410. Apontamento
Brasilino Godinho
25/Abril/2020

VIVA O ESPÍRITO DO 25 DE ABRIL!

EM CONTRAPOSIÇÃO A

REVOLUÇÃO TRAÍDA E

À ABERRAÇÃO CÍVICA

01. A “Revolução dos Cravos” inegavelmente constitui um indelével marco na História de Portugal. Certamente não omitido na História configurada no contexto mundial.

Numa exposição sucinta sobre o alcance e significação da revolução abrilada, anote-se que:

- pôs termo a 48 anos de ditadura implacável e opressiva do Estado Novo;

- proporcionava a presunção do advento de um regime democrático de prevalecente usufruto da Liberdade, da Fraternidade e da Igualdade;

- facultava o surgimento de um Poder democrático respeitador das normas insertas na Declaração Universal dos Direitos do Homem;

- consignava o propósito de assegurar melhores condições de vida do povo;

- assumia compromisso de promover o engrandecimento de Portugal.

02. Este era o Programa delineado pelos promotores da Revolução que suscitou aprovação generalizada da população portuguesa, demonstrada por diversificadas formas, contextos e circunstâncias várias. Aliás, aprovação inequivocamente expressada pela enorme afluência às urnas nas primeiras eleições livres efectuadas em 1975.

03. Mas, infelizmente, o programa do 25 de Abril veio a esbater-se e a ser desprezado ao longo de um curto tempo e hoje dele resta apenas uma residual, equívoca, interesseira, evocação feita por gente que, na prática quotidiana, o despreza e o trai acintosamente com descaro e sem quaisquer resquícios de vergonha.

04. Estamos confrontados com um esquema provisional de baixa política que, como se tem visto, facilita todo um desmando na estrutura do Estado, favorece o clientelismo partidário, protege os “Donos Disto Tudo”, coopera com gente e organizações associadas a poderosos interesses obscuros, incentiva a corrupção, abandalha a Justiça, instila sub-repticiamente a censura na Comunicação Social e nos actos correntes da Administração Pública e, paulatinamente, aplica medidas discriminatórias de austeridade e de crescimento da pobreza.

05. Assim definido, em breves traços, o tenebroso quadro que inscreve a desgraça nacional a que conduziu um grupo de indivíduos que se apoderaram da Revolução dos Cravos e dela têm feito escandaloso abuso de aproveitamento pessoal e (ou) de grupo.

Outrossim, agora em Portugal, enquadradas duas pungentes realidades:

- A “Revolução dos Cravos” ter sido revolução acintosamente traída.

- Estar o povo submetido à cínica, nefasta, corrupta, hipócrita, Ditadura da Partidocracia.

06. A comemoração que hoje decorreu no hemiciclo da Assembleia da República foi uma aberração cívica e uma deplorável afronta ao espírito da REVOLUÇÃO.

Por corresponder a um deplorável espectáculo de hipocrisia desempenhado por número avantajado de actores do circo político, com tremendas responsabilidades no prosseguimento de sucessivas traições aos ideais do 25 de Abril.

07. No recanto do meu lar, em tempo de recolhimento e reflexão, acabo de celebrar a efeméride abrilada e de clamar: VIVA O ESPÍRITO DA REVOLUÇÃO DOS CRAVOS.

Claro que, como assíduo praticante da higiene da alma e como escrevi há dias, não abri o aparelho de televisão para não presenciar o desagradável espectáculo da hipocrisia institucional. O que fiz como medida profiláctica tendente a evitar náusea.