UM TEXTO SEM TABUS…
Brasilino Godinho
30 de Setembro de 2020
COINCIDÊNCIAS PROGRAMADAS
DAR UMA NO CRAVO E
OUTRA NA FERRADURA
01. No p.p. dia 26, sábado, o semanário Expresso publicou uma entrevista com o embaixador norte-americano, George Glass, em Lisboa, que logo me “cheirou a esturro”.
Interroguei-me: a que propósito o embaixador é agora entrevistado e logo para fazer ameaças a Portugal e chantagem com o português Regimento de Infantaria Governamental?
Em discurso directo e incisivo, desprovido de espírito diplomático, o embaixador George Glass disse: Agora “Portugal tem de escolher entre os aliados EUA e os chineses”.
Claramente, lançava um ultimato! E cometia um abuso de intervenção na esfera de soberania do Estado português.
Nos dias seguintes, destacados membros do Regimento de Infantaria Governamental e o Comandante Supremo das Forças Armadas e Desarmadas vieram a terreiro e dirigindo-se aos jornalistas, proclamaram: “Em Portugal, mandam os portugueses!”
Quando li esta frase deu-me uma grande vontade de rir. Mas contive-me por que o assunto é demasiado sério. Mas se assim procedi, creio que no estrangeiro muita gente se terá rido.
De imediato, no íntimo, lamentei não me ser facultado o acesso aos jornais, rádios e televisões para lançar um público desafio às entidades que, apressadamente, fizeram tal observação patrioteira, sem nexo à realidade que vivemos no dia-a-dia.
Em primeiro lugar, dizia-lhes que não era verdade que em Portugal mandavam os portugueses. Em segundo lugar, perguntava-lhes quem manda no território português de Olivença, ocupado pelas autoridades da Monarquia de Espanha. Em terceiro lugar, lembrava-lhes que Portugal está submetido à hegemonia da Comunidade Europeia.
Em quarto lugar, mencionaria a total dependência da nação portuguesa e do Regimento de Infantaria Governamental face aos poderosos interesses das grandes multinacionais e à persistente e deletéria preponderância e domínio manifestos na “Quinta Lusitânia” (o país nela transformado e muito transfigurado) pelos “Donos Disto Tudo”.
Em oportuno desafio, convidava-as a desmentirem-me…
02. Hoje veio posta a nu a “oportunidade” da entrevista do embaixador George Glass.
E pela boca do oficial membro do Regimento de Infantaria Governamental, Pedro Nunes Santos, se assinalou que a motivação do embaixador estava centrada na construção do terminal Vasco da Gama, do porto de Sines.
E neste ponto nevrálgico da questão, Pedro Nunes Santos deu-se ao luxo de dar uma no cravo, outra na ferradura. Ou seja, depois de debitar a frase comum de que ”em Portugal mandam os portugueses”, também foi dizendo “nós estamos obviamente muito disponíveis e ansiosos pelo investimento americano em Portugal”. E concluiu: (…) nós estamos de braços abertos para quem quiser investir em Portugal.
Repare-se: como o arregimentado oficial do Regimento de Infantaria Governamental está “ansioso” pelo investimento americano, a ponto de “estar de braços abertos”… (Quem diria, em tempo de pandemia e transgredindo a norma de afastamento social… que enorme afeição!...).
Tal disposição leva o cidadão, eventualmente, distraído, no decorrer da leitura, a perguntar: também de pernas abertas?... Só que o embaixador norte-americano já foi avisando: “não se pode ter os dois” amores e os portugueses “têm de fazer uma escolha agora (…)”.
Concluindo: demasiado evidentes as despudoradas coincidências programadas e, apesar da pandemia da Covid-19, a oficialidade do Regimento de Infantaria Governamental predisposta a, pelo menos, abrir os braços a gente norte-americana.
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