Um texto sem tabus…
UM INTRÉPIDO ATENTADO
CONTRA A DESGOVERNAÇÃO…
Brasilino Godinho
http://quintalusitana.blogspot.com
Nos últimos tempos tem corrido de feição o processo da revolução tranquila orientada no sentido de desgovernar as vidas dos portugueses. Não de todos. Mas da maioria.
Os méritos da iniciativa e dos resultados que o desgoverno de Lisboa vai conseguindo e apresentando discretamente, sem grande alarido nos meios de comunicação social, cingindo-se a publicidades feitas até a um nível mínimo indispensável para a conveniente informação dos meios que melhores frutos deles poderão colher e para a distribuição de parcimoniosos conhecimentos a todos quantos estão naturalmente indicados para irem dando contas à existência das suas apagadas e vis tristezas, cabe inteirinho às grandes inteligências instaladas nos palacetes dos diferentes ministérios, nas direcções dos imensos institutos públicos, nas direcções-gerais e nos principais serviços da Administração Pública. Inteligências superiormente orientadas, tuteladas, incentivadas e acarinhadas pelo grande chefe do Executivo – distinto administrador-delegado de um transcendente poder não identificável pelo vulgar cidadão.
Toda essa excelente rapaziada, que se esforça, se remunera, se gratifica, se governa, se contempla nas suas entusiásticas acções, se pavoneia pelas suas ousadas operações, se engrandece pelas suas apropriadas, oportunas, omissões, tem - afinal - prosseguido a ingente tarefa de nos desgovernar alegremente.
Frequentemente, os artistas que citamos deparam-se, embevecidos, com o gáudio nunca regateado pela falange dos acólitos, dos protegidos, dos simpatizantes, dos compadres, das secretárias, dos assessores, dos motoristas, das damas de companhia, dos artistas do circo político e demais aduladores e bestiagas que gravitam nas suas órbitas de estrelas da terrificante comédia do faz-de-conta em curso de representação no Portugal das triste figuras.
Uma comédia que segue um guião congeminado por gente sábia que regularmente se reúne em lojas dos bairros chiques de Lisboa e de outras cidades de Portugal. Indivíduos de boa índole a que associam as práticas de bons costumes que debatem, estudam e decidem as grandes orientações das políticas governamentais. Assim dão inestimável contributo para os sucessos dos inaptos governantes com que nos presentearam…
De modo que tais sucessos são bem evidentes e todos os dias os órgãos de comunicação social nos dão conta de alguns; enquanto outros vêm ao encontro dos indígenas sem estes serem tidos, nem achados. Algo a modos de uma praga que, inopinadamente, surge nos campos de searas e arrasa tudo à sua passagem.
Os indígenas deste país continuam sentindo no corpo e na alma o que representa para as suas atribuladas existências: o aumento do custo de vida; a redução dos seus rendimentos; a alta dos impostos; a perca de vidas nas estradas, nas ambulâncias, nos hospitais; a impossibilidade de acessos aos tratamentos médicos, aos remédios; o incremento do medo, da insegurança, do incentivo à delação; o acréscimo do desemprego; a fome instalada em muitos lares; os encerramentos de hospitais, maternidades e outras unidades de cuidados de saúde; os fechos de escolas; a aniquilação da classe média; o crescimento dos números de indigentes, de esfomeados, de excluídos da sociedade, de analfabetos; o desamor pela Língua; a subserviência relativamente à Espanha; a desmotivação para o combate pelas relevantes causas; a desilusão que se apoderou dos portugueses; a indignação face aos abusos e violências cometidas sobre os cidadãos; o desenfreado egoísmo demonstrado por tantos que, apregoando obrigações de contenção e de sacrifícios, auferem milionários vencimentos, arrecadam chorudas reformas, agregam substanciais mordomias e, pior, acumulam lugares de gestão como quem colecciona selos valiosos. Sofram e definhem os indígenas das classes inferiores. Regalem-se na abastança e no regabofe os grandes exploradores da “Quinta Lusitana”.
Estamos num Portugal de misérias físicas e de grandes imundices morais. Um Estado que não assegura a Justiça repartida por todos os indivíduos em pé de igualdade. Uma Nação subvertida pela corrupção e pela impunidade de muitos delinquentes e criminosos. Um país em que a maioria da população vive mal. Está inconformada. E indignada com o desgoverno nacional.
Aqui, bate o ponto crucial. É que estamos chegando à meta traçada pelos grandes senhores da Quinta Lusitana. Isto é: criarem-se as condições para a instauração de um clima de repulsa, de revolta, de frustração, favorável aos secretos desígnios de entidades obscuras.
Pois é neste enquadramento que há poucos dias aconteceu um atentado contra a desgovernação… Estamos a falar de uma intrépida acção susceptível de afectar a solidez do sistema. No entanto, como convinha à rapaziada fixe que nos atenaza a vida, os jornais, rádios, televisões, pouco noticiaram acerca desse acto perpetrado por um reduzido grupo de cidadãos da região do Porto.
O “atentado” conta-se em poucas palavras. Cinco administradores do Hospital Pedro Hispano decidiram aplicar uma alta verba (se bem nos lembramos: € 200 000) na aquisição de um equipamento moderno para tratamento da epilepsia; doença que atinge mais de 150 000 portugueses. A referida verba estava destinada à aquisição de viaturas automóveis para uso desses administradores.
Ora tal gesto que, em época de respeito pelos valores humanísticos, seria considerado altamente meritório e dignificante, na actualidade e aqui em Portugal, há que considerá-lo - mais que um inoportuno e ameaçador precedente - um inquietante acto de rebeldia, uma censurável acção de bloqueio da estratégia do grande executivo que, pela calada da noite, nos desgoverna, nos agride, nos tenta liquidar recorrendo à aplicação de tratamentos de choque à base da míngua dos recursos de subsistência e da falta dos cuidados essenciais de saúde. Sem esquecermos a sub-reptícia instilação do medo no subconsciente das pessoas.
Precisamente, num tempo em que se avantajam os êxitos da política de terra queimada e do bota-abaixo de tudo o que seja benefício e direito do cidadão anónimo da República, surgem cinco médicos a introduziram uns grãos de areia na engrenagem que tão laboriosamente foi sendo instalada no território nacional por mercê da abnegação e labuta de algumas mentes iluminadas…
Sendo de prever que o desgoverno tema o descrédito do sistema e que lhe pareça conveniente não dar hipótese de os portugueses cotejarem os procedimentos dos cinco médicos com os comportamentos dos aproveitadores que abancam sem cerimónia e sem pudor à mesa do Orçamento, espera-se que, a qualquer momento, o ministro da Doença tome providências para que tais atitudes de desprendimento pessoal (que, na perspectiva oficial, se constituem como maus exemplos) não voltem a repetir-se. Porque “atentados” intoleráveis e sinistros, de mau agoiro… da autoria de médicos que não seguem as grandes orientações da cartilha oficial. Estes cinco administradores demonstraram que não se enquadram nos padrões de qualidade consagrados pelos ministérios da Doença e da Insegurança Social.
Por consequência Sua Excelência, o ministro da Doença, não perca tempo. Tome rápidas providências para debelar o mal que pode tornar-se contagioso. Para obter ganhos de oportunidade e eficiência, abstenha-se da consulta à grande, sapiente, tutela e nem espere que lhe atirem algumas pranchas,,, Actue! A Bem do prolongamento do clima doentio que nos atinge na hora actual… (Repare que até nós, às vezes, como no caso vertente, parecemos estar resignados a aguentar a intempérie… Em todo o caso, não se fie nas aparências…).
Um clima específico do espaço territorial limitado pelos horizontes do Grande Oriente Lusitano. E, também, abrangendo áreas confinantes de potências afins…
Fim
Entrou na “Quinta”.
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a este espaço da paisagem aquém de Lisboa…
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