GRANDE CHEFE
ANÍBAL
COMANDA UMA
EXPEDIÇÃO À CHINA.
PORQUÊ? PARA
QUÊ?
PARA CHINÊS SE
DELICIAR
COM O CAVACO
DO SENHOR SILVA?
No retorno dos expedicionários
há que bem “espremer
o limão”.
De custo elevado, veremos que sumo será extraído?
Brasilino Godinho
A criatura muito venerada
nos enriquecidos domínios do clã que tem uma seta de cor alaranjada no seu
brasão de acutilantes armas e nas suas bem fornecidas bagagens, grande chefe
Aníbal, partiu hoje de Portugal ao comando de uma expedição à China. Uma viagem
incomum que parece ser apreciada na área das singularidades governativas como
uma promissora mudança de ares que, eventualmente, resulte numa parcimoniosa
ligeireza da complexa mente presidencial.
Este corpo de exército de
bem-aventurados é constituído por mais de cem* operacionais que (imagine-se!...)
em si próprios compatibilizam o amadorismo do pessoal exercício turístico com a
rentável especialização decorrente da rotineira partilha dos numerosos roteiros
do turismo oficial. Registe-se: turismo oficial sempre sustentado pelos
indiferenciados contribuintes indígenas.
Também, no contingente
expedicionário, estão incluídos os ajudantes às ordens da excelentíssima
oficialidade. Todos beneficiando da invulgar e facilmente adquirida condição de
compulsivos praticantes do ofício turístico; este, levado a todas as
proveitosas consequências à pala do indígena pagante ao Fisco.
Desta vez, os
expedicionários portugueses, não sendo militares de carreira, nem seguindo as
rotas dos seus antepassados marinheiros por “mares nunca dantes navegados”,
seguem por ares muito navegados e utilizando frotas de aproximação rápida ao
objectivo localizado nos confins da Ásia.
É de prever que todos os
destemidos expedicionários se empenhem com grande energia e a maior pertinácia nas
muito diversificadas e bastante transcendentes operações correlativas aos seus
atributos profissionais e em conformidade com as exigências funcionais da
estratégia delineada pelo comandante-chefe, Aníbal, para o teatro das ditas
acções bélicas.
Também há informação de que
para obterem os ambicionados resultados gloriosos das, certamente,
indesmentíveis façanhas que se vislumbram no horizonte, além continente
asiático, dispõem de uma semana.
Claro, é conveniente
afirma-lo, que serão glórias erguidas a crédito valorativo das capacidades dos invulgares
lutadores envolvidos nas várias contendas previstas no guião oficial da
expedição às cercanias da célebre Muralha
da China.
Sinal dos tempos obscuros
que estamos vivendo é que, em vez do aliciante interesse e gratificante
admiração por um Aníbal, general cartaginês, notável estrategista militar, que
se envolveu em ferozes campanhas guerreiras contra os romanos na península
italiana, temos agora a sensaboria, o desinteresse, a suprema desilusão, o
profundo desagrado e o inapelável desconforto, de depararmos com um Aníbal
português que, disfarçado de modesto senhor Silva, quer ir dar cavaco aos
chineses na convicção que estes estarão interessados na dança do corridinho de
matriz algarvia.
Certamente, por tal
perspectiva de natureza folclórica é que se dá a circunstância de na expedição
estarem incorporadas algumas senhoras da nossa melhor sociedade festivaleira,
com o atraente encargo de emparceirarem nos sucessivos jogos de lazer e nos ocasionais,
embaladores, passos de dança.
Destaque-se tão inspirada
iniciativa de tom e som femininos que até se supõe como sendo atilada, expedita,
divertida e bastante funcional alternativa à ausência do emblemático, emproado,
grande chefe da irrequieta e, ainda por cima, autoconvencida família instalada
em sede palaciana/residencial de S. Bento, le
maitre de plateau du cirque politique de Portugal, credenciado pássaro
bisnau da estirpe dos Psitacídeos (vulgo, papagaios) que acode ao nome de Passos;
por sinal atreito a exibir-se no exercício de obscenas danças e bastante
apreciado no seio da família alaranjada como exímio artista contorcionista de
muitas mágicas estonteantes e de inúmeros malabarismos de ocasião…
Ao que consta, os
expedicionários não levam armas de fogo para serem utilizadas na altura do
posicionamento em terra, logo após o desembarque; o qual, se julga ser feito
sem perturbações da ordem pública. Mas suspeita-se que na trama de negócios que
terá sido congeminada para convencer os chineses, haja sido providenciada a
provisão das pacíficas armas que, entre nós, são normalmente utilizadas nas
acções gastronómicas, tendo em conta que naquelas paragens e para idênticas
funcionalidades, se usam os tradicionais pauzinhos de difícil manejo para os
ocidentais.
Também admitida terá sido a
hipótese de, por baixo ou por cima da mesa das actividades gastronómicas, os tais
mortíferos instrumentos de guerra ‘made
in Portugal’ serem apresentados de forma atractiva aos dirigentes da grande
nação asiática.
Por outro lado, sobressaindo
na expedição um cavaco de rígido formato exterior e de monolítica textura,
dir-se-ia desta que reminiscência do mamífero primata superior - arcaico homo sapiens - a denotar que em Portugal
as achas ainda têm frequentes aplicações no desencadear de grandes fogos e que
as pequenas hastes se usam nos jogos de entretenimento público, é de crer que
tenha sido considerada a possibilidade de, entre as provisões da expedição,
estarem incluídas para além da singular peça cavacal mais algumas varas
indispensáveis para as demonstrações dos jogos do pau que encantarão os
convivas do Celeste Império. Além disso, as varas podem ser de grande utilidade
como instrumentos de repressão mais adequados nas investidas da polícia chinesa
contra amotinados actuando na imensa Praça da Paz Celestial (Tian’anmen).
Aliás, a Amnistia Internacional iria aplaudir o recurso aos cavacos portugueses nos serviços de
manutenção da paz celestial no Império do Centro.
Dai que – e da nossa parte,
para não prolongar mais este texto e sem mais delongas, comentários ou
formulação de conjecturas sobre quais são os verdadeiros objectivos da
expedição cavacal aqui em foco - possamos admitir que a consumar-se a aquisição
das varas por parte dos dirigentes chineses ficaria registado para a posterioridade
o rotundo/untuoso, o espampanante, o espectacular, o fantástico, o
extraordinariamente festejado (no imediato, logo após o regresso à base do
corpo expedicionário) sucesso/alcance da expedição do nosso inconfundível
Aníbal - o algarvio Cavaco Silva – e dos seus caprichosos, dedicados e mui
agradecidos camaradas de armas, denodados participantes de tão aguerridas
acções bélico/turísticas…
Afinal, uma esbanjadora viagem
(com nítidos sinais de natureza turística) muito dispendiosa em termos financeiros,
que vai ser custeada com os dinheiros dos contribuintes. Avantajada despesa que
não se compreende, nem se aceita num tempo de penúria generalizada em Portugal
e de grandes privações (imensas carências do necessário à vida, generalizada
miséria, muita fome) e sofrimentos que afectam milhões de portugueses.
Precisamente tudo aquilo que passa ao lado dos sobreditos, acomodados,
expedicionários à China…
Finalmente:
Esperamos que o Presidente -
que tem uma numerosa corte palaciana de servidores e lacaios - logo após o
regresso, tenha a mínima bondade, a suficiente gentileza, a pequena parcela de
lucidez a brotar do privilegiado cérebro que nunca se engana e raramente tem dúvidas e, ainda, o louvável bom
gosto, de apresentar aos portugueses um circunstanciado relatório dos
resultados práticos desta sua inoportuna e esquisita iniciativa.
Fim
* Referência
transcrita da imprensa diária.
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