Aquilo não foi um casamento.
Sim, parola ostentação de novo-riquismo.
E uma nova modalidade de teatro
português.
Sobretudo, uma descomunal operação de
marketing dos negócios futebolísticos do empresário Jorge Mendes
Brasilino Godinho
Em primeiro lugar há que fazer o
registo: tratou-se da apresentação pública de uma nova modalidade de teatro
caro e luxuoso, em Portugal: o teatro casamenteiro ao estilo de Jorge Mendes.
Uma peça teatral que teve dois cenários:
a Igreja de São João Baptista, na Foz, Porto e os jardins da Casa de Serralves.
Actores principais: marido Jorge Mendes e esposa
Sandra Mendes, Actor secundário: o padre celebrante. Figurantes: os 400
convidados. Ajudantes de cenas: vários indiferenciados operadores de serviço e
os polícias que garantiram a ordem pública.
Uma multidão curiosa foi mantida à
distância e impedida de presenciar in
loco as várias peripécias que se iam sucedendo no desenrolar da peça teatral.
Os jornais e televisões deram informação
de que Jorge Mendes está casado pelo civil há 10 anos e que tem três filhos do
matrimónio.
Naturalmente surge a pergunta: se estava
casado porquê recasar, após tantos anos de vida conjugal e, desta vez pela,
Igreja com exagerado aparato e apresentando-se a esposa trajada com o
tradicional vestido e véu de noiva, como se fosse a primeira vez que dava o nó
nupcial?
Não fora o espavento do espectáculo até
nem seria de muito estranhar, num país católico, que ao fim de dez anos de vida
familiar o casal decidisse formalizar o casamento pela Igreja.
Mas fazê-lo com todo aquele esbanjamento
de celebrações e de custos é que suscita perplexidade e algumas censuras de
âmbito social.
Desde logo, quis-se fazer do casamento
um grande espectáculo mediático de embasbacar as costureirinhas da Sé e os
paspalhões que, passeiam as suas ociosidades na Av. dos Aliados ou que pasmam
sentados nos cafés das cercanias daquela linda área da invicta cidade.
As televisões, sempre ávidas de
sensacionalismos, deram ajuda e foram muito exuberantes nas reportagens. Também
se pretendeu mostrar a extraordinária pujança financeira do designado maior
negociante de jogadores de futebol.
E como cereja colocada em cima do bolo
ornamental esteve presente no evento a nata político/futebolística nacional, em
que se evidenciou, mais uma vez, a promiscuidade entre o futebol e a política
em Portugal.
Os jornais apontaram a participação de
400 convidados; entre os quais alguns personagens pouco recomendáveis ou mal
vistos que se situam mergulhados no pântano em que Portugal está atolado.
Aspecto não despiciendo é o que decorre
da obscenidade de se exibir indecorosamente tantos luxos, tantas vaidades e
tamanha despesa, paredes meias com o estendal de misérias, de privações, de
sofrimentos de tanta gente sem recursos financeiros ou de mínimos meios de
sobrevivência.
Tratou-se de um soberbo, ostensivo, exibicionismo
certamente ofensivo para a atormentada maioria do povo português.
Mas, entenda-se, espalhafato conforme ao
espírito de novo-riquismo de indivíduos que, quase repentinamente, vão
emergindo como milionários, num clima de tremenda austeridade e de profunda
crise financeira. Igualmente, ostentação vã correlativa ao atraso cultural que
empobrece e desprestigia o país e dá azo a este tipo de acontecimentos
aviltantes da sociedade portuguesa.
Sociedade portuguesa que não deveria ser
egoísta, esbanjadora, interesseira, opressiva, nem decadente; mas, sim, harmoniosa,
fraterna, solidária e progressiva – digamos a palavra: civilizada!
Jardim de Serralves – O pavilhão montado
para a segunda parte do espectáculo
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