Relembrando
um acontecimento insólito…
Decorria o ano de 2006. E numa certa data (neste momento, esquecida), em Aveiro, nas instalações do centro universitário (CUFC), o consagrado jornalista José Carlos Vasconcelos apresentou uma dissertação sobre a informação e a desinformação em Portugal.
Ao tempo, considerando que o acontecimento fora um atrevido e incrível devaneio pessoal do conferente e uma infeliz iniciativa da entidade promotora, escrevemos uma crónica em harmonia com a natureza do tema. Também, focando a experiência do interventor no âmbito da censura praticada em Portugal.
Atendendo ao facto de a situação da Comunicação Social e do sector editorial continuarem a degradar-se e de a censura se exercer de várias e indecentes formas – o que, geralmente, passa despercebido do público - importa manter viva a informação e o conhecimento da sua existência e, até, da identidade dos cidadãos que a praticam sem darem a cara.
Portanto e em comemoração da data do acontecimento de Aveiro, republicamos o nosso trabalho.
Um texto sem tabus…
O ACONTECIMENTO, O JORNALISTA, O EXEMPLO…
Brasilino Godinho
O acontecimento teve lugar há dias numa sala de uma instituição católica (CUFC) do burgo aveirense – melhor dizendo: no campus universitário. Tratou-se de uma sessão promovida por uma tertúlia não identificada que tinha como tema de agenda a audição de uma conferência sobre a informação e desinformação em Portugal. A palestra sapiencial esteve a cargo do jornalista José Carlos Vasconcelos. Atendendo ao local do evento é de crer que este conhecido pregador, de Lisboa, tenha vindo a Aveiro investido numa missão evangelizadora… Em nome de que irmandade religiosa ou afim? Não se sabe! Mistério… Adiante!
Pelo que li, a assistência ficou encantada. Não era para menos, se considerarmos os predicados da doutoral figura e a circunstância de ser o grande progenitor, o grande mentor, o grande impulsionador, das “capelinhas” intelectuais de Lisboa e de outras selectas ambiências citadinas; nas quais, proliferam os inúmeros amigos e confrades que, por decorrentes (e dependentes) dos anelantes impulsos e por abençoada mercê da mãozinha protectora estendida pela simpática criatura, se vão empoleirando no alto poleiro da pré-fabricada, bastante seleccionada, muito estabelecida, acintosamente imposta e firmemente regulada, moderna literatura portuguesa. E assinale-se que tais íntimos companheiros, amigos e irmãos, convenientemente solidários entre si, vão generosamente repartindo as esmagadoras edições, as célebres promoções em Portugal e no estrangeiro, as festejadas reputações e os cobiçados prémios literários. Um fartote de discretas acções e de fantásticos resultados…
Imagino a riqueza da exposição do conferencista José Carlos Vasconcelos e a profundidade com que ele abordou o assunto. O conhecimento da matéria, a facilidade de exposição das ideias e dos conceitos, o relato das evoluções operadas na imprensa escrita, nas rádios e nas televisões, as interpretações dos factos e as análises dos sentidos das orientações políticas e programáticas, a altivez posta nas modulações da voz, nas expressões faciais e nos gestos elegantes, a vivacidade, talvez, até, o tom dramático com que haverá sublinhado as passagens mais impressivas e exaltantes da oração, ter-se-ão conjugado num crescendo que, certamente, terá arrebatado os assistentes ao ponto de os levar ao êxtase. Estou “vendo” a cena. E a observar a assistência rendida ao verbo e à roupagem com que o famoso cavalheiro, embelezou o “discurso” e deu luzimento ao negrume da noite.
Mas onde o Dr. José Carlos Vasconcelos se excedeu a si próprio e a todas as manifestações de talento, de fulgor e de objectividade, ali expendidas, terá sido, atrevo-me a conjecturar, naquele inesquecível momento em que ele, inspirado no desprendimento total do seu ego e num assomo de invulgar afirmação da insuperável seriedade intelectual e da expedita coerência que lhe são publicamente reconhecidas, lembrando-se, repentinamente, que estava em Aveiro - e a título de demonstração inteligente como se faz desinformação e censura - terá explicado à plateia os termos, em que, sob sua responsabilidade como director do JL - Jornal de Letras, Artes e Ideias, foi exercida, no quinzenário que dirige, a censura à obra “A QUINTA LUSITANA – O “ESTADO DE TANGA” E… ALGO DEMAIS!”, da autoria do aveirense Brasilino Godinho. E sem entrar em pormenores – para não entediar os assistentes – o inefável jornalista, José Carlos Vasconcelos, ter-se-á limitado a referir que tendo o autor, Brasilino Godinho, pago dois anúncios sobre a obra, de meia página, no seu jornal, tempos depois lhe foi oferecido, a ele, director, um exemplar do livro e outro ao editor do seu quinzenário (como é procedimento habitual dos autores e editoras) e que, em retribuição de fina expressão educacional, não só (um e outro) não comunicaram a recepção dos livros, como nem, num simples cartão de visita, agradeceram a oferta. E, com ênfase, terá acrescentado que nem numa pequena nota de rodapé de página foi inserida no JL qualquer notícia do lançamento da obra na Sociedade Portuguesa de Autores e na Biblioteca Municipal de Aveiro, ou sobre a existência do citado livro. O que teria acontecido porque o director Vasconcelos e o editor Silva sentenciaram que tal obra deveria ser censurada. Nem disse porquê tal julgamento. Não obstante, convenhamos que seria exigir demasiado ao ilustre orador… Sejamos compreensivos. Se algum dos assistentes insistisse neste ponto poderia ter ocasionado uma situação embaraçosa para o insinuante cavalheiro. Quão confrangedor não seria ouvi-lo repetir: Não me comprometam!… Não me comprometam!… Pois!... Aqui entre nós, até entendemos que a censura praticada pelo director José Carlos Vasconcelos tenha correspondido a hábitos instalados na vida do quinzenário. A qual, censura, teve a ver com o facto daquele jornal de letras o ser - democraticamente falando… - só de certas letras, adornadas e autenticadas com as chancelas de garantia de gentes amigas e fraternas…
Dito isto, suponho que, naquela altura da sintomática revelação, alguns presentes bateram palmas. E então, alguém terá ficado na dúvida: Os cidadãos aplaudiram as acções de censura e deseducação dos jornalistas obsequiados, José Carlos Vasconcelos e Rodrigues da Silva? Ou festejaram a humildade do palestreiro, cidadão José Carlos Vasconcelos ao referir-se às atitudes censórias e deselegantes do jornalista José Carlos Vasconcelos?
Pelos vistos, ficou demonstrado que o conferencista José Carlos Vasconcelos procurou ilustrar com a sua experiência pessoal como se processa a sacrílega censura nos órgãos de comunicação social deste País, dando valioso testemunho de si próprio. Ficou-lhe bem… Aí está uma referência para a história do jornalismo português.
Outrossim, o conferencista José Carlos Vasconcelos quis correlatar a essência da desinformação e a substância da censura que, praticadas à sorrelfa, geralmente, escapam à observação e entendimento do grande público.
Neste ponto, caio em mim. Interrogo-me: Estive conjecturando – e acertei - sobre o reconhecimento da maldade, por parte do respectivo protagonista? Ou as coisas, no decorrer da conferência, não se passaram como acabei de as descrever?
Em qualquer caso, haverá que extrair conclusões da lição facultada pelo portentoso José Carlos Vasconcelos. Precisamente, alguém detentor das seguintes qualificações: conceituado jornalista; distinto director de jornais; indispensável coordenador geral de revistas; insuprível comentador de televisão; enternecedor amigo de José Saramago; entusiástico publicitário da qualidade de “genial” e do poder do “génio” Saramago, prémio Nobel de Literatura; diligente fundador do “O Jornal” (neste caso, desinfeliz, mal sucedido); celebrado escritor; aplaudido poeta e virtuoso pregador.
Igualmente, se deixa à consideração dos leitores o descrito exemplo da censura praticada pelo cidadão José Carlos Vasconcelos, director do JL - Jornal de Letras, Artes e Ideias.
Para esclarecimento do público aqui se evidenciou a existência da Censura em Portugal.
Ela é praticada por muitos que apregoam a liberdade de pensamento e de expressão e o seu apego aos valores democráticos e cívicos e, no entanto, sem pudor, renegam-nos quando no exercício das actividades profissionais.
À atenção dos leitores – A questão da censura, ora suscitada, engloba três componentes: a censura propriamente dita, a presente crónica e a apreciação do livro por parte dos leitores. Das duas primeiras, os leitores ficam cientes. Quanto à terceira, recomendo aos leitores que leiam “A QUINTA LUSITANA”.
A seguir, proponho que se interroguem sobre os seguintes pontos: A obra está mal escrita? A obra é sectária? A obra não é oportuna face à situação que aflige os portugueses? A obra não é imparcial? A obra não trata de assuntos do maior interesse e actualidade? O contexto da obra não está expresso numa linguagem acessível? A obra falseia os dados da história portuguesa desde o 28 de Maio de 1926 até à actualidade? A obra não tem qualquer importância para os portugueses? A obra, se da autoria de um frequentador das “capelinhas” de Lisboa teria sido ignorada, bloqueada, escondida e rejeitada pelo JL, pelos jornais nacionais de Lisboa e pelas televisões? Os portugueses devem ser impedidos de a conhecer? De a ler? De a julgar? Por que razão em algumas livrarias ela foi escondida e negada a sua existência aos clientes que a procuravam? Porquê tanto receio da obra “A QUINTA LUSITANA”? Quem tem medo da obra? Leitores, digam-se a si mesmos, porquê tanto rancor sobre a obra e o autor?
Repito a chamada de atenção aos leitores: Procurem ler “A QUINTA LUSITANA” e depois tirem conclusões sobre as três componentes da questão aqui colocada.
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