Leitor,
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SE ACREDITA QUE A INTELIGÊNCIA

SE FIXOU TODINHA EM LISBOA

NAO ENTRE NESTE ESPAÇO...

Motivo: A "QUINTA LUSITANA "

ESTÁ SITUADA NA PROVÍNCIA...

QUEM TE AVISA, TEU AMIGO É...

e cordialmente se subscreve,
Brasilino Godinho

terça-feira, agosto 04, 2015



Aquilo não foi um casamento.
Sim, parola ostentação de novo-riquismo.
E uma nova modalidade de teatro português.
Sobretudo, uma descomunal operação de marketing dos negócios futebolísticos do empresário Jorge Mendes

Brasilino Godinho


Em primeiro lugar há que fazer o registo: tratou-se da apresentação pública de uma nova modalidade de teatro caro e luxuoso, em Portugal: o teatro casamenteiro ao estilo de Jorge Mendes.
Uma peça teatral que teve dois cenários: a Igreja de São João Baptista, na Foz, Porto e os jardins da Casa de Serralves.
Actores principais: marido Jorge Mendes e esposa Sandra Mendes, Actor secundário: o padre celebrante. Figurantes: os 400 convidados. Ajudantes de cenas: vários indiferenciados operadores de serviço e os polícias que garantiram a ordem pública.
Uma multidão curiosa foi mantida à distância e impedida de presenciar in loco as várias peripécias que se iam sucedendo no desenrolar da peça teatral.
Os jornais e televisões deram informação de que Jorge Mendes está casado pelo civil há 10 anos e que tem três filhos do matrimónio.
Naturalmente surge a pergunta: se estava casado porquê recasar, após tantos anos de vida conjugal e, desta vez pela, Igreja com exagerado aparato e apresentando-se a esposa trajada com o tradicional vestido e véu de noiva, como se fosse a primeira vez que dava o nó nupcial?
Não fora o espavento do espectáculo até nem seria de muito estranhar, num país católico, que ao fim de dez anos de vida familiar o casal decidisse formalizar o casamento pela Igreja.
Mas fazê-lo com todo aquele esbanjamento de celebrações e de custos é que suscita perplexidade e algumas censuras de âmbito social.
Desde logo, quis-se fazer do casamento um grande espectáculo mediático de embasbacar as costureirinhas da Sé e os paspalhões que, passeiam as suas ociosidades na Av. dos Aliados ou que pasmam sentados nos cafés das cercanias daquela linda área da invicta cidade.
As televisões, sempre ávidas de sensacionalismos, deram ajuda e foram muito exuberantes nas reportagens. Também se pretendeu mostrar a extraordinária pujança financeira do designado maior negociante de jogadores de futebol.
E como cereja colocada em cima do bolo ornamental esteve presente no evento a nata político/futebolística nacional, em que se evidenciou, mais uma vez, a promiscuidade entre o futebol e a política em Portugal.
Os jornais apontaram a participação de 400 convidados; entre os quais alguns personagens pouco recomendáveis ou mal vistos que se situam mergulhados no pântano em que Portugal está atolado.
Aspecto não despiciendo é o que decorre da obscenidade de se exibir indecorosamente tantos luxos, tantas vaidades e tamanha despesa, paredes meias com o estendal de misérias, de privações, de sofrimentos de tanta gente sem recursos financeiros ou de mínimos meios de sobrevivência.
Tratou-se de um soberbo, ostensivo, exibicionismo certamente ofensivo para a atormentada maioria do povo português.
Mas, entenda-se, espalhafato conforme ao espírito de novo-riquismo de indivíduos que, quase repentinamente, vão emergindo como milionários, num clima de tremenda austeridade e de profunda crise financeira. Igualmente, ostentação vã correlativa ao atraso cultural que empobrece e desprestigia o país e dá azo a este tipo de acontecimentos aviltantes da sociedade portuguesa.
Sociedade portuguesa que não deveria ser egoísta, esbanjadora, interesseira, opressiva, nem decadente; mas, sim, harmoniosa, fraterna, solidária e progressiva – digamos a palavra: civilizada!
Jardim de Serralves – O pavilhão montado para a segunda parte do espectáculo