamente que haveria bastantes
parlamentares que se sentiriam profundamente ofendidos… nas suas emblemáticas
imoralidades.
De modo que
a partir de agora os “amigos” e “patrocinadores” dos deputados arregacem as
mangas e metam as mãos à obra…
Claro!
Tomem a vosso cargo a penosa, desgastante e ingrata tarefa, porque nós já
estamos a comprometer a reputação pessoal e a dar o suficiente para o
peditório. E mais não cedemos… Chiça!!!
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