Um texto sem tabus…
A LIÇÃO DE CONGONHAS…
E A “ESPADA DE DÂMOCLES”, EM LISBOA, APONTADA
À CABEÇA DO INDEFESO CIDADÃO DESCONHECIDO.
Brasilino Godinho
http://quintalusitana.blogspot.com
Congonhas, na cidade de S. Paulo, Brasil.
Fica o nome ligado à tragédia do avião que, descontrolado, falhou a aterragem, atravessou a grande Avenida Presidente Washington Luís e foi desconjuntar-se contra um edifício da companhia TAM, proprietária da aeronave. A registar, dezenas de mortos, centenas de feridos e avultados danos materiais.
O infausto acontecimento veio actualizar a gravidade do problema relacionado com os riscos da existência de aeroportos nos grandes centros urbanos.
A ocorrência do desastre de Congonhas não foi única. Há anos deu-se a queda de um avião “Concorde”, na periferia de Paris – o que provocou as desistências do fabrico de mais unidades e da utilização dos dois existentes. Em Portugal, tivemos o caso Camarate. Outros desastres houveram ao longo dos tempos. Não vale a pena alongar a lista.
O que importa é reter a atenção no problema,
Agora, que em Portugal se debate a construção do novo Aeroporto Internacional de Lisboa, a questão da segurança deve ser considerada prioritária e sobrepor-se a todas as outras considerações; sejam elas de ordem económico-financeira ou de facilidades nos acessos cómodos e na proximidade dos utentes e turistas.
Aliás, um aeroporto no interior de uma cidade é excrescência agressiva do ambiente e do tecido urbano. Geralmente, de difícil articulação com a malha viária. O que dificulta a mobilidade dos transportes visto ele ser gerador de fluxos de trânsito incomportáveis com as infra-estruturas viárias existentes. Forçosamente, a fluidez do tráfego citadino é afectada e os engarrafamentos são constantes. Assim se perdendo a ilusória vantagem de proximidade e de encurtamento dos tempos dos percursos de acesso.
As entidades ligadas a vários sectores de actividade, sobretudo do comércio, turismo e de serviços, só cuidam (a nosso ver mal e precipitadamente, sem base sustentável em critérios objectivos incontestáveis) de acautelar os resultados dos seus rendimentos de exploração e nada se incomodam com os aspectos relacionados com o regular e sereno viver quotidiano das populações residente e flutuante. Em teoria, dir-se-ia ser vantagem, por demais expedita, ter um aeroporto à porta de casa. Principalmente, para certos políticos da praça lisboeta. Há muito que já nos apercebemos disso. Só que as vidas das pessoas que diariamente sofrem os efeitos das poluições sonora e atmosférica e são ameaçadas pela passagem dos aviões sobre as suas cabeças nas avenidas da urbe lisbonense, são mais importantes e merecem ser, como tal, aceites e atendidas na formulação de soluções para a alternativa ao aeroporto da Portela de Sacavém.
Na avaliação do assunto nunca se deverá perder de vista que por muito que esteja evoluída a técnica aeronáutica e apurada a eficiência dos instrumentos de navegação, de manutenção dos aviões e dos meios de controle, de orientação e aproximação à pista, há sempre imprevisíveis factores humanos que, um dia, podem falhar e, num ápice, provocarem uma tragédia de grandes proporções e de incalculáveis efeitos destrutivos.
Um parêntesis para anotar que a medida governamental de obrigar os pilotos a manterem-se em serviço de pilotagem até aos 65 anos de idade não augura nada de bom e constitui mais um factor de perigo a juntar a outros como, por exemplo, os de colisão com aves e que obriga às regulares intervenções de um falcoeiro e seu falcão que, vigilante, afugenta aqueles animais vertebrados do espaço aéreo envolvente das pistas do aeroporto.
Alguém consegue imaginar o que aconteceria em Lisboa, decorrente de um sinistro com um avião de grande envergadura? Vamos conservar na memória as imagens das derrocadas das duas torres gémeas de Nova Iorque, num famigerado 11 de Setembro. Há que antecipar cenários trágicos e prevenir! Será deveras preferível admitir as hipóteses dos sinistros e, racionalmente, cuidar de reunir condições de modo a não os tornar possíveis do que, nalguma ocasião, haver necessidade imperiosa de remediar. Ainda por cima com custos diversos e incalculáveis.
Sejamos lúcidos! Sensatos! Exigentes! Zelosos! Competentes! Sintetizando: cidadãos interventivos e responsáveis!
Infelizmente, pessoas sem apurado sentido de responsabilidade instaladas em posições de grande relevância política, encaram a questão aqui suscitada com displicência, indecente egoísmo e na lógica de a acontecer, nalgum dia, a tragédia, muito azar seria que elas fossem atingidas. Pensam que tais coisas só acontecem aos outros. E enquanto o pau vai e vem folgam as costas… Os indígenas que se lixem! Entredizem: “Não venham, agora, estragarem-nos os arranjinhos que tanto nos satisfazem e dos quais não prescindiremos”. Preto no branco: é, exactamente, nestes sentidos de interpretação do assunto e de exploração do benefício do “venha a nós o vosso reino”, que vemos movimentarem-se os grandes figurões que andam por aí empenhados na manutenção do Aeroporto da Portela.
Aeroporto que se localiza numa pequena área saturada de pistas de aviação que tendem, com a passagem dos anos, a carrearem mais tráfego aéreo. E, portanto, acrescentando mais factores de risco de acidentes com aviões.
Consideramos de interesse nacional aqui deixarmos um solene aviso: No dia em que houver em Lisboa uma tragédia de queda de avião ou explosão sobre o aglomerado, no centro da cidade, devem ser apontados como criminosos todos quantos, “surdos”, “cegos” e insensatos, nestes últimos anos, teimam, manobram, instigam e providenciam, no sentido da manutenção do pesadelo que é a existência do Aeroporto da Portela. Mais: devem ser processados judicialmente e condenados por negligência criminosa. Sem contemplações! Estando incluídos na primeira linha dos maiores responsáveis os políticos e os governantes que derem o aval ao disparate.
Oxalá que jamais haja razão para que este registo seja repescado da memória colectiva…
PS. – Nesta data, chega a notícia da queda de uma ponte sobre o Rio Mississipi, na cidade de Minneapolis, nos Estados Unidos. Traz-nos a lembrança da tragédia de Entre-os-Rios. Lá como cá, são idênticas as causas: deficiências estruturais há muito apuradas e incúria dos governantes. A secretária dos Transportes apressou-se a declarar “Que se a ponte não fosse segura o governador tê-la-ia fechado”. Agora, viu-se quão segura era… Mas, a senhora cumpriu a praxia…
Apesar deste tempo de luto impor alguma contenção verbal não resistimos a ponderar que muito felizes se podem sentir os americanos. Porque nos Estados Unidos as borboletas cumprem as regras de trânsito e não se desmandam contra os tabuleiros das pontes e viadutos como o fazem, tragicamente, as homólogas em Portugal…
Também recomendamos às autoridades americanas que, antes de se precipitarem na responsabilização dos culpados, apareça um ministro na Televisão a dizer que assume todas as responsabilidades. É de bom tom… E sossega os espíritos inquietos… Em seguida, venha gente esperta e desenrascada a Portugal conhecer as refinadas artes de abreviar a longevidade da culpa para que, apropriadamente conforme aos bons costumes, ela morra solteira… Rapidamente! Não dando tempo que algum pateta, desnorteado e sem pinta de vergonha na cara, lhe arranje noivo… Venham aproveitar o saber e experiência dos nossos especialistas na matéria da desresponsabilização. Temos muitos e bons. Como se costuma dizer: de primeira apanha…
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